O homem, com seus olhos de meia-noite,
volta para a sua casa limpando o suor,
pensando nas crianças que agora estão dormindo,
no cachorro que irá latir quando chegar,
a esposa, gasta mas bonita,
a comida quente depois do banho...
Mas a chuva que já ameaçava dar as caras
aparece e o obriga a se esconder sob a marquise,
o obriga a esperar, seus ossos estão tristes,
encosta-se na parede fria e pensa no seu passado,
quando era menino e tinha sonhos e desejos,
olhava as luzes da cidade, maravilhado,
queria ser alguém importante,
médico, advogado ou então comerciante,
ter sua própria casa cheia de filhos
corados e sem nenhuma doença,
mas, então, de repente,
a chuva chegou e o obrigou a ficar encostado
na janela a olhar o mundo rodar,
bem diante do seu nariz...
Agora pode seguir, ainda que molhado,
um pouco mais apressado, ofegante,
a noite engole os que se perdem,
os sonhos ficaram lá atrás,
onde havia o sol da esperança
e manhãs com vivas promessas...
Abre a porta de casa,
os sonhos foram levados pela chuva
que agora não o incomoda,
não o incomoda mais...
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