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C R A V O S - Parte I
EMANNUEL ISAC

Resumo:
A trajetória de um personagem quase despercido, mas que teve um papel crucial na história da humanidade; este é Asher!


                    C R A V O S

     Asher morava no centro de Corazim, cidade judaica famosa pela sua produção de trigo de boa qualidade no tempo da Talmude. Ficava ao norte da Galileia e a poucos quilômetros de Cafarnaum, cidade da costa noroeste do mar da Galileia e Posto Militar Romano. Cafarnaum era o centro de recolhimento de impostos do Império.

     Estava em casa deitado em sua cama, tinha o olhar fixo no teto, mas vazio; as lembranças do tempo em que podia andar fizeram com que duas lágrimas molhassem a sua face. Lembrou-se da festa dos Tabernáculos que se aproximava e de quando descia para o templo em Jerusalém e oferecia holocaustos ao Deus de Abraão.

     Herdou do pai o ofício de carpinteiro, realizando trabalhos nas cidades de Betsaida, Cafarnaum e na própria Corazim. Foi lá que aprendeu com um soldado romano a trabalhar com o ferro e o bronze, mas com o crescimento das casas, embarcações e até mesmo das condenações imposta pelos governadores romanos aos malfeitores de toda a Judéia, acabou por se tornar o principal responsável pela confecção dos cravos que eram usados para a crucificação dos condenados à morte.

     De tanto trabalhar encurvado, certo dia amanheceu com dores nas costas e nas pernas, pensou que seria por causa do cansaço, mas com o tempo, elas se tornaram cada vez piores chegando ao ponto de não poder mais levantar-se da cadeira e por último, da cama.

     Para alguém que tinha o nome com o significado de "abençoado, afortunado ou feliz",   tentava entender a razão daquele infortúnio ter vindo sobre a sua vida. Nunca fizera mal ao seu próximo, sempre estava pronto para ajudar, mesmo correndo o risco de ser preso por fornecer e ceder aos seus amigos para reforço das embarcações, peças de ferro e bronze que eram usados nos materiais bélicos dos romanos, não se importava:

     - Meus amigos, meus irmãos! - dizia ele.

     Seus amigos, Abiel, Elijah, Hanan e Menasseh, ao saberem da sua triste situação, passaram a visitá-lo todas as tardes no final da hora nona. Sabiam do favor que eram devedores a Asher; por causa dele, é que possuíam um barco para sustento de suas famílias:

     - Procuras te confortares na vontade do Senhor! - dizia Menasseh para ele;
     - E a vontade dEle é esta? Torna-me paralítico? - perguntou Asher;
     - O Deus de nossos pais sabe de todas as coisas. - Elijah tentava amenizar o sofrimento do amigo;
     - Não julgo a vontade dEle; só queria uma resposta para o que aconteceu comigo! - completou Asher;
     - As vezes, o Altíssimo nos faz passar pela escola do deserto, para nos ensinar algo maior que ainda não conhecemos! - Abiel completou o raciocínio do próprio Asher;
     - Mas as vezes o aprendizado e a travessia é demorada e sofrida, poucos suportam a sua jornada! - as lágrimas caíram dos olhos de Asher;
     - Mas aqueles que suportam, se alegram com júbilo ao chegar no seu final! - Hanan respondeu sorrindo para o amigo.

     Asher analisava as respostas dos amigos para as suas lamentações. Procurava buscar na memória qual fora o seu pecado contra o Deus de Israel, mas não conseguia encontrar nada de tão grave para aquela punição (que ele achava ter sida imposta pelo próprio Jeová), conforme escrito na Torá.

     Estavam eles a conversar quando Hasya, a esposa de Asher, entrou na casa e começou a falar sobre as notícias trazidas por aqueles que voltavam de Jerusalém. Ela ouvira dizer que um certo Nazareno estava realizando coisas que homem algum jamais conseguiu realizar. Os cinco amigos escultaram atentamente a narrativa da mulher e Menasseh foi o primeiro a falar:

     - Este homem já esteve nas aldeias e províncias aos redores de Cafarnaum.
     - Dizem que habita na própria Cafarnaum. - respondeu Haysa;
     - Agora me recordo..., ouvimos falar nele assim que voltamos do mar! - disse Hanan;
     - Se é verdade tudo o que estão falando, quem sabe ele não possa te curar? - Menaseh olhou para Asher;
     - Como eu chegaria à Jerusalém? São três dias de viagem e as dores me matariam! Quem me levaria?- indagou ele desanimado;
     - Se perdesses um dos teus animais no deserto, não iria tu atrás dele até encontrá-lo? - perguntou-lhe Abiel;
     - Estou inválido em cima de uma cama, não reparastes? - respondeu ele com outra pergunta;
     - A questão não é essa; o que importa nisso tudo é o esforço, a força de vontade e a amizade! Ou achas que se estivesse em condições irias sair ao deserto sozinho? - Asher compreendeu então que ele lhe estava dizendo que eles se esforçariam para o levarem até onde fosse preciso;
     - Estão dizendo que ele passará por Cesaréia e subirá novamente para Cafarnaum! - Hasya entrou na conversa;
     - Se ele está subindo a região, então vamos esperar que ele chegue ao menos em Nazaré. Assim, não teremos tanta dificuldades para levar Asher até ele! - disse Elijah.
     - Sinceramente, eu queria estar com a mesma fé que vejo em seus olhos, mas ainda não acredito que possa levantar-me deste leito novamente. - Asher respondeu com pesar na voz;
     - Se o que andam comentando sobre ele é verdadeiro, não vejo por qual razão não acreditarmos que ele possa te ajudar! - Abiel segurou nas mãos de seus amigos e todos rodearam a cama de Asher, permanecendo em silêncio em respeito ao seu sofrimento...
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     Enquanto isso em Israel, após voltar do deserto da Judéia, a leste de Jerusalém no Monte das Oliveiras, encontrava-se o principal personagem do diálogo que acontecia em Corazim. Do seu alto, ele observava o pináculo do templo a oeste da cidade e visualizava o que iria acontecer dentro de algum tempo com ele próprio. Contemplou as estreitas ruas por onde iria passar carregando o peso do destino de toda a humanidade, seus olhos seguiram em direção ao Gólgota até se fixarem nele; sentiu no próprio corpo o sofrimento da condenação, a humilhação dos açoites e da crucificação que ali estavam reservados para ele. Não sentiu medo, não sentiu ódio daqueles que em breve o matariam pois foi para isso que nasceu. Tudo o que sentiu apenas, foi compaixão!

     Analisava os acontecimentos e as mudanças que os seus sermões haviam provocado no meio do povo e entre aqueles que controlavam a vida nacional; o Sinédrio! Por várias vezes, expôs abertamente os falsos ensinamentos daqueles que deveriam guiar o povo no caminho de Deus, mas colocavam os seus interesses financeiros em primeiro lugar. Foi quando um dos quais ele havia separado, interrompendo seus pensamentos, lhe perguntou:

     - Voltarás para o deserto, Rabí?
     - Não! Antes, precisamos subir para Cafarnaum. - respondeu-lhe sem tirar as vistas do por do sol que desvanecia-se graciosamente para ceder o seu lugar a lua;
     - Cafarnaum? Teremos que cruzar a região dos samaritanos. Pretendes voltar à Nazaré? - o discípulo fez-lhe aquela pergunta, mais por causa da terra dos samaritanos, que pelo fato de há pouco tempo terem sido rejeitados em Nazaré.

     Ele virou-se na direção do discípulo e o olhou com aquele olhar meigo e profundo que só ele podia transmitir. Observou por sobre o ombro deste os outros companheiros recostados nos pés das oliveiras e disse-lhe:

     - Precisamos ir restaurar os cravos que estão preparados para mim, desde o princípio!
     - Do que falas Rabí?
     - Não podeis entender agora, mas quando for chegado o momento, todos vocês compreenderão a razão dos cravos! - completou sua resposta quando os outros discípulos se aproximaram:
     - Vamos subir à Cafarnaum; existe uma obra específica para se realizar...


EMANNUEL ISAC

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