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Paz em meio a perigos incontáveis
Calvino

Por João Calvino

A certeza do Providência divina nos sustenta ante os perigos múltiplos que nos ameaçam.

Neste aspecto, porém, destaca-se a felicidade incalculável da mente piedosa. Incontáveis são os males que cercam a vida humana, males que outras tantas mortes ameaçam. Para que não saiamos fora de nós mesmos, visto que o corpo é receptáculo de mil enfermidades e na verdade dentro de si contém inclusas, e fomente as causas das doenças, o homem não pode a si próprio mover sem que leve consigo muitas formas de sua própria destruição, e de certo modo a vida se arraste entrelaçada com a morte.
Que outra coisa, pois, podemos dizer, quando nem nos esfriamos, nem suamos, sem perigo? Ora, para onde quer que nos volvamos, todas as coisas que estão ao derredor não só não se mostram dignas de confiança, mas até se afiguram abertamente ameaçadoras e parecem intentar morte inevitável. Se embarcamos em um navio, um passo estamos da morte. Se montamos um cavalo, no tropeçar de uma pata nossa vida periclita. Se andamos pelas ruas de uma cidade, quantas são as telhas nos telhados, tantos são os perigos a que nos expomos. Se um instrumento cortante está em nossa mão, ou na mão de um amigo, é evidente o risco que corremos.
A quantos animais ferozes vemos, armados estão para nossa destruição. Ou se procuramos fechar bem o jardim cercado, onde nada senão amenidade se mostre, aí não raro esconderemos uma serpente. Tua casa, sujeita a incêndio constante, ameaça de pobreza durante o dia, até mesmo sufocação durante a noite. Tua terra de plantio, como está exposta ao granizo, à geada, à seca e a outros flagelos, esterilidade te anuncia e, como resultado, a fome. Deixo de mencionar envenenamentos, emboscadas, assaltos, violência franca, dos quais parte nos assedia em casa, parte nos acompanha do lado de fora.
Em meio a estas dificuldades, porventura não deve o homem sentir-se em extremo miserável, como quem na vida apenas semi-vivo sustenta debilmente o sôfrego e lânguido alento, não menos que se tivesse uma espada perpetuamente a pender-lhe sobre o pescoço? Que digas que essas coisas raramente acontecem, ou, sem dúvida, nem sempre, nem a todos, de fato, jamais todas a um só tempo.
Concordo. Todavia, quando somos avisados pelos exemplos de outros de que podem acontecer também a nós e de que nem se deve excetuar nossa vida mais que a deles, não é possível suceder que não temamos e nos arreceemos como se não houvessem de nos sobrevir. Portanto, que de mais calamitoso possas imaginar que esse estado de medrosa expectativa?
E não seria grande afronta à glória de Deus dizer que o homem, a mais excelente criatura de quantas existem, está exposto a qualquer golpe da cega e temerária sorte? Mas aqui o propósito é falar apenas acerca da miséria do homem, miséria que haverá de sentir, se é relegado ao domínio da sorte.

A certeza da Providência divina nos propicia jubilosa Confiança em Deus e em sua operação.

Mas quando essa luz da providência divina uma vez tenha refletido no homem piedoso, já não está apenas aliviado e libertado da extrema ansiedade e do temor de que era antes oprimido, mas ainda de toda preocupação. Pois assim como, com razão, se arrepia de pavor da sorte, também assim ousa entregar-se a Deus com plena segurança.
Afirmo que este é seu conforto: saber que o Pai celeste de tal modo mantém todas as coisas sob seu poder, a tal ponto as rege por sua soberania e arbítrio; de tal forma as governa por sua sabedoria, que nada acontece, a não ser por sua determinação; inclusive que ele é acolhido à sua proteção, confiado ao cuidado dos anjos; não pode ser atingido pelo dano nem pela água, nem pelo fogo, nem pelo ferro, senão até onde aprouver a Deus, como um moderador, dar-lhes licença. Ora, o Salmo (91.3-6) canta assim: “Porquanto ele te livrará do laço do caçador e da peste perniciosa; sob sua asa te protegerá e entre suas penas terás segurança; sua verdade te será por escudo; não te arrecearás do pavor noturno, nem da seta que voa de dia, da peste que perambula nas trevas, do mal que grassa ao meio-dia” etc. Do quê também emerge nos santos aquela confiança de gloriar: “O Senhor é meu ajudador” (Sl 118.6), “não temerei o que me possa fazer a carne” (Sl 56.4); “o Senhor é meu protetor, de que me recearei?” (Sl 27.1); “Se contra mim se estabelecerem acampamentos” (Sl 27.3); “Se eu tiver de andar no meio da sombra da morte” (Sl 23.4), “não deixarei de nutrir animada esperança” (56.4).
Pergunto, pois, de que fonte tem eles tal confiança, que sua segurança nunca é abalada, senão porque, onde na aparência se vê o mundo a vaguear ao léu, sabem que, por toda parte, o Senhor opera, cuja atuação eles confiam que haverá de ser-lhes para o bem? Ora, se o bem-estar lhes é prejudicado, seja pelo Diabo, seja por homens celerados, na verdade aqui bem depressa, necessariamente, sucumbem, a não ser que se firmem pela lembrança e pela meditação da providência.
Quando, porém, trazem à memória que o Diabo e toda a coorte dos ímpios são, de todos os lados, de tal maneira coibidos pela mão de Deus, como por um freio, que nem mesmo podem conceber qualquer malefício contra nós, nem se concebido podem arquitetar planos, nem se engendrado cabal planejamento conseguem mover um dedo para levá-lo a bom termo, a não ser quanto ele o haja permitido; aliás, a não ser quanto o haja ele mandado, não só serem mantidos acorrentados por seus grilhões, mas ainda por uma brida compelidos a render-lhe obediência – têm os piedosos onde à larga possam consolar-se. Ora, como do Senhor é armar-lhes a fúria e volvê-la e dirigi-la para onde lhe aprouver, assim também cabe-lhe estabelecer o modo e o limite, para que não se esbaldem freneticamente em função de seus desejos desbragados.
Firmado por esta convicção, sua jornada que, em certo lugar (1Ts 2.18), dissera haver sido impedida por Satanás, em outro (1Co 16.7) Paulo a fixa na permissão de Deus. Se apenas dissesse que o obstáculo fora de Satanás, teria parecido conferir-lhe excessivo poder, como se estivesse em sua mão contrariar até mesmo os próprios desígnios de Deus. Mas agora, quando a Deus estatui como árbitro, de cuja permissão dependem todos os caminhos, ao mesmo tempo evidencia que Satanás, seja o que for que articule, nada pode efetuar a não ser por Seu arbítrio.
Do mesmo parecer é Davi, porquanto, em vista das variadas mudanças pelas quais a vida dos homens é posta constantemente a girar e, como que em um torvelinho a rodopiar, ele se acolhe a este abrigo: seus tempos estão na mão de Deus (Sl 31.5). Poderia ele ter dito ou “o curso da vida”, ou “tempo”, no número singular; porém quis expressar pelo termo plural, “tempos”, ou, seja, por mais instável que seja a condição dos homens, todas e quaisquer vicissitudes são divinamente governadas, sempre que, de momento em momento, ocorrem.
Por esta razão, Rezim, rei da Síria, e o rei de Israel, conjugadas as forças para a destruição de Judá, embora parecessem tochas acesas para assolar e consumir a terra, são chamados pelo Profeta de “tições fumegantes” (Is 7.4), que nada podem fazer senão exalar um pouco de fumaça.
Assim faraó, ainda que fosse a todos formidável, não só por seus recursos e poderio, mas ainda pelo vulto de suas tropas, é comparado (Ez 29.3, 4) a um animal de mui grande porte. Deus anuncia, portanto, que irá apanhar com seu anzol ao comandante e seu exército e arrastá-los para onde quiser.
Enfim, para que aqui não me demore por mais tempo, se prestares atenção perceberás facilmente que o extremo de todas as misérias é o desconhecimento da providência, e que a suprema bem-aventurança está posta em seu reconhecimento.

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Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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