Quantas augustas perguntas
faria ao Rei de Copas
Num tempo em que o vermelho
De sua face segue
Dando ordem para desordens
E que caberia saber por que anda a terra
Sendo habitada por tantas feras
Que rondam as quietas moradas,
Cheias de falsa fome...
Um calhamaço de possíveis atos
Poria sob discussão
Aos pés do Rei de Espadas
Que conhece bem os ofícios do carrasco
E lhe ordena que cumpra as ordens
Que estão escritas
Na constituição desenhada
por mãos tão antigas quanto
O ouro roubado ou a madeira
Que hoje orna
Os aposentos de sua senhora,
A distinta senhora Morte...
Quantas vozes poria eu no canto
ao Reide Paus
que observa o tabuleiro
Onde ainda morrem peões diante de bispos
E cavalos açoitados
Por chicotes que buscam
a nudez do sangue...
Uma leva de questões levaria
Ao Rei de Ouros
E as diria como num jogral
Usando o coro que toda noite
Faz suas preces
Em doces cantos
Levantando suas almas
E as fazendo voar
Diante de estrelas
Que roubam do sol
Para entregar aos homens...
Quantos saltos o homem poderia dar
Sobrevoando a mesa de jogo
Escapando da corte que dá as cartas
e o leva ao perigoso caminho
da subserviência
Fazendo com que entenda
o ato da escravidão
Que o faz agir como um cego
Diante de uma montanha de agulhas
À procura de uma saída
No meio do palheiro...
Ainda que não perceba o jogo continua
E a aposta mais alta está sobre a mesa
Ou seja quem será que continuará
A mandar nos rumos do homem
Esse ser que descobriu a rotação,
A gravidade da loucura,
O perder-se no meio de astros
num campo cósmico
Desenhado e que se move
na velocidade da luz...
|