Querido George,
Eu gostaria que estivesse aqui. Às vezes tenho a impressão de que você se ausentou temporariamente e que em breve retornará e me trará uma daquelas belas fitas coloridas para enfeitar meus vestidos; uma pequena lembrança de sua viagem em temporada de caça com o duque ou com o marquês. E então me abraçará carinhosamente e me contará sobre suas pequenas aventuras, ou sobre algum belo rapaz que conheceu e por quem se apaixonou por uma única noite.
Gostaria tanto que não passasse de uma mera ilusão...
Meu querido, você não imagina a falta que me faz. Tenho consciência do quanto é ridículo escrever-lhe cartas que jamais poderá ler, mas gosto de pensar que seu espírito inconformado virá fazer-me visitas vez ou outra e matar a saudade de tudo que você deixou — e do que eu lhe deixei — para trás.
Tudo continua no mesmo lugar onde estava antes de você partir. Não tive coragem de alterar nada com receio de que os objetos perdessem a lembrança de seu último toque ou que o seu cheiro desaparecesse de suas roupas.
Já faz uma semana que você se foi... Em alguns momentos o tempo pareceu voar, em outros, se arrastar. Ainda me vejo aos prantos, descabelando-me, implorando para que resistisse. Quanta decadência...
Penso estar quase conformada agora. No entanto, é difícil caminhar pela casa e sufocar no silêncio de não te encontrar lendo o jornal e fumando seu cachimbo nas manhãs de sábado. No fundo, acredito estar voltando à fase da negação.
Às vezes é difícil compreender que a morte de quem amamos é algo sem volta. É difícil suportar a perda e a sensação de abandono. Só tenho 26 anos e sou viúva. Viúva. Essa palavra é tão pesada... Nunca pensei que algum dia iria pronunciá-la. Parece enraizar em mim um luto perene, impossível de escapar, mesmo que eu encontre outra pessoa; a viúva que eu fui sempre irá me assombrar.
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