O SONHO DA NINFETA
Tinha acabado de sair do banho quando ouviu o barulho dos pneus do carro rolando sobre as pedrinhas do pátio. Foi até a janela enrolada numa toalha. Sorriu vitoriosa. Sabia que ele voltaria! Era a segunda vez nessa semana que ele aparecia para jantar. "Homem é tudo igual mesmo! "
Colocou aquele vestidinho preto decotado por cima da pele nua. Sabia que fazia sucesso com ele. Olhou-se no espelho e levantou um pouco o vestido, deixando aparecer o alto das coxas bronzeadas. Gostava de ficar se olhando no espelho, fazendo caras e bocas, como se quisesse seduzir um espectador invisível.
Quando chegou na sala, Doutor Arnaldo conversava com seu pai. Cumprimentou-o com um boa noite tímido. Os olhos baixos, olhando pro chão. Era a personificação da inocência!
Durante o jantar, quase não abriu a boca. De vez em quando levantava a cabeça e fitava o médico nos olhos. Quando percebia o embaraço do outro, desviava o olhar, e um sorrisinho malicioso brotava no canto da sua boca.
Mais tarde, depois de ajudar a mãe com a louça, foi até a sala, onde os homens conversavam e riam animadamente. Ela conhecia bem o seu velho pai. Já havia tomado umas tantas cervejas antes de jantar. Agora com o amigo, já estavam na quarta ou quinta garrafa. Foi só uma questão de tempo para que ele precisasse ir até o banheiro, para atender ao chamado da natureza.
Quando ficou sozinha com Doutor Arnaldo na sala, não perdeu tempo: Sentou-se ao lado do médico, pousou a mãozinha delicada na perna do velho. Disse com os lábios quase colados no ouvido do médico com sua vozinha de rouxinol de concurso:
- Quando você estiver indo embora, eu vou sair pela janela do meu quarto. Você vai me levar pra dar uma volta.
O outro ficou sem ação. Ela fez um biquinho, e repetiu:
- Você leva?
Com os olhos arregalados, o velho médico conseguiu apenas dizer um arran meio embasbacado.
- Arran.
Quando o pai voltou, ela fingiu bocejar. Disse estar com sono e que iria dormir. Pediu a benção ao velho dando-lhe um beijo no rosto barbudo. Saiu pelo corredor, deixando no ar o aroma suave de seus longos cabelos negros. Doutor Arnaldo mal conseguia se controlar. O velho gania de desejo.
Passados uns quarenta minutos, ela ouviu o pai se despedir do amigo e fechar a porta da frente.
Sorrindo, esperou um pouco ainda, para aumentar ainda mais a aflição do outro. Abriu a janela, e saiu andando pé por pé para não fazer barulho.
Quando chegou ao carro, o médico a esperava ansioso como um colegial. Suava nas mãos e na testa.
Ela entrou no carro sorrindo, contente como uma criança que ganha um pirulito. Remexeu na bolsa, procurando por um cigarro.
O médico, num misto de terror e êxtase, tratou de pisar fundo, para não ser visto pelo amigo.
Já tinham rodado por alguns quilômetros, quando ela pediu para que o médico estacionasse mais à frente, num gramado embaixo de um pé de manga. Ela então, sem dizer palavra pulou no colo do médico, num beijo molhado e ardente. Desabotoou a camisa do médico, beijando seu pescoço e mordiscando o lóbulo da orelha do velho doutor. Ele, envaidecido, ainda pensou lá com seus botões: “continuo sendo o velho lobo de sempre!”
Alguns minutos depois, logo após o ato consumado, ela vestia a calcinha, e procurava por outro cigarro. Doutor Arnaldo assumia agora um tom sério e preocupado, de quem se dá conta da loucura que acabara de cometer. "Se envolver com a filha do amigo! Ainda por cima menor de idade! Já pensou se alguém descobre?" Isto poderia acabar com sua carreira de pediatra!
Ela por sua vez, fumava despreocupada, soprando anéis de fumaça pela janela.
Depois de um silêncio que para ele pareceu uma eternidade, ela disse num tom despreocupado:
- Você vai embora amanhã, não vai?
Doutor Arnaldo, numa aflição evidente, procurava disfarçar o nervosismo e manter-se no controle da situação:
- Vou sim. Saio cedinho. Tenho uma reunião importante amanhã à tarde no hospital.
Passando a mão carinhosamente pelo rosto do médico, ela miou:
- Então presta atenção: Eu vou estar te esperando na frente da minha casa, com minhas coisas prontas amanhã às seis e meia, tá bom?
Ele sem acreditar no que ouvira, retruca:
- Do que você está falando menina? Ficou maluca? Você acha que eu vou te levar comigo?
- Escuta aqui seu cretino! – ela agora se transfigurava. Os olhos chispando veneno. - É claro que você vai me levar junto sim senhor! Ou você prefere que eu conte pro meu pai o que aconteceu aqui hoje? Ou melhor ainda: Que conte pro meu tio que trabalha no jornal? Já pensou que bonita a manchete na capa? “Médico da capital vem para o interior fazer turismo sexual com menores de idade”?
Nessa hora o velho quase teve um ataque cardíaco. Ficou sem fôlego ao perceber as intenções da menina.
- Você é maluca menina! Eu sou casado! Tenho esposa em Curitiba, como é que eu vou chegar com você lá? O que é que eu vou dizer? – ela deu uma gargalhada amarga:
- É isso que você imagina? Que eu quero ficar com você? Se enxerga seu velho! Você tem idade pra ser meu avô! - Acendendo outro cigarro, totalmente no controle da situação, ela explica: - Eu só quero que você me leve até Curitiba. Eu já tenho um lugar pra ficar lá. - Soprando a fumaça no rosto do médico, ela completa: - Não se preocupe, que se você fizer tudo direito, a tua velha não vai ficar sabendo de nada.
Despediu-se com um beijo suave no rosto do médico. Era a menininha inocente de novo.
– Até amanhã doutor. Vou estar te esperando hein! – e foi serpenteando aquele corpinho de gueparda adolescente, até desaparecer na escuridão.
Naquela noite não conseguiu dormir. Tinha arrumado uma mochila com algumas roupas. Ao amanhecer, antes de sair deu uma ultima olhada no quarto onde havia passado toda sua curta existência. Soprou um ultimo beijo para o espelho. Não conseguia se conter de tanta empolgação. Não conseguia acreditar que finalmente iria realizar o seu grande sonho! Finalmente! Estava indo pra Curitiba para ser puta!
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