Amo...só não sei o quê...
Talvez a escuridão que traz
duas pérolas que brilham, intensas,
como olhos de mundos que nunca vimos,
amo as perguntas que não trazem
à reboque as respostas,
a face neutra do peixe
na escultura do chef,
a posta perfeita para a refeição,
amo o homem de neanderthal,
que diz mais coisas que o guarda
parado no sinal,
talvez a poesia que apanhei no chão da rua,
estava lá, caída, toda nua,
despida de sentidos,
talvez não amasse mais aquele
com que vivia,
fosse só mais um rompante,
um brilhante momento de intensa separação,
como quando se partem as almas
quando conhecem a desilusão
e morrem na via,
estendidas no chão...
Amo?
Acho que sim,
o barulho rumoroso do cetim,
o trançado dos braços
que envolvem
meu corpo,
os cometas que caem do espaço,
as virgens que vejo nos planetas mais distantes,
amo
quando puxo o barbante
e fecho a cortina dos espetáculos
e volto ao ovo do sono
que me acaricia com seus tentáculos...
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