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Terceirão
Edu Corrêa

Desde que eu escolhi ser professor (ou talvez o inverso), o sentimento desenfreado por tentar explicar, da melhor forma possível, assuntos que normalmente são detestáveis pela maioria da população, não para de crescer. É como se cada dia, ao meu celular tocar o tema da Motorola às 05:50 da matina, fosse iniciado de forma eletrizante, com corrente elétrica nas veias, pensando em cada etapa que vou seguir. Vou o banheiro pensando na escola; enquanto dou bom dia a todos, inclusive para a mini-gata Cindy, meus pensamentos já se encontram na sala de aula. Durante o preparo do café então, são 15 minutos focados no que irei falar e fazer.

O ano de 2014 foi meu retorno à educação, como professor de Matemática do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, depois de uma temporada no ramo da Química, minha área de formação. Voltei um pouco mais tímido, pois já fazia 5 anos longe da molecada. Alguns já conhecia, pois havia dado aulas no início do Ensino Fundamental II, já a grande maioria eram novas faces que eu teria que acostumar; guardar o nome, então, só depois do diário chegar.

No primeiro dia de aula me deparei com eles. Aquela classe, com pouco mais de 20 alunos, parecia uma grande feira ao ar livre : cada um querendo vender sua ideia. Eu nunca tinha dado aula para um terceiro ano, portanto foi um impacto, pois nos primeiros minutos nem perceberam minha presença. Tantos assuntos para contar após as férias de verão certamente iriam dominar aquele primeiro momento juntos. Aos poucos fui conhecendo um pouco mais sobre cada um deles. A cada aula, a recíproca ia aumentando, apesar dos assuntos não serem tão prazerosos para a maioria. Muitas vezes, percebendo o cansaço mental dos alunos, propunha uma aula diferenciada. Falávamos de tudo um pouco. Deixávamos de lado a relação entre duas retas e abordávamos algum assunto veiculado pela mídia. Os números complexos ficavam menos problemáticos quando algum assunto de Filosofia ou Sociologia, tão bem tratada pelo Prof. Thiago, adentrava a aula de Matemática. Polêmicas eram as preferidas nos debates acalorados, onde nem a análise combinatória era tão questionada.

Foram momentos maravilhosos ao lado deles. A turma do fundão, formada pelo Victor, o Souto, o Luã e o Guilherme (vulgo Gordão, que, apesar do tamanho, era o mais tímido), contando algumas vezes com o Gustavo, o Nicolas e o Victor Jesus, sempre deixavam a classe daquele jeito, com suas histórias (ou estórias) hilárias. Lembro-me do Aaron fazendo suas imitações, principalmente aquelas de colegas de fora da classe, simplesmente fantásticas. As discussões filosóficas (ou não) da turma da frente, Matheus, Natália, July e Gaby, juntamente com as gêmeas Bianca e Beatriz e a Poppi. O André, quando ia, compartilhava assuntos científicos com a turma. A dupla dinâmica, Bárbara e Laís, ou estavam dormindo ou estavam desligadas – a Laís estava sempre com fome, isso me lembro bem. A Victória e a Paloma se encontravam comigo duas vezes no dia, pois, além de minhas alunas no médio, também eram no curso técnico em Química.

A maior característica deles era a união. Mesmo alguns tendo ideias contrárias ou mesmo não se gostando, a tolerância e o respeito reinavam naquela sala de aula. Algumas vezes tinham um “arranca-rabo”, mas tudo se resolvia da melhor maneira possível. Tudo o que faziam dava certo; tudo que faziam era perfeito. O curta-metragem foi o momento mais incrível e que reproduziu aos expectadores, de forma clara, esses sentimentos.

Hoje entro naquela sala, de cadeiras e carteiras verdes, e sinto uma saudade forte de tudo aquilo que vivenciamos juntos. Sinto falta de cada um. Foi um grande aprendizado, certamente, pois me ensinaram que, apesar das dificuldades, é possível chegar lá, que um grupo unido, apesar das adversidades, pode construir uma história de sucesso.

Obrigado, terceirão! Continuem sendo guiados pelo amor.


Beijo do gordo!



Biografia:
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Crônicas Terceirão Edu Corrêa
Crônicas Je suis Aylan Edu Corrêa


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