O que é novo senão a poesia
que nasce, cresce e morre todo dia,
que ao vivo que a procura, renasce, feliz,
faz chamegos, coça a ponta do nariz?
O que é mais novo do que o pensamento
de quem se senta defronte ao vento
e espalha folhas a capturar versos
que passeiam, livres, pelo universo,
desmedidos, sem as amarras do tempo?
Talvez mais novidade haja
no verso que vai nascer
como a polpa ao pé de jaca
que se faz sem o saber...
Mais novidade talvez haja
no lugar de onde a poesia vem,
em que não deve haver casas
e nem linhas de trem...
Antes do lugar da poesia
deve existir a nascente
que lhe deu forma de melodia
e face sem rosto e dentes...
E antes do antes que antes era
muito antes do que seria um dia,
onde nada havia e nem haveria por eras,
ali, miúda, única flor sincera,
deve ter nascido a poesia...
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