O arrebol do alvorecer instituia com cânticos melancólicos da trombeta fúnebre, o anúncio do iminente que tinha por sina, um fim que o guiaria a um novo começo. À cima da lápide o anjo emudecido o aguardava, gélido e silencioso. Esperando a chegada do etéreo Anacoreta. Sua lívida face era tão morna, tão fria e doentia, quanto o próprio desejo que lhe era emanente.
Os momentos perduraram efêmeros, e o que resultou de tudo foi apenas um oco de espírito. Até que enfim, a penumbra do céu desestrelado trouxe o toldar e a exacerbante névoa da cláusula que o sufocava a cada suspiro de desassossego. Os lamentos do fracasso o faziam sentir-se contente por alcançar um êxito, e no fundo sabia, que o medo da covardia foi o motivo pela qual vencera a derrota.
O ofídio o envolveu em um bote sufocante de constrição mortal, porém, mordeu sua própria cauda, e transfigurou o descaso em metamorfose do acaso.
A aquisição dinâmica de um confrade impalpável da mente, de uma loucura inata, é o que sustenta sua tenacidade em momentos de desânimo e consternação. Aquele ser inanimado existe e há muito deixou de ser uma criação voluntariamente imaginada, pois mesmo não tendo matéria perceptível, ocupa um grande espaço no mundo perfeito da imperfeição.
Viver num refúgio concentrado é a sua fuga do que real, a realidade é crua e cruelmente dolorosa. O adstringente sabor da ilusão não é pior que o amargor de sua degeneração. Não se trata, no entanto, de evitar o inevitável, e sim de buscar no inconsciente, a cura para encarar a austeridade da realidade idealizada. A busca do bem tão almejado, que encontra-se nos confins de uma finalidade longínqua, contíguas as fronteiras da quimera, é o que lhe leva a singrar pelas violentas ondas do mar revolto. Mas a bússola está quebrada e o tempo é estático. Como reagir quando as lufadas convergem contra a vela do mastro tênue? Alguns lamuriariam orações a um ser eterno da eternidade, mas da existente inexistência, seu olhar absorto observaria sem nada fazer. É aí que o próprio problema, torna-se a solução remediadora do fato. O intenso silêncio da solidão intensa é o que tem o poder de amainar o bulir sincronizado da mixórdia energia da irracionalidade. Sozinho dentro de seu vazio, a fumaça da degradação é, aos poucos expelida. Até que a depuração idealizada fortaleça a matéria orgânica do palpável.
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