Quando entro na fábrica penso no socialismo,
quando entro no supermercado penso no cinismo
dos publicitários em suas salas, em seus armários,
penso que vendem coisas podres como Stradivarius,
que a vida está nas prateleiras
como nosso rumo na ribanceira...
Quando entro na igreja penso em Deus,
quando entro no presídio penso nos teus
filhos abandonados pelo Estado,
esse pai desavergonhado
que só pensa em fabricar monstros sem latitude:
assim é que se produz corpos para os ataúdes...
Quando entro saio de onde estava,
penso que para ter a alma lavada
preciso mais do que vergonha primal,
preciso conhecer o labirinto abissal
onde penetramos ao som dos alaúdes...
|