Ouvi falar de um grande homem que deixou sua terra natal com as mãos vazias, sem eira nem beira, sem um tostão furado no bolso para reescrever sua história em algum lugar, mesmo que este fosse destinado só aos mais fortes e corajosos.
Ouvi falar, também, de uma menina do interior de Minas Gerais, nascida e criada nas fazendas, de passo firme, decidida às decisões, de coragem punjante, que deixou sua família para tentar outra vida no coração do Brasil. Deixaram para trás tempos amargos como a gueroba com arroz servida no prato amassado de alumínio, deixaram no tempo passado, trabalhos como carregar fechos de lenha, de acender o fogão caipira, de acordar antes do sol nascer, de cuidar da criação.
Tempos difíceis, às vezes sem comida, sem roupas, sem futuro certo, dias de chuva fria que molhavam as plantações de milho, de arroz e feijão e graças a chuva a esperança se renovava, mais alimento à mesa, Deus não podia se esquecer deles.
Hoje habita seus pensamentos a lembrança das casas velhas de adobe, dos pés descalços nos antigos trieiros, dos trajes surrados da lida diária e da roupa menos velha de ir à igreja aos domingos. Sonhos realizados na Capital Federal, domingo, continua dia de ir ao culto, mas de passear também, roupa surrada, agora é pano de chão, os pés descalços é para andar no jardim e para tomar banho.
Conheci o homem corajoso e a menina do interior. Quase 70 anos depois, não esqueceram seu passado, suas primeiras histórias e continuam seu caminho. Obrigado Pai, o grande homem e obrigado Mãe, a menina do interior.
Marcelo Queiroz
04-03-2012
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