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A BOECA DE SOPHIA - PARTE FINAL
EMANNUEL ISAC

… Durante o trajeto da lanchonete até à casa da avó de Bile, Viegas não parou de teclar no laptop. A cada descoberta, ele só dizia:
          - Ok! Ok! Ééé..., faz sentido!

          Em determinado momento, Bruno não suportando mais ouvir aquela repetição, perguntou:

          - O que é que faz tanto sentido, chefe?
          - Os nomes! De alguma forma eles formam um círculo perfeito! Um nome, leva a outro, como se fossem elos de uma corrente, encaixando-se perfeitamente!
          - Todos os nome? - Perguntou Nênia;
          - Todos! Agora só preciso saber quem é Sônia, e o que essas quatro letras representam dentro desse círculo formado!- Disse Viegas sem desgrudar os olhos do aparelho;
          - Será que algum desses nomes, podem ter relação com o caso do ritual das sete meninas que o senhor encontrou mortas, no início de sua carreira? Perguntou Bruno, lembrando ao chefe de policia, a cena macabra que viu, quando ainda era um simples investigador;
          - Pode ser! - Exclamou ele, com um brilho no olhar.

          Viegas puxou um Pen Drive preso na penca de chaves que trazia consigo no bolso da calça, e conectou ao laptop. Pediu para Bruno diminuir a velocidade, afim de poder digitar. Não demorou
muito, e encontrou a primeira ligação dos nomes, com aquele caso antigo; SÔNIA! Sônia era o nome de uma das meninas encontrada morta, sem uma gota de sangue, naquilo que ficou comprovado ser um ritual de sacrifício humano. Na época, ele tentou encontrar os pais da menina, mas descobriu que a mãe, tinha sumido dois dias antes, de descobrir aquela casa.

          Viegas não gostou de rever as fotos, quando clicou em uma sub-pasta. Abriu outra janela e encontrou as fotos dos cômodos da casa; sala; banheiro; corredor; e um quarto, onde encontrou várias fotos presas à parede, e uma que lhe chamou bastante a atenção: a foto de um homem dentro de uma bacia repleta de sangue!

           Ao longo da investigação, encontrou o corpo de um homem enterrado nos fundos da casa onde havia acontecido os sacrifícios. Era o mesmo da foto, pai de uma das meninas sacrificadas, de repente, sua mente deu um estalo; Marcelo era pai de Sophia, e agora estava morto! Sophia havia desaparecido, juntamente com a mãe; seu irmão havia sumido de maneira sobrenatural, segundo a mulher que estava sentada no banco de trás do carro (ele olhou para Nênia). Se na casa da avó de Bile, ele encontrasse algum quarto na mesma situação daquele, ele teria matado dois coelhos com uma cacetada só!; ou seja: resolveria os dois casos, em uma única vez! Fechou o laptop, e mandou Bruno pisar fundo no acelerador...
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          … Ao ouvir o barulho do motor do carro estacionando em frente à casa, a mulher dentro do círculo falou para Éster:
          - Tranque a frente e deixe os fundos aberto! Eles devem entrar por lá!
          - Eles quem? De quem vocês estão falando? - Perguntou Norma;
          - Das pessoas que faltavam para realizar o ritual! - Respondeu-lhe Éster. Eles não podem te ver aqui; não por agora!

          Éster verificou as portas e janelas trancadas, pediu para Norma fazer silêncio, e acompanhá-la. Entraram em um quartinho ao lado da sala, e Éster encostou a porta...

           O chefe de polícia bateu na porta e esperou..., insistiu..., e nada! Bruno e Nênia permaneceram parados, ao pé da escada olhando Viegas que tentava observar por entre os vidros da janela:

          - Vamos tentar pelos fundos! Sugeriu Nênia.

          Os três então, rodearam a casa até encontrarem uma única porta, onde Viegas parou e sacou a arma, sendo imitado por Bruno. Antes de entrarem na casa, Nênia abriu a pequena bolsa que levava consigo, e retirou de dentro dela uma nota de um dólar(1), colocando-o dentro de seu sutiã. Bruno ao vê-la fazer aquilo, pegou sua carteira e retirou também um dólar, e colocou-o no bolsa da camisa.                                                                                              O chefe de polícia ficou olhando para eles:

          - O que vocês estão fazendo?
          - É só pra dar sorte! - Respondeu Nênia, olhando para Bruno;
          - E desde quando você é supersticioso? - Perguntou Viegas para Bruno.          

          O chefe de polícia então, fez sinal de silêncio para Nênia e triscou na porta; ela se abriu rangendo as dobradiças. Viegas encolheu o rosto, não queria fazer barulho algum. Adentrou a casa nas pontas dos pés, tentando ver para onde seguia, naquela escuridão sombria. Pegou o celular e ligou a lanterna do aparelho, iluminando o estreito corredor, mas comprido! Quando estava na metade do corredor e passou por um quarto, sentiu exalar de dentro dele, o cheiro de carne em putrefação! Pôs a mão no nariz e olhou para Bruno e Nênia que o seguiam de perto:

          - O mesmo odor que senti, quando encontrei as meninas... - Disse ele baixinho para os dois.

          Entrou no quarto procurando por algo que pudesse ter alguma ligação com a investigação. Sentiu-se enjoado por causa do cheiro forte! Retirou do bolso um lenço e colocou sobre a boca e nariz, olhando nos cantos, nas caixas amontoadas umas sobre as outras, não encontrando nada que indicasse de onde aquele cheiro procedia. Encontrou um HEXÁGONO DO MAGO(2), e teve a certeza de que estava no lugar certo. Sabia o que significava aquelas coisas, pois as investigou quando assumiu o caso das meninas.

          Já estava se preparando para sair do quarto, quando sem querer, iluminou o chão sob uma peça velha e algo brilhou. Fixou a lanterna naquela direção, se aproximando para ver o que era; encontrou uma pequena bacia de alumínio ainda suja com sangue. Puxou a bacia de debaixo da peça, e ao erguê-la, olhou para o chão, encontrando várias fotos que estavam escondidas sob a bacia. Agachou-se e começou a iluminá-las uma por uma, até que uma em especial, chamou-lhe a atenção; reconheceu uma das meninas mortas no ritual! Rapidamente, começou a pegar mais fotos; encontrou outra..., e outra..., e outra..., até encontrar a foto de Marcelo. Viegas levantou-se devagar olhando para a foto; sentiu no coração que tinha desvendado o caso antigo e ainda de quebra, provavelmente, esse novo!     

          Sentiu o cheiro de carne podre aumentar, não percebendo quando dois mortos vivos, que estavam agarrados no teto, o observava desde de quando entrou no quarto. Começaram a descer arrastando-se pelas paredes, lentamente em sua direção.
                                                                           
          Voltou e parou na porta do quarto, olhando para o corredor com as fotos nas mãos. Olhou para os dois lados, achando que Bruno e Nênia estavam esperando por ele do lado de fora, mas eles desapareceram. Foi quando sentiu algo gosmento, e pegajoso pingando em sua cabeça e ombros; olhou para cima, e viu os dois restos de carne humana que se aproximavam dele! Deu um passo para trás, e não viu mais nada; alguma coisa atingiu-lhe a cabeça em cheio, fazendo com que ele desmaiasse...
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          … Aos poucos, o chefe de polícia foi abrindo os olhos, a visão estava ainda meio turva. Tentou localizar-se no ambiente, sabia que estava deitado no chão, e alguma coisa prendia seus pulsos e tornozelos. Com muito esforço, conseguiu levantar um pouco a cabeça e percebeu que estava deitado dentro de um círculo de NECROMANCIA(3), com mais três pessoas; um menino e uma menina desacordados, e a mãe de Éster, abraçada com a boneca que dera a Sophia.          

          … Norma queria sair de dentro do quarto, mas Éster não deixou; dissera a ela que no momento certo, ela voltaria para o lugar do ritual, para resgatar sua filha. Norma deixava-se iludir cada vez que Éster falava de sua filha, não enxergava o que estava acontecendo ao seu redor. Éster olhou por entre a fresta da porta, e saiu. Pediu para Norma aguardar enquanto ela iria verificar os preparativos.

          Norma estava ansiosa demais para ficar esperando. Assim que Éster sumiu de suas vistas, ela saiu do pequeno quarto e caminhou em direção a sala. Parou de súbito, quando viu que alguém atravessava o corredor, arrastando o que parecia ser um homem, desacordado para a sala. Norma encostou-se em um canto escuro da parede e ficou quieta, observando; viu quando outra pessoa vestido com um capuz e uma grande capa preta, com uma cruz em SANDICINO(4) desenhada nas costas de cabeça para baixo, surgiu da sala, entrando no corredor. Sua respiração ficou ofegante, algo lhe dizia para procurar um lugar para se esconder, e foi o que ela fez; entrou em outro cômodo escuro e ficou atrás da cortina, próximo ao local do ritual.

Devido a escuridão, Norma não reconheceu os filhos dentro do círculo de necromancia. Viegas inclinou um pouco a cabeça para a direita, e viu quando algo pequeno se arrastou pra perto dele; subiu por suas pernas, até chegar na metade de seu tronco. Viegas pode sentir o mesmo odor que sentiu no quarto. Apesar da pouca luminosidade, ele percebeu que se tratava de uma menina; aos poucos, ela foi inclinando sua cabeça, até olhar dentro dos olhos de Viegas - gotas de sangue vindo daquele pequeno corpo podre, começaram a pingar em sua face, fazendo ele entrar em desespero, mexendo a cabeça para os lados. Tentou mexer o corpo, no intuito de fazer ela sair de cima dele, mas a única coisa que conseguiu, foi uma mordida entre os lábios, que lhes arrancou por completo, deixando à mostra toda a sua arcada dentária!

          Fechou os olhos e urrou de dor! Rapidamente o sangue encharcou-lhe a camisa, criando uma poça sob ele, aquela coisa saltou pra fora do círculo e sumiu na escuridão. Norma assistiu aquela cena e reconheceu se tratar da mesma coisa que lhe agarrou as pernas no quarto. Viegas ouviu uma voz conhecida falar:

          - Agora sim, está perfeito para começarmos!

          Viegas abriu os olhos e viu a velha que conheceu no hospital; com dificuldades, ainda conseguiu falar:

          - Vo..., vo..., você? – Engasgou com o próprio sangue;
          - Sabe, pensei que você nunca conseguiria chegar até aqui! Já estava até pensando em mudar os planos... - Disse a velha, olhando para ele deitado no chão;
          - Eu..., nã..., não..., es...es..., estou..., enten..., tendo...! - Balbuciou o chefe de polícia;
          - Levamos muito tempo para encontrar outra família perfeita, depois que você conseguiu atrapalhar o primeiro ritual!
          
          Viegas lembrou das investigações que fez, a respeito daquele sacrifício ritualístico. Sabia que chegou perto de desvendá-lo, mas de alguma forma, não conseguiu. Por outro lado, estava convicto que tinha atrapalhado os planos de alguém:
                    
          - Para realizar um ritual como aquele, é preciso convencer alguém da própria família a participar e fazer parte do pacto;

          A velha fez um sinal com as mãos, para que alguém se aproximasse. Viegas pôs a cabeça para o lado e cuspiu o sangue que se acumulava em sua boca, e voltou o olhar em direção à velha. Viu quando uma pessoa encapuçada parou ao lado dela:

          - … Você não sabe como foi difícil encontrar alguém assim; com a família perfeita; o nome perfeito para assistir o ritual e servir de canal de passagem para os espíritos! Não podíamos deixar que atrapalhasse novamente nossa transição!

          Viegas não entendeu o que ela queria falar, ficou olhando para ela e o estranho ao seu lado sem saber quem era, pois o capuz e a grande capa preta, escondia por completo a sua identificação:

          - Quando você apareceu lá no hospital – continuou a velha – eu sabia que mais cedo ou mais tarde, iria ligar uma coisa à outra! Por isso, resolvemos cortar o mal, melhor dizendo; o bem pela raiz! - Abriu a boca e sorriu sinistramente.

          Viegas deitou a cabeça entre as outras no chão, e olhou para o teto! Aos poucos foi lembrando os acontecimento do dia.      Norma que permanecia escondida atrás da cortina próxima a sala, escultava a conversa, uma vez e outra, olhava para as pessoas na sala. Teve que recuar rapidamente quando o outro indivíduo encapuzado passou próximo a ela e juntou-se aos outros na sala. Voltou a espiar por entre a cortina:

          - Está na hora! - Disse o novo personagem ao se aproximar da velha;
          - Vocês não vão conseguir levar isso adiante! - Gritou Viegas;
          - É mesmo? E como você pretende nos impedir? - Perguntou a velha, agachando-se próximo a Viegas, pelo lado de fora do círculo;
          - Eu não vim sozinho, meu ajudante deverá surgir em pouco tempo com reforço! - Disse ele em um tom de voz alta, na esperança que alguém pudesse escultá-lo;
          - Acho que isso será impossível de acontecer; A velha se pôs de pé e saltou uma gargalhada!
          - Toda a força deste ritual delegado, está na ligação dos nomes! - Disse ela;

          Mesmo sentindo muitas dores na face, Viegas ainda encontrou forças para olhar para o trio parado à sua frente e perguntar:

          - Não lembro de ter visto o seu nome, entre aqueles;
          - E não estava! Respondeu ela.
          Viegas olhou para eles e viu os pingentes        do tetragrammaton,   pendurados em seus pescoços. A velha acendeu as quatro velas que estavam ao redor do círculo, iluminando parcialmente as pessoas que estavam dentro dele. Norma reconheceu a silhueta dos dois filhos deitados no chão, dentro do círculo.

          Teve o impulso de correr e retirá-los de lá, mas conteve-se assim que viu Éster aparecer com uma jarra com água e um cálice nas mãos. "DESGRAÇADA"!, sussurrou Norma ao ver Éster. Éster foi até a onde estava sua mãe deitada, olhou nos olhos dela e falou para os outros:

          - Ele já está nela; temos que nos apressar!
          - Vou buscar o emissário! - Disse um dos encapuzados, saindo da sala;
          
          Éster ajeitou as bonecas novamente ao redor do círculo, enquanto Nênia segurou o acratóforo que Éster carregava, nas mãos. A velha pegou a bolline, e passou levemente pelos pulsos e tornozelos de Viegas, o suficiente para que o sangue gotejasse no piso, ele cerrou os dentes ao sentir a lâmina fria lhe cortar a carne.

          O estranho voltou trazendo amarrado pelo pescoço, um bode. Éster despejou a água ao redor do círculo e todos começaram a falar em uma língua que lembrava o idioma egípcio e o hebraico. Viegas sabia que se permanecesse ali, iria morrer. Forçou os braços e as pernas tentando se livrar do que os prendia ao chão, mas foi inútil, não eram cordas que o seguravam; eram raízes que brotavam da terra e a cada vez que ele tentava se saltar, mais elas forçavam para baixo.

          Um dos encapuzados abaixou-se e desenrolou no chão, um pano vermelho; dentro dele estava um globo ocular! A velha se aproximou com a bolline e encostou no pescoço do bode. Éster ajudava o encapuzado a segurá-lo, enquanto o outro, posicionava o acratóforo sob as mãos da velha. De um só golpe, ela passou a bolline de um lado a outro pelo pescoço do bode, fazendo seu sangue jorrar dentro do cálice. Éster pegou a jarra que estava com o cuxá e misturou ao sangue do bode.

          Começaram a entoar um cântico estranho e a repetir em unissono:
          
          - LEVIATÃ..., LEVIATÃ!(5)
          
          Um a um, iam bebendo o cuxá com sabor ACRE(6), o chão da casa tremeu; Viegas sentiu o corpo queimar! Norma olhou para a sala e viu surgir no fundo dela, uma figura que aos poucos foi crescendo..., crescendo..., crescendo, até surgir diante deles um demônio de um aspecto horripilante:
                                   
               Norma pôs as mãos na boca para não gritar de pavor. Viegas petrificou de medo, enquanto que a velha, Éster e os outros dois estranhos, derramaram ÁGUA(7) ao redor de onde eles estavam, colocaram um cálice adiante, e ajoelharam-se diante do ser bizarro:

          - Oh! Senhor Leviatã, aqui estamos para servi-lo – Disse a velha;
          - Fizemos tudo, conforme nos mandou - Começou Éster a enumerar:

          - Encontramos outra família perfeita;
          - Tiramos a guardiã, NAZARÉ para que pudesse entrar;
          - Encontramos a menina para a transição;
          - Trouxemos o responsável por atrapalhar a sua vinda, da outra vez; - O demônio olhou em direção a Viegas;
          - E o mais importante; uma vida, por outra vida! - Éster apontou para a própria mãe que estava dentro do círculo.
          - Agora, traga as minhas crianças de volta, para que possamos servi-lo melhor! - Éster apontou para as bonecas ao redor do circulo.

          O demônio sorriu; chegou perto de Viegas e olhou nos olhos dele. Aos poucos, Viegas foi ficando com a pele branca, seus olhos foram mudando de cor; suas córneas e pupilas ficaram amareladas; os vasos sanguinos de seu rosto começaram a romper-se; ele arregalou os olhos e de dentro deles, pelos cantos, começaram a sair vermes e moscas. Viegas tremia e se contorcia de dor, sentia o fogo queimar sua carne e sua alma, enquanto seu corpo se definhava lentamente, em pouco tempo, estava morto!

          Éster pegou a bolline, e caminhou até onde estava sua mãe em transe; olhou para ela e falou:

          - Você já viveu muito! - se ajoelhou perto dela – como você me ensinou mamãe; uma vida, por outra vida! - Ergueu a bolline com as duas mãos, para cravar no peito da própria mãe.

          A velha repentinamente, abriu os olhos, seu rosto tornou-se jovial e por um momento, Éster deteve as mãos no ar. Sua mãe a olhou na face, e ela foi descendo as mãos devagar, até encostar a bolline no chão. As bonecas que estavam ao redor do círculo, uma por uma, começaram a se mexer e se puseram de pé, olhando para Éster que estava com o olhar fixo, nos de sua mãe.

          A mulher ergueu a mão direita e segurou firme no pescoço de Éster e começou a apertá-lo; quando ela sentiu a pressão em seu pescoço, despertou do transe; com esforço, tentou erguer a mão que estava segurando a bolline, sentiu que alguém a ajudava a direcionar a bolline para a garganta da mulher deitada dentro do círculo, e em um único movimento; o punhal passeou de um lado a outro pelo pescoço dela, cortando as quatro jugulares e fazendo o sangue jorrar pra todos os lados!

          Éster olhou para o lado, e viu a boneca de Sophia com a quele brilho vermelho fogo nos olhos, sorrindo pra ela com a      face coberta do sangue que espirrou da garganta de sua mãe, que ambas acabaram de degolar. Norma não conseguia sair do lugar, mas quando viu os outros dois encapuzados se colocando ao lado de seus filhos, e o brilho da lâmina refletir na luza das velas, ela disparou em direção ao círculo da necromancia, pegando no meio do caminho o corsier.

          A primeira pessoa a ser atingida pela bastão, foi Éster! A pancada na cabeça, fez ela cair desacordada por cima da boneca de Sophia. Os outros dois encapuzados olharam para trás e receberam cada, um golpe certeiro na face, Norma olhou e viu quando o capuz voou para longe, revelando a face de Bruno, a Velha correu e parou em um canto da sala, segurando o acratóforo. O demônio estendeu sua mão e as bonecas começaram a tremer, aos poucos foram sofrendo uma metamorfose até se tornarem em meninas com os corpos deformados, as mesmas que passaram pelo espelho.

          Começaram a se arrastar em direção a Norma; ela balançava o corsier de um lado para o outro, abrindo caminho entre aqueles mortos vivos até chegar no círculo. Arrepiou-se ao ver o corpo do chefe de polícia totalmente ressecado; entrou no círculo e carregou Sophia para fora! Voltou para pegar Hélio, mas sentiu quando duas mãozinhas, lhe seguraram pelas pernas; olhou para baixo e viu a boneca com parte do corpo sob Éster, tentando lhe segurar. Ergueu o corsier; Éster despertou e quando viu a intenção de Norma; gritou:

          - Nãããoooo!

          Norma cravou o lado pontiagudo do corsier na cabeça da boneca! O demônio leviatã saltou um grito tão diabólico, que o próprio inferno tremeria de pavor ao ouvi-lo, quando Norma quebrou o elo que o ligava ao mundo dos vivos! A boneca estrebuchou no chão, tremendo sem parar, fora do círculo, Sophia também começou a tremer o corpo. O demônio abriu os braços, jogando Norma para longe do círculo e entrou nele, arrastando com ele para o inferno, tudo que estava dentro do círculo! Éster girou o corpo se afastando do circulo, Norma voltou a tempo de segurar nas mãos de Hélio, fazendo força para ele não sumir dentro do buraco que se abriu no chão. Já estava perdendo as forças e Hélio lhe escapulia às mãos, quando dois braços se estenderam e segurou os braços de Hélio juntamente com ela!

          Norma olhou para o lado e viu Nênia com o rosto cheio de sangue, e um lenço cobrindo metade de sua face:

          - Puuu...xaaa!!! - Gritou Nênia para Norma.
          
          As duas fizeram um esforço tremendo, mas conseguiram segurar Hélio e tirá-lo daquele buraco, antes que ele se fechasse! Norma olhou para Nênia e perguntou:

          - O que você está fazendo aqui? O que houve com o seu rosto?
          - Depois eu te explico! Você tem que sair daqui agora e levar as crianças!- Disse Nênia forçando Norma se levantar e sair com as crianças;
          - Fala pra ela o que você faz aqui, minha querida! - Falou Bruno, se refazendo da pancada que levou de Norma;
          - Do que ele está falando? - Perguntou Norma olhando para Nênia;
     - Não dê ouvidos a ele! Vá embora! Você tem que sair daqui! - Insistiu Nênia;
          - Não tenha tanta pressa meu amor! - O outro encapuzado segurou Nênia pelas costas.

          Norma se afastou para perto das crianças; o estranho puxou o capuz da cabeça, revelando a sua identidade: Bile!

          - Mostra o teu lindo rostinho para sua irmã; - Bile tirou o lenço do rosto de Nênia e Norma pode ver o buraco no lugar do olho esquerdo, de onde provinha aquele sangramento;

          - Esse olho - Bile apontou para o olho sobre o pano vermelho no chão - pertence a sua linda irmãzinha;          
          Norma olhou horrorizada para o objeto apontado por Bile. Quando ela olhou para sua irmã, percebeu pendurado em seu pescoço, a corrente com o tetragrammaton pendurado; o mesmo que os outros estavam usando!

          - O que você faz com isso em seu pescoço? Você..., você faz parte desse ritual? - Perguntou Norma, não acreditando no que via;     
          - Ah! Você não sabia...? Deixa eu te contar então: - Bile começou a contar como foi que Nênia entrou e aceitou a fazer parte da sociedade secreta. Contou como conseguiu lançar uma doença sobre sua mãe, após Nênia levar uma mexa de cabelo dela, depois de uma visita que ela fez a própria mãe:
          - Então naquele dia que mamãe quis te dar a bíblia, você só foi lá para pegar o cabelo dela? - Disse Norma com lágrimas nos olhos, olhando para a irmã;
          - E como você acha que conseguimos as fotos de toda a sua família?
          - Então..., não foi alucinação? - Norma lembrou do quarto;
          - Como é que você teve coragem; sua própria família! - Norma explodiu!
          
          Norma estava tão concentrada nas coisa que Bile falava, que não viu quando Bruno e a velha, caminharam lentamente em direção a ela e as crianças:

          - Eu me arrependi! Como é que você acha que eu estou sem meu olho? - Quis se justificar Nênia;
          - Nênia! A deusa que presidia os funerais e os cantos lúgubres em homenagem aos mortos! Segundo a mitologia; - Disse Bile, e sacudiu Nênia pelos cabelos;
          - Você não precisava estar presente para presidir este ritual; somente seu olho, era necessário! - Concluiu ele;
          - Você acha que é fácil enganar os espíritos? Éster teve que se fingir de boazinha para trazer sua irmã até aqui! Até você mesma, teve que fingir! - Disse Bile com raiva;
          - Mas por qual motivo, era preciso matar minha mãe? - Perguntou Norma;
          - Todo circulo, é formado pelos nomes perfeitos que se completam! Sua mãe, tinha um nome que era preciso retirá-lo, do círculo!
          - Não compreendo! - Disse ela;
          - Nazaré; significa guarda, sentinela, no hebraico! Não podíamos chegar até vocês, enquanto ela estivesse viva! - Bile saltou uma gargalhada;

          Norma estava tão concentrada em Bile, que não percebeu que Bruno, e a velha, se aproximavam dela e das crianças. Nênia percebendo a ação dos dois, em um movimento rápido, conseguiu se livrar das mão de Bile; tomou de suas mãos a faca em forma de lua e correu em direção a Norma. Ela abraçou as crianças pensando que Nênia a estava atacando, sentiu quando o corpo inerte da velha caiu ao seu lado e Bruno caiu à sua frente, se arrastando com a mão estendida em direção a Sophia, mas caindo morto logo em seguida; teve a cabeça quase arrancada com o golpe da faca desferido por Nênia.

          No meio da confusão, Éster segurou a boneca nos braços; ela sangrava como se fosse um ser humano. Éster passou a mão pelo sangue dela e passou por trás de Norma sem que ela percebesse, nesse momento, Nênia já havia sido novamente dominada por Bile. Éster aproveitou o momento em que Norma relaxou os braços e colocou Sophia no chão, para passar a mão suja com sangue pelo rosto de Sophia.
     
          Norma deu um tapa no rosto de Éster, fazendo ela cair, ao tempo que pegava Sophia de volta no colo:

          - Eu só quero fazer a menina ficar bem! - Disse ela para Norma;
          - Não acredite nela! Seu verdadeiro nome é ELAMDOR!(8) Ela quer te enganar! - Gritou Nênia.

          Norma olhou para Nênia e viu na hora em que Bile tomou a faca de suas mãos, e enfiava em seu peito! Norma gritou; Nênia caiu agonizando em seus pés:

          - Me..., per..., doa...! - Foram as suas últimas palavras, morreu com o olho aberto, olhando para a irmã!

          Norma olhou em seu olho e viu um esquadro e um compasso, gravado em sua córnea, e a letra G em sua íris, um dos símbolos maçônicos, ligados aos iluminatis. Bile começou a caminhar em direção a Norma. Ela começou a chegar para trás, arrastando-se sentada com os filhos nos braços:

          - Só queremos a criança para realizar o ritual! - Disse ele se aproximando de Norma;
          - Nos deixe em paz! - Gritou Norma, apertando os filhos nos braços.

          Olhou para o centro da sala, e viu as seis meninas se arrastarem, em sua direção, deixando um rastro de carne podre em putrefação e sangue pelo chão! Norma pode sentir o odor fedido e insuportável que exalava daqueles pequenos corpos. Sabia agora, que elas eram as meninas que o chefe de polícia Viegas encontrou mortas, quando investigava o sumiço de crianças para realização de rituais satânicos.

          Apertou as vistas por mais de duas vezes, por hora enxergar, que eram bonecas e não meninas que estavam indo em sua direção; a verdade é que aqueles demônios, assumiam as duas formas. Norma continuou a chegar para trás até acabar encostando, na parede; sentiu que alguma coisa rolou por sob suas pernas. Ela passou a mão pelo chão e sentiu o corsier que tinha voado quando leviatã e a boneca de Sophia, foram sugados para dentro do buraco.

          Norma segurou firme o bastão pelo meio, e esperou o momento certo! Éster abriu o Heptameron, e começou a ler um ritual, Sophia e Hélio, começaram a tremer nos braços de Norma, fazendo com que ela curvasse seu corpo sobre o dos filhos para não lhe escaparem. Bile aproveitando que Norma baixou a cabeça, tentou se abaixar e resgatar Sophia de Norma; foi seu erro fatal: Norma apoiou o bastão no canto da parede e colocou a outra extremidade inclinada, na direção do pescoço de Bile. A ponta do corsier atravessou sua garganta, indo sair pela nuca, do outro lado. Uma por uma, as meninas foram tomando a forma de boneca, parando a poucos centímetros de Norma.

          Éster parou de ler o Heptameron e correu em direção a Norma, puxando Sophia e Hélio de seus braços violentamente, e cravando suas mãos na garganta de Norma, as duas entraram em uma luta corporal. Norma tentava sem sucesso, livrar-se das mãos de Éster, que aos poucos, sua face foi mudando, até se transformar na face deformada de um morto vivo!

          Norma já estava perdendo as forças e aliviando as mãos, quando Éster, agora transformada em elamdor, abriu as mãos libertando o pescoço de Norma; foi inclinando lentamente sua cabeça, mas com o olhar fixo nos olhos de Norma, até cair no chão! Norma a empurrou de cima de seu corpo e sentou, observando a mutação que ela estava passando: se debatia no chão aos pés de Norma, e seu corpo e rosto começaram a ENCANECER (9), secando como se fossem uma árvore quando morre, por falta de chuva.   

          Norma olhou para frente, e viu Sophia em pé, com a bolline nas mãos, ainda pingando o sangue, do corpo de Éster...
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          ... Passaram-se dois meses, até Norma conseguir reorganizar as coisas em sua vida. Após sepultar seu marido e sua irmã, resolveu mudar de residência; mas antes de sair da casa, pintou as marcações no piso do quarto das crianças, ela não conseguiu removê-las. Ao sair da casa de Éster, quebrou o espelho em mil pedaços!

          Aparentemente, as crianças estavam bem! Norma evitava tocar no assunto e tentava apagar da mente, o que para ela era inconcebível, a idéia de tudo aquilo ter sido verdade! Mas o fato era as marcas em seu pescoço, que lhe diziam que tudo foi real.

          Após mais um dia de trabalho, estava em casa à noite com as crianças, assistindo a TV. Hélio deu boa noite para a mãe e foi para o quarto, Sophia ainda permaneceu com ela na sala. Devido ao cansaço, Norma pegou no sono, deitada no sofá.

          Despertou bem mais tarde, ao ouvir bem baixinho uma conversa vindo do quarto das crianças. Levantou ainda meio zonza pelo sono, e caminhou em direção ao quarto. Ao chegar na porta, ainda pode ouvir Sophia falar:

          - Hélio, vem brincar também!
          - Não quero! – Norma olhou para o relógio em seu pulso; marcava meia-noite;
          - “Isso são horas dessas crianças brincarem?” – Pensou consigo mesma.

          Empurrou a porta do quarto e olhou; encontrou Hélio deitado na cama, coberto da cabeça aos pés, e Sophia sentada na cama, de costas para a porta, olhando para o piso:

          - Sofi, minha filha; isso é hora de brincar? – Perguntou Norma, ainda parada na porta do quarto;
          - Mas só posso brincar nessa hora mamãe! - Respondeu ela, sem virar em direção a Norma;
          - Você tem o dia inteiro pra brincar amanhã, minha filha! - Falou Norma com carinho;
          - Mas elas não podem brincar de dia! – Sophia respondia, sem mudar de posição;
          - Elas quem...? De quem você está falando Sophia? – O coração de Norma gelou; adentrou no quarto, e caminhou em direção a Sophia;
          - De Éster e de suas irmãs! – Sophia levantou a cabeça e girou o corpo lentamente em direção a Norma.

          Norma parou no meio do caminho como uma estátua! Olhou os olhos de Sophia e eles estavam com aquele brilho vermelho fogo, o mesmo que ela vira antes!

          Tentou dar dois passos para trás, mas a porta se fechou violentamente! Virou-se ao ouvir a porta bater, e viu quando dois demônios com aspectos femininos caminharam, em sua direção; reconheceu, apesar da deformidade, Éster e sua mãe; Norma se apavorou!

               Ela olhou para Sophia, e viu em suas mãos, um pequeno fragmento do espelho quebrado. Sophia carregou a boneca e colocou em seu colo, e logo em seguida, as seis meninas se arrastaram do chão, para cima da cama.
     
          Sophia alisou o rosto da boneca, sendo retribuída, e falou para sua mãe:
          
          - Mamãe, vem brincar com agente!!!

          O quarto entrou numa profunda escuridão e naquela noite, os vizinhos escutaram gritos de dores horripilantes, vindo da casa, de sua mais nova vizinha...
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NECROMANCIA (3) - Termo originado de duas palavras gregas que significam cadáver e adivinhação. Previsão do futuro através da comunicação com o espírito dos mortos. A necromancia era muito difundida na Antiguidade.

SANDICINO (4) - De cor escarlate ou vermelha.              

LEVIATÃ (5) - No Satanismo, de acordo com escritor ocultista Anton LaVey, Leviatã representa o elemento Água e a direção do Ocidente. Na Bíblia Satânica, Leviatã é listado como um dos Quatro príncipes do Inferno.

ACRE (6) - De sabor ácido ou amargo, áspero, acerbo.

ÁGUA (7) - Água no Satanismo é associado com a vida e a criação, e pode ser representado por um cálice durante o ritual.

ELAMDOR (8) - Demônio dos truques e enganos.

ENCANECER (9) – Tornar-se branco, pouco a pouco; envelhecer.

HEPTAMERON - Este livro foi dividido em duas partes: a primeira ensina a comunicar-se com os espíritos do Ar, através de invocações a serem realizadas durante os sete dias da semana. Na Segunda parte, uma série de fórmulas ensina como conjurar entidades para descobrir tesouros, escutar segredos, fazer alguém se apaixonar, abrir cadeados e mais uma série imensa de utilidades práticas do cotidiano.
Tanto no Heptameron quanto nos outros tratados de Magia citados, as descrições são extremamente confusas. Alguns rituais são simplesmente impraticáveis. Por serem de Magia Negra, exigem instrumentos e elementos impossíveis de serem obtidos. Neste livro encontra-se gráficos ligados a Cabala e uma simbologia complexa, além das descrições em latim, compreensíveis apenas àqueles que possuam um conhecimento prévio.

CONSELHO: PESQUISE A ORINGEM DOS NOMES, ANTES DE COLOCÁ-LOS, EM SEUS FILHOS......

EMANNUEL ISAC

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