Antigamente eu temia a polícia,
fugia como se a malícia
fosse delícia pecaminosa,
fumava um, rodava em carro antigo,
dormia até mais tarde,
guardava diários com estranhas prosas,
cantava na janela
só pra ouvir as labaredas
do fogo que arde
no interior da menina,
ai que vida boa, que sina
essa de ser poeta sem praticar versos,
na vida real vivia imerso
nos fundos da oficina...
Atualmente eu temo não sei o quê,
talvez o bug do próximo milênio,
flutuação da Bolsa, o laquê
nos cabelos do meu amor,
fico meio de soslaio com as invenções,
a tv me mostra a hipnose da dor
que morava nos corações...
Futuramente acenderei o sol
com o interruptor na cabeceira da cama,
aos piscar os ovos virarão omelete,
no computador escreverei um drama
que será a próxima novela das sete,
lembrarei de mim por ter passado
pelo túnel do tempo, todo sintético,
comerei ovas virtuais,
serei conhecido
como
o
Poeta
Anoréxico...
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