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As virgens que me perdoem
Mas ser mãe é fundamental
É preciso que haja qualquer coisa
De mãe em tudo isso
Qualquer coisa de materno ou no mínimo
Um quê de mágico em tudo isso
Não há meio-termo possível:
É preciso ser mãe pelo menos uma vez na vida
É preciso que subitamente
Apareça uma cegonha anunciando a boa-nova
E a pele adquira a cor só encontrável
No primeiro minuto da gravidez
Ah, é absolutamente preciso que
Tudo isso seja espontâneo e maternal,
Como a canção que diz simplesmente:
“Mamãe, hoje eu estou tão feliz”
É humanamente preciso que o parceiro
Se sinta atraído pela barriga volumosa e disforme
E que a carícia se renove diariamente
Como o crepúsculo que se esvai lentamente no horizonte
Ah, é urgentemente preciso que a mãe
Seja, antes de tudo, uma fera
Pronta para proteger seu rebento
Das terríveis maldades do mundo
Dando-lhe o melhor de si, qual seja,
A própria vida se preciso for
Pois ser mãe é exercer plenamente
O amor que sofre e cura de repente.
II
Desde que minha boa e doce mãezinha, dona Zelita, se foi para sempre, tenho procurado rememorar alguns dos momentos que passamos juntos: eu na qualidade de filho mediano e ela na de mãezona dona de um coração enorme, com espaço cativo para o carinho e o cuidado sem limites – como deve ser com toda mulher que um dia teve o privilégio de conceber e, dessa maneira, se apresenta digna desta dádiva maior da condição humana: a maternidade.
Escrevi o poema acima para homenagear também as mamães Zuína, Flora, Maria Gága (já falecidas), Quelé e Teresinha Arouca (esta, por comodismo, não vejo há mais de dez anos).
Sem ser minha mãe biológica, cada uma delas a seu modo deixou marcas indeléveis em meu ser, fazendo de mim uma pessoa generosa o bastante para reconhecer que a maternidade é superior à racionalidade, à generosidade e, quiçá, à gratidão. Grato a vocês por tudo eu sou, agora e sempre, minhas flores.
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