Nem cantando deixo de ouvir o silêncio
que respira como se ao meu coro pertencesse;
entre as línguas das máquinas vive o tempo
a solfejar ruídos como se tecesse
a música que sacoleja o vento,
que balança minh'alma,
que tremula de contento
em doce fúria e calma...
Apanho das celestes árvores sem véu
frutos maduros antes que caiam ao chão,
os ponho entre a língua e o diáfano céu
da boca, vasta é a fome do meu coração...
De forma em corpo e sem o mesmo o espírito,
lanço ao espelho que esconde a ilusão
a seta envenenada para que eu ouça o grito
do silêncio que se arvora dono da solidão...
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