Sozinho, o cisco vê o vento a passar
e se pergunta: quando vou voar?
Teme a solidão da pedra,
o riso da hiena,
o mijo do cão,
sonha com planícies e paragens,
sabe que não depende só de si,
de alguém que o leve em sua viagem...
O cisco, na garupa do vento,
cumprimenta o tempo,
acena para a cordilheira,
feliz, ri, gargalha,
já não o atrapalha
o museu das coisas paradas,
nem as casas de confinamento,
os palácios e seus juramentos,
sabe que tudo passa,
nada fica para sempre no mesmo lugar,
nem mesmo o ar
que entra e sai...
Olha o homem e pousa em seu ombro,
caminha devagar aos sacolejos,
sabe que pode vir o voo ou o tombo,
tem que seguir como o homem faz,
sem medo...
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