“…foste um sol na minha vida. Algo como um Sol negro que ao passo que irradia tua luz fria e opaca, enegrece o dia com o teu alvorecer. Teu nascer é o mais belo, é uma passagem suave da noite sem perder o cinza da hora fria. Ainda assim o dia é sombrio e sufocante porque sei que você está lá e ao mesmo tempo não é nada além de distância. Tem brilhado com tanta força, tão intenso que me cega por vezes, ainda que eu não queira ver tudo que quero e sentar e olhar você, estar contigo sem fazer nada. É dessa tua presença fria que nasce o meu vazio, da tua companhia se faz a minha solidão e da tua intensidade a minha fragilidade, e quase o meu medo. E agora o que farei na noite de amanhã quando sei que inevitavelmente o dia nascerá mais uma vez? Não era a aurora o prelúdio de uma esperança? Então como pode se encher de dúvida e de uma angústia sufocante? Confesso que já não sei…bem, a verdade é que sei exatamente a raiz de cada porquê nessa vida, mas queria acreditar por um segundo que como qualquer um, nada sei, já que a ignorância é uma das estradas para a felicidade, justamente aquela pela qual lamento nunca mais poder trilha-lá. Aí está a metáfora do fruto proibido: o conhecimento do bem e do mal. E nada é tão complexo, nada é tão profundo, nada é tão denso que não se desfaça com o teu alvorecer…”
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