Paro no portão de sua casa;
Tento me entender com o cachorro
mas acho que ele não está feliz,
grito pelo seu nome, repito,
só escuto uma voz, aos gritos,
manda o cachorro se calar,
abre a porta bem devagar,
espia, me mede centimetralmente,
e, de repente, dispara:
O que você quer?
Se veio vender, dançou,
se veio cobrar, piorou,
se veio pagar, demorou...
Quase rio da situação,
pigarreio, digo-lhe quem sou,
aquele que escreve poemas nas paredes,
será que uma delas, da tua casa,
não está com sede
de versos claros como olhos de bebê,
tenho alguns aqui, dispersos,
será que poderia ler?
Ela me diz:
Se veio escrever, apago,
se fuma, me dê um cigarro,
se vai manchar o teto, caia fora,
vai começar a novela, não demora...
Como se o deus da criação
fosse um diretor de cinema,
vagarosamente vou em outra direção,
ou, como dizem, saio de cena...
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