E nós vivemos do que os outros disseram,
sentenças, máximas, ditados oblongos,
dísticos, aforismos, galanteios,
vivemos como barris, cheios
do que nos interessa,
aparentamos pressa
mas não vamos a lugar algum,
tudo são só promessas...
Contente-se com o abrir da garrafa,
o entorpecimento,
contente-se com o saltar sobre o cavalo,
reinar como rei de instantes,
viver às custas do tempo,
alçar a vida como pipa,
esticar o barbante,
veleidades, promessas
de um só momento
chamado vida...
Quando chegares ao topo do passado
passarás a passar a limpo o fardo,
tantas coisas acumuladas, quinquilharias,
tampas, moedas, números rabiscados
e um poema no fundo falso da alma,
escrito à mão, todo amassado,
uma só palavra escrita,
pálida já, sem a antiga cor,
mínima, lúcida, chamada amor...
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