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os serões da minha memória...memórias
natalia nuno

os serões da minha memória...memórias

Eram duas mulheres mais velhas, e uma jovem casadoira sentadas ao fresco nas noites de verão nas escadas da sua casa simples, feitas de adobos reforçadas de lages também elas frescas, ali ficava eu ouvindo com atenção as queixas e os ais do peso dos dias, do tempo que não corria de feição para o joeirar do trigo, dos seus homens que andavam fartos de cavar a terra, e o quanto era difícil dar conta da vida! A moça, ouvia e não dizia uma palavra, não esmorecia e não pensava noutra coisa que não fosse o dia do casório quase, quase a chegar... ía aprontando o enxoval com os parcos haveres, fazendo um picô, uma bainha, caseando uma almofada, para que tudo desse certo nos tempos que se aproximavam e que pensava ela seriam de eterna felicidade. Que teria sido feito dela? Chamava-se Cesária , o namoro só era permitido ao domingo sob o olhar da mãe que não arredava pé, por sinal descalço, creio que nunca a vi calçada, descia e subia vezes sem conta a ladeira que a levava ao rio ou à horta para colocar a burra à nora ou colher vegetais, seu nome Rosa cuja vida foi de espinhos tal como as vidas das restantes mulheres da aldeia. Tempos difíceis aqueles, ali passei muitos serões era ainda criança ouvindo muitas histórias, no céu um luar bonançoso e lá em baixo no rio o cantar das rãs que nos vinha aos ouvidos como uma música longínqua soando como se fosse uma harmónica incansável. Os vaga-lumes também nos faziam companhia ziguezagueando dum lado para o outro, enquanto a noiva suspirava pela noite de núpcias...eu, não arredava pé ouvindo as inquietações das mais velhas, até que a mãe da janela da cozinha erguia a voz chamando por mim e eu lá ía com meu perfume delicado e doce, flor pura sem inquietações e nenhum desejo em mim a não ser o conforto possível da casa onde nasci.Todo este aroma da infância o sinto nestas memórias neste recordar neste invocar o passado com todo o meu frenesim, passado longínquo mas não morto que recordo nestes dias que se apagam em si mesmo , tudo é visão presente, nada morre, continua pulsando o coração e o pensamento, e o sonho torna visível o invisível... cega de ternura me agarro a esse eco da infância, como um recém nascido se agarra ao peito da mãe.

natalia nuno
rosafogo


Biografia:
Nasceu na pequena aldeia Ribatejana chamada Lapas, concelho de Torres Novas a 19=1/1943, Estudou na Escola Industrial e Comercial de Torres Novas .É em várias actividades literárias conhecida por «rosafogo» nome com o qual publica na internet. Na sua poesia a saudade está sempre lá num rendilhado de palavras. Participou nas seguinte Colectâneas: «entre o sono e o sonho» Chiado Editora, «trago-te um sonho nas mãos» Temas Originais, «por um sorriso» Temas Originais, «poiesis vol XXXIII» e «poiesis vol. XXiX» Editora Minerva, «viva Outubro 2009» e «viva outubro 2010» Câmara Municipal Loures, «licença poética 2011» livro de Emanuel Lomelino, Lua de Marfim, « alma gémea 2011» Editora Brasileira Beco dos Poetas, «tu cá, tu lá II» Temas Originais, «Horizontes da Poesia III 2011» Editora Euedito, « digo não ao não» Lua de Marfim, «na magia da noite» Lua de Marfim, «entre o sono e o sonho III» Editora Lisboa, Antologia «Mãe» a convite da Poeta Maria Melo, « Poetar Contemporâneo» 2012 Edições Vieira da Silva, Antologia Luso-Brasileira « Cruzada da Poesia» «Horizontes da Poesia IV» da Euedito, Antologia Poética Contemporânea «Entre o Sono e o Sonho IV» da Chiado editora e «A Palavra é uma Espada» Edição de Autor. Prefaciou as obras: « No Chão de àgua » do Poeta Paulo César, o romance « Óh àfrica...oh África Minha» do escritor José Silva, e« Encontro-me nas Palavras» da Poeta Maria Antonieta Oliveira. Livros editados de Poesia: «Pesa-me a Alma» em 2011 pela Lua de Marfim e em 2014 « A Melodia do Tempo» pela mesma editora, editou na Roménia em português e romeno «Moldura da Saudade« e recentemente «Estremecimentos d' Alma» pela editora Vieira da Silva... participou na colectânea «Palavras que Contam» da editora Sinapis.E em 2018 novo livro de poesia pela Viera da Silva «Estremecimentos de Alma»
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