Peça-me tudo,
só para não ser mudo
diante da multidão de uivos
que sobrevoam nossas casas,
uivosos a incendiarem
os sonhos turvos
em tantos lares...
Queira-me quieto mas não tanto,
às vezes preciso rir,
minhas tragédias são pequenas
diante de prantos
que alagam continentes,
do suor salgado
misturado à lágrimas
de tanta gente...
Faça-me esperar,
mas não muito:
preciso cantar...
Canto o que não se canta,
o homem com fome que espera a janta,
a mão estendida sobre a lama endurecida
pelos pés de aço de quem pisa nesta vida
como o senhor dos exércitos da salvação
que não salva nem a si,
menos ainda os que precisam
ser salvos,
os bons de coração...
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