O poeta público testa
seus conhecimentos linguísticos
pondo-se sob sabatina
sob um sol de quarenta graus
numa qualquer esquina
deste país absurdamente anti heróis:
Cadê Lampião dizimando as patrulhas
e seus macacos e Maria Bonita,
seu poema mais belo desenhado
sobre as secas e brancas páginas
do chão do sertão, cantando sua bela obra,
Muié Rendeira, acendendo as labaredas
do coração?
Cadê Marighella e seus cossacos
fustigando o exército
e seus meninos recitando
seu Rondó da Liberdade, que dizia assim:
"(...)E que eu, por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome"
As pessoas, passam, olham, se vão,
palavras lhes caem das bocas,
rastejam pelo chão,
nascem pés de poesia,
assim como em todos os dias
trêmula a bandeira, de frio ou de medo,
os bons homens foram dormir mais cedo,
apenas os cães da lavra alheia
sob a luz da lua passeiam,
o poeta, cansado de seu descanso,
abre seu coração e tece
o último poema
banhado em pranto...
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