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no espelho do tempo...memórias
natalia nuno

pequena prosa poética





Nunca imaginei que envelheceria longe da aldeia, um dia subi para o combóio e perdi-me na distância, os pássaros adormeceram nos ramos do velho salgueiro, enquanto eu voava para mais longe, sentindo a falta do seu chilreio e dos figos que comíamos a meias...não tinha mais a possibilidade de ir ouvir o folhetim radiofónico na rádio duma amiga de nome Ermelinda, nem de ir buscar enfusas de água ao poço que transportava à cabeça sentindo-me um manequim numa passerelle, tão pouco ir lavar ao rio ou de sonhar perto das margens, tudo ficava ali, só eu partia...
Sonhos da adolescência iriam ter o seu epílogo, o amadurecer e o despertar para a ebulição da vida, mas meus olhos se afundavam na neblina à medida que me distanciava, meus sentidos eram mortalhas, quanto mais olhava a paisagem através da janela do combóio, mais o medonho dentro de mim, o meu mundo cedia e lá seguia enfrentando o caminho de olhar absorto até à cidade que me esperava, onde afinal era tudo um mito, mais estranho do que esperava.
Meus pés nunca tinham saído da aldeia, hoje a minha mente reúne pedaços de tempo bons e maus e este foi talvez dos mais difíceis, a sensação de que se está a fazer o correcto mas na iminência de se perder muito do que é nosso. Posso dizer que de certo modo dada a época fui muito arrojada ao partir sozinha, mais parecia uma criança transviada, a censura na aldeia persistiu durante algum tempo na boca da geração mais velha, mas graças ao bom Deus fui sempre equilibrada, com a noção da responsabilidade e bom senso. Minha avó já acamada ouvi chorar ía eu já ao fundo da rua, lá segui meu rumo vestida com o meu melhor traje e uma expressão no rosto voluntariosa sendo a decisão da partida inteiramente tomada por mim. Era Setembro, à chegada à cidade dias de chuva que interminável caía como grossas lágrimas que juntava às minhas. De noite sonhava um sonho idílico, o relvado à beira rio, o sol a bater-me no rosto e um ou outro amor que tinha deixado, e nem me apercebia como tinha dado um passo gigantesco no mundo feminino, onde a mulher não era dona da sua vontade. Presa ao solo da minha terra fiquei pelo afecto que ainda agora incandesce em mim... reclino-me no sofá e sorvo cada lembrança com medo de perder a memória à medida que o tempo escoa como um truque de ilusionista... agora, apenas desejo viver os sonhos encerrados no oculto da minha memória, sempre prontos a despertar, são eles que justificam a minha existência e fazem com que me sinta bem dentro deles. Estendo pontes fascino-me ao atravessá-las, no meio da bruma sinto emoções distintas, toco objectos, vejo imagens, ouço vozes e vejo-me no espelho do tempo... assim desta maneira simples através das lembranças que perduram em mim.


natalia nuno
rosafogo


Biografia:
Nasceu na pequena aldeia Ribatejana chamada Lapas, concelho de Torres Novas a 19=1/1943, Estudou na Escola Industrial e Comercial de Torres Novas .É em várias actividades literárias conhecida por «rosafogo» nome com o qual publica na internet. Na sua poesia a saudade está sempre lá num rendilhado de palavras. Participou nas seguinte Colectâneas: «entre o sono e o sonho» Chiado Editora, «trago-te um sonho nas mãos» Temas Originais, «por um sorriso» Temas Originais, «poiesis vol XXXIII» e «poiesis vol. XXiX» Editora Minerva, «viva Outubro 2009» e «viva outubro 2010» Câmara Municipal Loures, «licença poética 2011» livro de Emanuel Lomelino, Lua de Marfim, « alma gémea 2011» Editora Brasileira Beco dos Poetas, «tu cá, tu lá II» Temas Originais, «Horizontes da Poesia III 2011» Editora Euedito, « digo não ao não» Lua de Marfim, «na magia da noite» Lua de Marfim, «entre o sono e o sonho III» Editora Lisboa, Antologia «Mãe» a convite da Poeta Maria Melo, « Poetar Contemporâneo» 2012 Edições Vieira da Silva, Antologia Luso-Brasileira « Cruzada da Poesia» «Horizontes da Poesia IV» da Euedito, Antologia Poética Contemporânea «Entre o Sono e o Sonho IV» da Chiado editora e «A Palavra é uma Espada» Edição de Autor. Prefaciou as obras: « No Chão de àgua » do Poeta Paulo César, o romance « Óh àfrica...oh África Minha» do escritor José Silva, e« Encontro-me nas Palavras» da Poeta Maria Antonieta Oliveira. Livros editados de Poesia: «Pesa-me a Alma» em 2011 pela Lua de Marfim e em 2014 « A Melodia do Tempo» pela mesma editora, editou na Roménia em português e romeno «Moldura da Saudade« e recentemente «Estremecimentos d' Alma» pela editora Vieira da Silva... participou na colectânea «Palavras que Contam» da editora Sinapis.E em 2018 novo livro de poesia pela Viera da Silva «Estremecimentos de Alma»
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