Abro as asas quando chego em casa,
enroscadas nelas lá estão almas de papelão,
ciscos de juventude,
rabiscos de poetas tristes,
favelas oxigenadas, inteiras,
moças que não lavam louça,
lá estão
os que não conheço,
os meio-irmãos,
lá estão
os poemas incompletos
escritos por aqueles que moram no deserto,
enredados na teia de penas os miseráveis,
os ricos de si,
estão lá os avulsos,
os sulcos
que na pele ficam depois do inferno,
estão lá os mal-vestidos hodiernos,
no canto mais em baixo
lá está, tiritando,
um coração
insano...
|