Por Jonathan Edwards
1. As convicções que os homens naturais podem ter acerca do seu pecado e miséria não é esta luz espiritual e divina. Os homens em condição natural podem ter convicções da culpa que está sobre eles, da ira de Deus e do perigo da vingança divina. Tais convicções são provenientes da luz da verdade. O fato de alguns pecadores terem uma maior convicção da culpa e miséria que outros é porque alguns têm mais luz ou compreensão da verdade que outros. Esta luz e convicção podem ser do Espírito de Deus. O Espírito convence os homens do pecado, mas, não obstante, a natureza está muito mais envolvida nesse processo do que na comunicação da luz espiritual e divina que são mencionadas na doutrina. Somente através do Espírito de Deus como princípio natural auxiliar, e não como novo princípio inspirador. A graça comum difere da especial no ponto em que influencia só pela ajuda da natureza, e não pela doação da graça ou concessão de qualquer coisa acima da natureza. A luz que é obtida é completamente natural, ou de nenhum tipo superior a que a mera natureza atinge, por mais que esse modo seja ou seria obtido se os homens permanecessem completamente sozinhos; ou, em outras palavras, a graça comum só ajuda as faculdades da alma a fazer isso mais completamente do que fazem por natureza, assim como pela mera natureza a consciência ou a razão natural tornará o homem sensível da culpa, e o acusará e o condenará quando ele se desviar. A consciência é um princípio natural para os homens. O trabalho que o faz naturalmente ou por si mesmo é dar uma compreensão do certo e do errado, e sugerir à mente a relação em que há entre o certo e o errado e o castigo. O Espírito de Deus, nessas convicções que os homens não-regenerados às vezes têm, ajudam a consciência a fazer esta obra em maior medida do se a fizessem sós. Ele ajuda a consciência contra as coisas que tendem a entorpecer e obstruir seu exercício. Mas na obra renovadora e santificadora do Espírito Santo, essas coisas são feitas na alma que está acima da natureza, e na qual não há nada por natureza do tipo igual. Essas coisas são compelidas a existir habitualmente na alma, e de acordo com tal constituição ou lei declarada que põe tal fundamento para o exercício em um curso continuado como é chamado de princípio de natureza. Não só os princípios permanentes são ajudados a fazer o seu trabalho de forma mais livre e completa, mas os princípios que foram totalmente destruídos pela queda são restabelecidos. A partir daí, a mente manifesta habitualmente esses atos que o domínio do pecado a tinha tornado tão completamente desprovida quanto um corpo morto o é de atos vitais.
O Espírito de Deus age em alguns casos de maneira muito diferente de como age em outros. Ele pode agir na mente do homem natural, mas age na mente do santo como princípio vital residente. Ele age na mente dos indivíduos não-regenerados como agente ocasional extrínseco, pois agindo neles, não se une a eles. Não obstante todas as influências divinas que eles possuam, ainda são sensuais "e não têm o Espírito" (Jd 19). Mas Ele se une com a mente de um santo, toma-o por seu templo, atua nele e o influência como novo princípio sobrenatural de vida e ação. Há esta diferença, de que o Espírito de Deus, agindo na alma do homem piedoso, manifesta-se e comunica-se na sua natureza formal. A santidade é a natureza formal do Espírito de Deus. O Espírito Santo opera na mente do santo, unindo-se a ele, vivendo nele, manifestando sua natureza no exercício de suas faculdades. O Espírito de Deus pode agir numa criatura, e, contudo, não se comunicar agindo. O Espírito de Deus pode agir nas criaturas inanimadas como "o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas" no princípio da criação. Assim, o Espírito de Deus pode agir na mente dos homens de muitas maneiras e se comunicar não mais do que quando Ele age em uma criatura inanimada. Por exemplo, Ele pode instigar-lhes pensamentos, ajudar a razão e o entendimento natural, ou auxiliar outros princípios naturais — e isto sem qualquer união com a alma —, mas pode agir, por assim dizer, em um objeto externo. Mas assim como Ele age em suas influências santas e operações espirituais, Ele age de certo modo a comunicar-se peculiarmente, de forma que, por isso, o assunto é denominado espiritual.
2.Esta luz espiritual e divina não consiste em impressão feita na imaginação. Não é impressão na mente, como se a pessoa visse algo com os olhos físicos. Não é imaginação ou idéia de uma luz ou glória externa, ou beleza de forma ou semblante, ou lustre ou brilho visível de um objeto. A imaginação pode ser fortemente impressionada por tais coisas, mas esta não é a luz espiritual. Na realidade, quando a mente faz uma descoberta vivida de coisas espirituais e é muito afetada pelo poder da luz divina, pode-se, e muito provável e comum, afetar em demasia a imaginação, de forma que a impressão de uma beleza ou brilho externo pode acompanhar essas descobertas espirituais. Mas a luz espiritual não é essa impressão na imaginação, mas algo sumamente diferente. Os homens naturais podem ter impressões vividas em sua imaginação, e não podemos determinar a não ser que o Diabo, que se transforma em anjo de luz, possa causar imaginações de uma beleza exterior ou glória visível, de sons e falas e outras coisas semelhantes. Mas estas coisas são de natureza imensamente inferior à luz espiritual.
Esta luz espiritual não é sugestão de novas verdades ou proposições não contidas na palavra de Deus. Esta sugestão de novas verdades ou doutrinas à mente, independente de revelação antecedente a tais proposições, quer em palavra quer escrita, é inspiração, como os profetas e apóstolos tiveram e como alguns entusiastas simulam. Mas esta luz espiritual de que estou falando é algo bem diferente de inspiração. Não revela nova doutrina, não sugere nova proposição à mente, não ensina nova coisa de Deus ou de Cristo ou de outro mundo não ensinado na Bíblia, mas apenas dá a devida compreensão das coisas que são ensinadas na Palavra de Deus.
4. Não é toda visão tocante que os homens têm das coisas religiosas que são desta luz espiritual e divina. Os homens por mero princípio da natureza são capazes de serem afetados por coisas que tenham relação especial com a religião como também com outras coisas. O indivíduo pode por mera natureza, por exemplo, estar sujeito a ficar impressionado com a história de Jesus Cristo e os sofrimentos que Ele suportou, como também como por qualquer outra história trágica. Ele pode ser o mais afetado com isto, através do interesse que ele imagina fazendo isto. Ele pode ficar impressionado com a história sem acreditar nela, da mesma forma que fica impressionado com o que lê num romance ou vê representado num palco de teatro. Ele pode ficar impressionado com uma descrição vivida e eloqüente de muitas coisas agradáveis das que tratam do estado dos bem-aventurados no céu, como também sua imaginação ser entretida por uma descrição romântica da doçura do país das fadas ou coisa parecida. Uma convicção comum da verdade de tais coisas, proveniente da educação ou outra coisa, podem ajudar a promover o afeto. Ficamos sabendo pela Escritura de muitos que ficaram grandemente impressionados com as coisas de natureza religiosa e, não obstante, são representados como indivíduos totalmente destituídos de graça e muitos deles homens muitos maus. A pessoa pode ter visões impressionantes das coisas religiosas e, não obstante, estar muito destituída de luz espiritual. Carne e sangue podem ser o autor dessa impressão. Um homem pode dar a outro uma visão impressionante das coisas divinas com ajuda senão comum, mas só Deus pode dar uma revelação espiritual dessas coisas.
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