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Sleepyhead
Lucas Oliveira de Lima

Resumo:
Conheça a história de uma Garotinha, que é hostilizada pela população local pelo simples fato de ninguém conhecê-la. Vítima do preconceito por ser diferente dos demais, vive uma vida miserável por causa da ignorância alheia. Mas também pudera, quem nunca virou um animal com medo?

Numa cidade chamada Natividade, existia uma garotinha conhecida apenas como “sleepyhead”. Ninguém sabia de onde ela veio ou quem eram seus pais: “Ela é filha dos Augustinhos, que morreram no acidente da fábrica” uns falavam, “não, ela não é filha de ninguém da cidade, apenas uma andarilha” outros retrucavam. A única certeza que se tinha era que ninguém sabia de nada, na verdade ninguém se importava realmente. Muitas coisas estranhas passaram a acontecer na cidade após a repentina aparição da menininha, muitas pessoas passaram a relatar ter experiências estranhas. Visões, pesadelos, perturbações, doenças. Dormir era a pior parte do dia.
Todos viviam numa expectativa tenebrosa de ter outro sonho com, Ele. As visões geralmente eram assim: Uma cidade completamente devastada, corpos mutilados, carbonizados, fundidos ao ferro de carros, prédios aos pedaços, uma visão do inferno. E sempre aparecia a mesma figura em todos eles, um ser tão negro quanto o céu noturno, com forma de homem, mais ou menos 1,89, com olhos brancos, segurando a mão de uma criança. Não se pode ver direito como a criança é, mas a população rapidamente associa a imagem à única coisa estranha que apareceu nos últimos meses, sleepyhead. Se ao menos o medo tivesse sido escutado...


-22 de março, Natividade, Rio de Janeiro.
Sara Pereira era uma jovem ambiciosa, como muitos sonhava com uma vida bem sucedida e estável. Tudo que ela mais desejava era conseguir sair da cidade. “É uma bela cidade, mas o mundo me espera” ela pensava. De fato ela era um peixe grande numa lagoa pequena. Muito esforçada e dedicada aos estudos, ela se esforçou ao Máximo para conseguir uma bolsa na universidade federal. Seus pais, os Senhores Bruno e Marta Pereira, tinham um extremo orgulho de sua filha. “tiramos a sorte grande, deixamos uma relíquia para o mundo” que ironia.
Sara levava uma vida normal de adolescente, como tem faculdade de segunda a sexta na parte da manhã, é daquelas que reclamam sempre que está com sono e vive com uma preguiça felina monstruosa. “tenho preguiça até de dormir” dizia. Ela tinha um ex-namorado conhecido apenas como Pietro, carinha interessante, metido a conquistador, fazia com que as mulheres derretem-se com seu cabelo preto e barba bem feita, Tinha um jeito parecido com o de John Travolta em “Embalos de Sábado à noite”. Sara nunca teve nenhuma das visões que assombravam a população “vocês tem comido muito antes de dormir, só isso” Dizia. Extremamente cética em relação a qualquer coisa que não se possa ser testada. Essa era uma das coisas que mais a incomodavam sobre o povo da cidade. Como era uma cidade pequena, muitos mitos e histórias povoavam a cultura, alguns tão clichês como o senhor que vira lobisomem, o fantasma do parquinho e essas coisas, muitos ainda acreditavam que quando chovia e tinha sol era casamento de viúva. “Surpreendo-me em como não apareceu uma história sobre seres reptilianos comedores de Cérebro, seqüestradores de crianças e vampiros, acho que estão ficando sem criatividade ou vai ver, todos os habitantes já forma substituídos por Répteis.” Brincava ela com os amigos. No entanto se tinha uma coisa que ela amava era a tranqüilidade do local. A cidade fora fundada ainda na época colonial dando todo um ar histórico as construções o chão de pedra perfeitamente construído como uma escultura no chão, pedras bem alinhadas e do mesmo tamanho, dá até uma leveza pisar nelas descalço, a cidade era cortada pelo rio Carangola e cercada por uma exuberante floresta e montes praticamente intocáveis, que mostravam o quanto a natureza é imponente e poderosa. Ela quando ia até a cachoeira pensava: “A natureza é tão bela e tão preciosa, ela é tão viva e intocada aqui, que tenho certeza que a mãe natureza está rindo de nós”. Depois de Natividade existe outra cidade, menor ainda chamada porciúncula, esse lugar era um verdadeiro mistério, apesar de a cidade ser bastante receptiva a visitantes, um ar de mistério paira sobre o lugar, como se algo tivesse acontecido, como se escondessem algum segredo, Sara sempre achou que era o mesmo clima que pairava sobre natividade quando comentava com os amigos, chegava à conclusão de que era normal de cidade pequena. Ela tinha um estilo de vida bastante saudável, comia muitas frutas, verduras, mas sua fruta favorita era a Uva, mais especificamente uva verde aquelas que não têm caroço. Aproveitando o pedido de sua mãe para ir até o mercado princesa, na esquina do centro da cidade, ela resolveu passar na feira para comprar umas frutas para a sobremesa. Ao passar pela rua da feira, local popular de compra e vendas da cidade, ela viu uma menininha mendigando uma fruta. Ao ver que as pessoas estavam simplesmente ignorando a garotinha, Sara decidiu comprar uma maçã para a pobrezinha.
-Aqui garotinha, pode comer prometo que não está envenenada. – A garotinha a encara com um olhar triste e desconfiado – Não se preocupe, nem todos na cidade são babacas, só a grande maioria.
A pequena aceita a maçã, mas o semblante triste não muda, Sara insiste.
- Eu sei que o pessoal da cidade te chama de sleepyhead (segundo eles é o nome que é chamado nos sonhos), mas eu gostaria de saber seu nome... –A garotinha continua em silêncio, Sara começa a pensar que talvez garotinha fosse muda, ou não saiba falar, afinal ela apareceu do nada na cidade toda suja de mato e lama. – Você ao menos entende o que eu digo? –Sleepy começa a chorar, parece que ela entendeu o que Sara acaba de falar ou esteja emocionada por pelo menos uma vez alguém se mostrar preocupado com ela.
-Sara! Hey Sara! Vem cá, tenho uma coisa para te mostrar- Gritou a melhor amiga dela, Viviane. Ela era uma pessoa extremamente medrosa. Supersticiosa ao extremo acreditava em Horóscopo e essas ciências inexatas, um total paralelo com Sara. Talvez por isso sejam melhores amigas até hoje ou “por falta de alguém melhor” como dizia Viviane. – Vivi, espera! Estou conversando com a... –Sleepy já estava correndo de lá, com medo das pessoas, o clima ali estava muito pesado para cima dela, como se as pessoas fossem atacá-la com forcados e tochas a qualquer segundo. Ela devia estar muito desesperada por comida de fato. Sara se aproxima de Viviane com um sorriso carinhoso como sempre. –Oi Vivi, que houve? Por que me chamou assim?
- Você sabe muito bem Sah, Estava falando com a Sleepyhead, essa garota é coisa ruim. –Disse com um olhar de seriedade como se tivesse falando de um serial Killer. –Coisa ruim? Por Deus Viviane, é só uma garotinha sozinha e assustada, ela é odiada por todos, escorraçada até das igrejas, como se fosse um cachorro. Vai me dizer que ela garota vai virar um demônio tridimensional que vai explodir o planeta? Ainda bem que temos o superman para nos salvar não acha? – Disse com muita ironia.
- Sah, você não viu o que eu vi.
-O que? Um sonho? Desculpa se não tenho imaginação para fantasiar essas coisas.
-Não... Eu estava caminhando na rua, era 1 da manhã, ninguém mais estava na rua, eu vi dois homens completamente encobertos por um manto preto com capuz, quase invisíveis na escuridão, eu me escondi. Quando eles passaram por onde eu estava ouvi claramente a conversa deles. “Então, estamos prontos para começar?”
“sim, Sleepyhead necessita desses sacrifícios agora”
“vou chamar os outros, começaremos quando?”
A partir daí não consegui ouvir mais nada, eles se afastaram. Sabe o que isso significa?
-Sei que vão construir uma estátua para a garota mais odiada da cidade, ou melhor, vão matar 10 virgens para que a sleepyhead possa tomar banho nele e assim crescer e virar a deusa dos vampiros! O que eu duvido muito, não com o Pietro nessa cidade – Sara não se agüentou e riu. Viviane contrariada deu aquele olhar de desaprovação.
-Pode rir a vontade Sah, mas que tem coisa ruim acontecendo, isso tem.
-Se você diz, ah e falando do demônio... – Em sua motocicleta surge Pietro, ex-namorado de Sara. Eles se conheciam desde a pré escola, começaram a namorar na 8° série, mesmo ela sabendo de toda fama de safado, pegador, tarado, galinha, 17, cafajeste, canalha, bad boy. Ela estava naquela fase de “Eu posso o fazer mudar, acredito que ele será alguém melhor.” Com certeza uma fase que reserva as maiores das frustrações para as meninas, Sara aprendeu da pior maneira que ninguém muda por amor, que não se pode “consertar” ninguém, as pessoas são o que são nunca mudam, a única coisa que muda é a máscara que usam. Ele se aproximava dela em sua motocicleta, usando sua jaqueta de couro bege e calça jeans rasgada, se achando o maior galã do mundo. Só para ser anotado, ele usava essa roupa todo santo dia, que sua mente imagine o que quiser. Ao se aproximar ele disse.
-Sara! Quero falar com você?
-Sobre?
-Nós. Olha quero pedir desculpas, tentar mais uma vez. - Pietro havia traído Sara Inúmeras vezes, mas ela nunca conseguiu descobrir nada. Pietro conheceu Priscila –Prima de Sara- Num almoço em família em comemoração ao natal, Priscila era extremamente bonita tinha cabelos pretos e longos, olhos cor de avelã e uma pele branca como leite, nem parecia que morava em Cabo Frio. Tinha um rosto bem desenhado e até já havia sido chamada para fazer testes fotográficos para se tornar modelo, com todos esses atributos o predador Pietro ficou louco por ela. Quando Priscila passeava pela cidade, Pietro se aproximou dela e começou a conversar com Ela. Na maior cara-de-pau disse que era apenas um amigo de infância da Sara, Priscila acreditou, pois Sara nem mencionava ter um namorado, jogando seu charme sobre a moça Pietro conseguiu convencer ela a ir para a cachoeira com ele, dizendo que havia chamado a Sara já. Ao voltar para casa Priscila comentou sobre o amigo de Sara que ela havia conhecido, Sara chorou ao falar que na verdade era o namorado dela. Priscila enfurecida por ele estar traindo Sara, aconselhou ela a não fugir mais e enfrentá-lo de uma vez por todas. Ambas foram até a cachoeira, Pietro surpreso e sem graça ficou sem reação. Priscila disse
“Muito bacana em, disse para mim que era amigo de infância da minha prima. Bom, acho que deve explicar para ela agora porque um dos dois não está entendo qual relação vocês têm”. Sara estava muda e não conseguia encarar Pietro, suas únicas palavras foram: “Me traiu com metade da cidade, beleza. Agora iria me trair com minha própria prima que você sabe muito bem que é como minha irmã. Você não merece nem ser nomeado. Adeus.” Desde esse momento Sara cresceu e amadureceu muito tempo. Sabe como é, precisamos cair para aprender a levantar, limpar a poeira do joelho e transformar a dor em força para evoluir. Enquanto Pietro Falava e mendigava uma... vigésima quinta chance, Sara o cortou.
-Hahahaha, okay, mande sua requisição de namoro para o meu e-mail com o de acordo dessas três pessoas Buda, Batman e os caça-fantasmas, eles vão analisar seu pedido. – disse já se retirando do recinto, menina forte e decidida, nem sei como alguém teria coragem de mexer com ela agora. Sara é uma representação quase assustadora da “girl Power”. Ao retornar para casa, Sara não parava de pensar na pequena Sleepy: “Qual será a história dessa menina?”, ela até mesmo imaginou se a mãe deixaria a criança ficar com ela um tempo, com certeza a mãe deixaria se não fosse pelo fato dela também odiar a garota. Mas não importava agora, o sono já a aflige e ela é daquelas que vira uma pedra quando deita na cama.

-Enquanto isso do outro lado da cidade-
Caíque era um menino muito especial para seu avô, era a única família que lhe restara. Após um terrível acidente de carro na serra, seus pais, irmã e tia faleceram, eles estavam indo para o funeral de um amigo muito querido do casal que tinha acabado de falecer, tragédia atrás de tragédia na família. Por Sorte, destino ou intervenção Divina, Caíque tinha ficado em casa, pois se sentiu muito mal, e seu avô prometeu cuidar dele. Diferente de Sara, Caíque tem sonhado com a sleepyhead, mas ele tem um sonho diferente dos demais, Depois do sonho normal com tudo destruído, Caíque sonha com pastos verdes, vida animal prospera, como se a terra tivesse sido recém criada, ele vê uma criança brincando em volta de uma arvore. A beleza e a pureza do local chama a atenção, um daqueles sonhos que você não quer acordar. Ele tem vergonha de contar esses sonhos, afinal para ele não passa de uma histeria coletiva. Caíque era um sujeito simples, como vivia perto da floresta, tinha um envolvimento maior com a natureza do que com a civilização, não se preocupava com nada “Vivendo um dia de cada vez” dizia. Seu avô, o Senhor José Augusto, era o ser mais alegre que você possa conhecer na sua vida, como sempre viveu em Natividade se tornou uma figura muito querida pela população, Senhor José era a história viva de lá. Caíque era extremamente habilidoso com ferramentas manuais, tinha muita criatividade, construía mini barcos para suas bolinhas de gude, casa para passarinho, cachorro, até que passou a viver da construção de estábulos e casas. Ele tinha o dom para engenharia, tanto que fazia os cálculos para construir qualquer coisa sozinho, o único contato que teve com engenharia foi na escola com um livro básico sobre o tema. Muitos o questionavam se ele faria Faculdade de engenharia, com certeza era o sonho dele. Mas a família vinha em primeiro lugar, ele preferiu viver ao lado de seu avô até o último suspiro dele. Zé – Como era conhecido na cidade- Resolveu sair com seu neto para pescar.
-Vamos comer muito hoje meu filho, chame seus amigos, afinal, é seu aniversário!- Seu Zé realmente se parecia com o Senhor Miyagi, não pela aparência, mas pelo jeito de ensinar e sabedoria. –Hoje o senhor vai me ensinar karatê?- Brincou Caíque. Se aproximando da área mais profunda do rio, seu avô disse.
- Vamos Voltar aqui na madrugada, os peixes só vão aparecer por essa hora mais calma e escura, parece que o escuro os deixam mais tranqüilos, não é o que diz o ditado? “O que os olhos não vêem vai parar no meu estômago!” hahaha- Brincou. Senhor miyagi, quer dizer, Seu Zé era o mestre da pescaria, mas também se você faz a mesma coisa a mais de 52 anos todos os dias, aprende uma coisa ou outra nem que seja na marra. Voltando para a cidade Caíque foi comprar uns anzóis novos, ao passar pela rua da feira um carinha qualquer passou com uma motocicleta a mil por hora, como se alguém tivesse cuspido limão na cara dele. “Esse cara vai fazer besteira” pensou, mas ignorou. No caminho de Volta para casa ele viu sentada na sombra ao lado a menininha que tanto era odiada, ele a ouviu chorando, comovido por ela ser só uma menina tentou se aproximar, mas ela foi expulsa a vassouradas por uma beata da igreja ao lado do muro dizendo.
- Saia daqui criança, vai assustar os gatos e os cachorros. Vai para onde você saiu. – Caíque pensou em defender a menina, mas com medo da reação da senhora se omitiu “Não tem nada que eu possa fazer mesmo, vou apenas humilhar mais a criança” pensou. Sleepy enquanto corria machucada e em prantos olhou para Caíque com um olhar de “Por que você não me ajuda?”. Chegando em casa ele não suportou lembrar da menina e chorou, sentindo nojo de si mesmo, quando seu avô viu ele chorando perguntou:
-O que te chateia meu filho?
-Eu vi uma garotinha de rua sendo expulsa a vassouradas do muro da igreja, e não tive coragem de fazer nada, simplesmente fiquei parado assistindo aquela humilhação. – disse enxugando as lágrimas. Seu Zé disse:
- Não se martirize hoje você errou, mas só por estar arrependido já mostra que você aprendeu, agora tome isso como um motivo para daqui para frente ajudar a todos que você puder, sem fazer diferença de quem. Porque se você pode ajudar alguém, você tem a Obrigação moral de fazê-lo, independente de quem seja essa pessoa. Agora vá dormir vamos sair às 2 horas. –Encerrou com um belo abraço de consolo. Como prometido, eles foram para a parte mais funda do lago, no relógio já marcava 2 e 15 da manhã, a floresta completamente indistinguível, tudo que se enxergava era um breu, não dava para ver nada além de 2 metros.
-Bom, se um peixe gigante passar por debaixo da gente, pelo menos não veremos. –brincou seu Zé. Passados 30 minutos, Caíque já estava quase pegando no sono, mas de repente seu Zé apaga a lanterna do barco e manda Caíque se abaixar e ficar quieto, confuso ele questiona:
-Por que vô?
-Na margem do rio, eu vi tochas e silhuetas passando, significa que temos bandidos na floresta e um grupo médio. –disse se escondendo também, dava para ouvir que eles procuravam algo, cantavam uma música como se fosse uma música cerimonial macabra, de repente um silêncio mórbido que incomoda os ouvidos, parecia que a natureza havia se calado. Sem barulho de Grilo, gafanhoto, morcego, vento, nada. Como se a natureza tivesse parado para assistir algo.

Continua


Biografia:
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