Se há amargura em meu coração
não foi de vontade
própria que ali brotou.
O coração amargurou
pelo pouco caso da vida,
pela solidão a que foi confinado
no tempo do espaço desta
Terra amarga, coberta de fel.
Se sou eu?
Já nem sei mais.
Ainda não me descobri.
Sei que até hoje sempre fui
o avesso, o ilógico,
o contornável,
até meio impessoal,
com magia só pela metade,
como uma alucinação,
ilusão do querer,
nem memória tenho mais,
foi apagada, dilacerada
pelo cruel jardineiro,
não sabe ele o mal que fez,
em deixar-me assim à mercê
dos corvos e abutres
que rondam minhas lembranças,
fazem de minha vida informações
para suas casas construírem.
Até já virei mulher internacional,
de além-mar, tem de tudo
neste fim de mundo,
até jornal, informativo,
mensageiro e digo,
penso sim, naquele
que foi o primeiro
a me tocar, me conhecer,
se tem a culpa,
ou se não tem,
não mais importa,
mas sabe e de mim
também faz jornal,
para colar na parede
de sua própria casa,
onde até hoje, de verdade,
mesmo no mundo virtual,
jamais consegui
colocar os pés...
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