Amor, invenção humana
de quem não tinha o que fazer...
Um barco? Acabaram-se as tábuas...
Um jardim? Estou sementes...
Um lago? Não gosto de prender peixes...
Uma pirâmide? Não acredito em faraós...
Já sei!
Vou inventar algo que as pessoas
não possam tocar,
apenas se tocar a outra pessoa,
o animal, a flor...
Algo que lhes encha de esperança,
que lhes tragam sensações maravilhosas,
acho que não terá efeitos colaterais,
vou chamá-lo Amor...
O que eu fiz? O que eu fiz?!?
A moça estava indo para casa
com suas amigas,
seu ex-marido invadiu sua privacidade,
arrastou-a por quase duas milhas,
fechou a tampa de sua vontade...
Mal o sol saiu ele correu até a casa dela,
bateu, bateu, bateu em sua porta
até que ela abriu,
ajoelhou-se, pediu-a em casamento, ruborizada e bela
aceitou o pedido final,
como num conto de fadas
o paraíso surgiu...
Sim, mande explodir essas bombas
num bar na França,
essas outras na mesquita,
essas tantas no hotéis
de luxo na Indonésia,
decapite esses em nome do amor
que devotamos a Deus,
faremos que todo obedeçam nossas leis,
mudaremos o mundo, o encheremos de sangue
tal uma banheira num hotel barato
de Damasco...
Amor, perigosa invenção humana aprimorada
ao longo dos séculos, depurada, decantada, sombria, cheia de furor,
algo sem o trágico aprisionado em si deveria ter sido inventada,
que fosse o bastante para suavemente
ser chamada de Amor...
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