Rasgar o céu e descobrir onde Deus mora,
porque demora
a responder minhas cartas de delírios,
porque não me aquece nesse frio
de abandono e solidão
onde me ajeito neste pouco papelão...
Olho ao redor e vejo mansões
cravejadas de cercas elétricas,
casas com cães com insensíveis corações,
a macieira no jardim,
imponente,
não conhece a força dos meus dentes,
o cheiro que evola e sai pela janela
destampa da minha fome a panela...
Habito o círculo circunscrito
aos que não
verão a Páscoa suculenta,
nem o inverno em Punta Del Leste,
menos ainda a vodka feita no Leste,
nem a torta feita na Ana Maria,
inconteste...
Abro as asas sujas de vida,
chacoalho o magro corpo e seus ossos,
rio meus dentes sobreviventes,
tomo meu pulso,
mal o escuto,
só ouço a carruagem vindo
de nem sei onde
pra me levar pra bem longe daqui,
pra bem longe de onde estou,
pra onde ela quiser ir...
|