Ontem ouvi de uma professora de Língua Portuguesa que não havia problema escrevermos da mesma maneira que falamos, pois tudo é uma questão de ideologia. Nesse sentido, dizia ela, podemos escrever sim nas redes sociais das seguintes formas: agente ao invés de a gente (mesmo sem ser profissional da saúde, de trânsito ou do FBI), mim no lugar de me (“mim é nossa origem, por isso não tem problema”), mas e mais (“só questão de ponto de vista, não há problema em serem trocados ao escrever”) etc. Ainda nas palavras dela: “tudo é questão de ideologia-política e com o tempo as pessoas começarão a escrever naturalmente vc, agnt e mim, assim como escrevem hoje você ao invés de vós me ce”. Indubitavelmente, somos suscetíveis de erros de português, pois a nossa língua é realmente muito complexa. Eu erro, eu tenho dúvidas (tal palavra escreve com z, x, s, ss, ç, sc....). Porém, é inadmissível vê erros grotescos serem escritos e acharmos que isso normal. Não sou professora da Língua Portuguesa, mas sou sobretudo EDUCADORA. E como educadora, meu papel é conscientizar meus alunos, amigos, vizinhos, parentes ou os que cruzam meu caminho esporadicamente, devo dizer: independente da norma culta ser ou não uma ideologia das classes dominantes, ela é elegante e, acima de tudo, NÃO DEVEMOS ESCREVER DO MESMO JEITO QUE FALAMOS. Quando eu encontro com alguns compadres falo após o cumprimento: “como tá minha cumandi? e meu afilhado, cumpadi?”. Isso sim é normal, uma vez que é a linguagem que eles conhecem, a linguagem falada. No entanto, se eu fosse escrever usaria as palavras compadre e comadre. Se eu falasse para alguém: “tô com saudade d’ocê”. Isso também é normal, e até poético (me fez lembrar da música “Ai que saudade d’ocê”). Mas (e não mais!) não escreveria minha carta nostálgica dessa maneira. Refleti por um bom tempo a discussão traçada com esta professora de Português e cheguei ao seguinte questionamento: será se um dos fatores que levaram mais de 500 mil candidatos no ENEM zerarem a redação seria, em parte, por causa de profissionais como esta que diz em sala de aula para os próprios alunos “que não há problema escrever errado nas redes sociais, só não pode escrever errado nas provas”. Isso é meio embaraçoso. Ou pode escrever errado ou não pode. Sabemos que há uma língua paralela a coloquial que nos persegue é a norma culta. No entanto, dizer para nossas crianças que esta é ideologia, seria o mesmo que dizer para uma criança de três anos de idade que Papai Noel não existe, ou que a fada do dente também não, isso a frustraria e, no mínimo, esta criança cresceria mais ranzinza e sem imaginação. Não cortem as possibilidades que alguém pode ter. Façam com que seus alunos (vizinhos, amigos ou parentes) tenham esperança de uma vida melhor, mostrem para eles que terão uma chance bem maior na vida se escreverem não como falam, mas como têm que ser. Isso é o papel de um educador, mostrar que as pessoas sempre podem melhorar, mesmo que para isso tenham que se adequar a um padrão ou sistema elegante como o da norma culta da língua portuguesa. Deem sonhos para as pessoas das quais vocês são responsáveis, deem esperança. Não cortem o futuro brilhante que essas pessoas podem ter.
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