Não preciso de um precipício
para perceber que o santo ofício
de escrever versos não mudará
o contexto das guerras
e nem a composição do ar,
nem fará com que a loucura humana
procure a sana
psicologia da coexistência pacífica,
nem que qualquer poesia
transformará a noite em dia
com um sol holográfico,
majestoso,
prático,
a viver de nossas ansiedades,
nós, humanos demais para sermos,
n'algum dia, divindades...
Não preciso de nenhum manual de como viver
para imediatamente perceber
que o hospício é nossa corriqueira morada,
nem ninguém me fará crer
em outra verdade
que não seja essa, agora,
verdadeiramente revelada,
que tivemos a chance de mudar o mundo
nos mudando, todos, por dentro,
mas esquecemos que ao mudar o profundo
mudamos a superfície do superficial tempo...
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