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Andre Vesalio entrou para a história como o "Reformador da Anatomia". E também como um "artista, humanista, naturalista". Mas ele foi, sobretudo, um homem do período do Renascimento. Alguém que acreditava que o ser humano fosse a suprema criação de Deus, e não o ser desprezível e impuro pelo pecado, como pregavam os teólogos da Idade Média.
Nascido em Bruxelas em 1514, em uma família de médicos, ele estudou em Lousain (Bélgica) e depois em Paris, com Sylvius e Gunter, dois grandes mestres da época, que seguiam a escola de Galeno (150-200 d.C.). Vesalio tornou-se amigo de Gunter e seu primeiro trabalho acadêmico publicado foi a revisão de "Instituições Anatômicas de Acordo com Galeno" dele.
Em uma época em que era forte a influência da Igreja e esta considerava a dissecação de cadáveres uma profanação, Vesalio valeu-se de todas as formas possíveis para obter material anatômico, comprando cadáveres ou recolhendo ele mesmo corpos de criminosos que ninguém reclamava. Ele mudou-se para Padua, na Itália, e lá se tornou professor na universidade. A cidade, que desde 1405 fazia parte da República de Veneza, era um centro de estudos anatômicos tão importante quanto Bolonha, mas não estava tão sujeita ao controle eclesiástico de Roma quanto esta última.
Vesalio publicou "Tabulas Sex", seis panfletos inspirados nas ideias de Galeno, em 1538. Sua obra mais importante, porém, foi "De Fabrica Corporis Humani", sete livros que tratam, pela ordem, de ossos, músculos, sistema vascular, sistema nervoso, vísceras abdominais, coração e pulmões e, por último, cérebro. Nos livros são citados pela primeira vez os termos anatômicos criados por ele: atlas (coluna cervical), alvéolos, coanas, incus e válvula mitral. "De Fabrica" foi escrito em latim, como era falado, e deve ser lido como uma conferência médica. Segundo o autor Charles Singer, em "Uma breve história da Anatomia e da Fisiologia desde os gregos até Harvey", o livro não é apenas o alicerce da medicina moderna enquanto ciência, mas a primeira grande realização da ciência em tempos modernos.
Vesalio também publicou "Epitome", quase simultaneamente a "De Fabrica", uma síntese de sua obra principal, destinada a quem não era estudante de medicina. Ele era sempre convidado para conferências. O esqueleto que usava nas apresentações foi doado por ele à Universidade da Basileia (Suíça), que o conserva até hoje. É a preparação anatômica mais antiga que existe.
Apesar do reconhecimento acadêmico e de ter se tornado médico particular dos reis da Espanha, Vesalio foi condenado à morte pela Inquisição por ter dissecado um corpo humano. O rei Filipe II conseguiu comutar a pena para uma peregrinação a Jerusalém. Vesalio morreu na volta, em 1564, quando o navio em que viajava naufragou em Zakynthos, na costa da Grécia.
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