A flor de plástico sobre tua mesa
diz, com certeza,
o que temos plantado no jardim,
óvulos do futuro,
sem passado,
sem fim...
A mesa de madeira trabalhada no quintal
diz, com absoluta clareza,
o que temos feito com a floresta,
que hoje empresta
seu corpo
para o almoço,
o jantar,
o desjejum dos querubins...
O homem sentado à volta da mesa
diz, com insana beleza,
que tem construído pontes, edifícios,
alimentado pobres africanos,
quiçá os pedintes que batem à sua porta,
mas que não vê o precipício
que se abre diante de nós,
daqueles que não tem a chave do poder,
que já não cantam, perderam a voz,
e que isso muito pouco importa,
para se construir o futuro
alguns não verão a luz,
se perderão no escuro,
pois a terra alcançará
o esplendor de outros astros,
secos, áridos, tristes, feios,
mortos no espaço...
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