Escove os cabelos, poesia,
chegará o dia em que o espelho irá mostrar,
em vez de teu rosto sem rosto,
tua face incrustada no ar,
a descer do labirinto acima do céu,
a se deitar sobre o rosto do mar
como aquoso véu,
lida por peixes e arraias,
de teu corpo de sereia múltipla
e de debaixo de sua saia
virão os filhos anunciados,
poemas devastados pelo frio das geleiras,
sem pecados,
a dançarem, enormes, sobre a areia...
Os homens,
esses que tem fome e não enxergam a comida,
saberão, enfim, que onde a poesia reina
há a essência da pluralidade da vida...
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