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IMPOTÊNCIA
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

IMPOTÊNCIA

Quero voar; sem asas, vou ao chão.
A minha persistência é descabida.
Invadirei o reino da ilusão,
Já que a realidade não é vida…

Vinde a mim, fadas, bruxas, tudo o mais
Que povoa os beirais do pensamento!
Convosco alcançarei meus ideais:
Será menor, assim, o meu tormento!

Lá nesse mundo algoz em que eu vivia
Fui muito hostilizado; e já não posso
Encarar, sossegado, noite e dia!
Oh, não me abandoneis! Sou todo vosso!

Safa daqui, resmunga um lobisomem.
Nunca simpatizei com fugitivos.
Não passas dum cobarde, porque és homem.
O teu lugar, velhaco, é entre os vivos!

Amigo, não és nada hospitaleiro;
Balbucio, a tremer, cheio de pavor.
Recusas-me um refúgio derradeiro?!
Pensei que a vida, aqui fosse melhor…

Julgas que neste mundo de quimeras
Não irás encontrar dificuldades?
Há cá diabos, anjos, luz e feras;
Lutas; amor e ódio; até saudades…

Não pode ser, digo eu, desiludido.
Enganaste-me, bola de cristal!
Vim ao reino dos sonhos, convencido
Que tudo aqui seria um festival…

Abandonais-me, por não ser criança?
Adulto, não ouvis os meus apelos?
Será que nem aqui acho mudança?
Naufragarei, num mar de pesadelos?...

As gargalhadas duma feiticeira,
Horripilantes, chegam-me aos ouvidos.
Tento fugir de mim, a vida inteira,
Mas não posso abafar estes gemidos
Fada amiga do Bem, abre-me os braços:
Neles descansarei, tranquilamente!
Cambaleiam, incertos, os meus passos;
Da tua protecção estou tão carente!

O teu sorriso dá-me confiança:
Salva-me deste abismo em que afundei!
Não hesites, e traz-me essa mudança
Que aqui vim procurar e… não achei…

Meu caro: esta varinha de condão
É fraca; porém tem-la ao teu dispor.
Esse problema é grave; e t solução
Não deve estar na fuga ao dissabor…

Impotente sou já para conter
O rumo de egoísmos bem humanos.
Exausta, pouco mais posso fazer:
Esta luta é tão velha, como os anos…

Saberás bem que agora os pequeninos
Não ligam às histórias de encantar;
Já nascem com instintos assassinos:
A sua obediência é o insultar!

Crescendo sem amor, vem a revolta;
E tornam-se, desde logo, marginais.
Bravios, por aí, andam `solta…
Conheces os culpados?! São os pais!...

Regressa, amigo; e tenta defender
O mundo das terríveis explosões:
Se um dia tu e os outros vão morrer,
Porquê derramar sangue, entre as nações?!...

Sim, fada; tens razão: eu vou-me embora!
Não suporto a brutal realidade!
O grande esmaga, enquanto o fraco chora,
Confundindo ficção com igualdade!

Adeus, mundo ilusório não trouxeste
Nada de novo à minha imperfeição!
Nem os sábios conselhos que deste
Minimizaram tanta decepção!...


Biografia:
franciscoquarta@sapo.pt

Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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