O Jongo Trio foi – e ainda é – uma das minhas grandes paixões musicais, talvez até a maior de todas. Já escrevi dois textos sobre esse trio fabuloso: o primeiro se chama simplesmente “Jongo Trio” e o segundo “Justiça Seja Feita (embora um pouco tardia)”. Os dois estão publicados na internet, inclusive aqui no Recanto das Letras.
Com este texto encerro a trilogia que me propus fazer, contando um pouco da história do conjunto, bem como de seus integrantes: Cido Bianchi – piano, natural de Ribeirão Preto/SP; Sebastião Oliveira da Paz, o Sabá – contrabaixo, nascido em Belém do Pará e que é irmão de Luiz Chaves, baixista do Zimbo Trio; Toninho Pinheiro – bateria, natural de São Paulo, capital. Esta foi a formação original do Jongo, que gravou apenas um LP pelo pequeno selo Farroupilha, e que foi um sucesso fenomenal. Com outra formação, constituída por Toninho Pinheiro, ao lado de Paulo Roberto (piano) e Claiber (baixo), e com o nome de Jongo Trio e Companhia, o conjunto gravou os LPs "Jongo" (1970) e "Jongo Trio" (1972). Mas esses dois discos “não aconteceram”.
Em entrevista concedida em 2001, quando contava com 74 anos de idade, Sabá disse que ainda se surpreendia com a repercussão do trio, formado em 1965. Um conjunto tão especial que até foi homenageado pelo compositor Eduardo Gudin, com a canção Jongo Trio (gravada por Vânia Bastos, no CD Canta Mais, lançado em 1994 pela Velas). Os três músicos se reuniram somente para a gravação dessa faixa do disco, que contou também com Gudin ao violão, Jorginho Cebion no ganzá e Edson José Alves na flauta.
A letra diz assim: “Era um piano / Era a cidade / E tinha tudo a ver / Tinha o poeta a felicidade / Muito para se dizer / Que som mais lindo no ar, viu / As melodias do Tom / E o Jongo Trio pra tocar, bom! / As sabadaba as sabadaba / Coisas da bossa nova / Ai quem me dera ter a ilusão / Que o tempo será bom com as canções / Que foram as mais lindas canções / Tão cheias de paz”. Só foi cometido um pecado mortal nessa gravação: o Jongo não cantou, limitando-se ao acompanhamento instrumental, por sinal bastante discreto.
A história do Jongo começa quando Toninho Pinheiro procurou por Sabá na casa noturna Baiúca, em São Paulo, convidando-o para formar um trio, com os três instrumentos básicos (piano, bateria e contrabaixo), mas que também cantasse, tal como fazia o Tamba Trio, no Rio. Logo começaram a ensaiar com Cido Bianchi e em pouco mais de dois meses o repertório do disco estava pronto.
O nome Jongo foi sugerido pela pianista Vera Brasil, que teve a singela “Vai, João”, música de sua autoria, incluída no disco.
Quando menos se esperava alguma novidade em termos de “trios”, o surgimento do Jongo foi arrasador e totalmente inovador, destacando-se imediatamente sobre todos os demais.
A estréia oficial foi no Teatro de Arena, que era o espaço de divulgação da bossa nova em São Paulo. Escolheram “Menino das Laranjas”. O sucesso foi tamanho que o produtor do show, Moracy do Val, só deixou os três saírem do palco depois de apresentarem oito números.
O que mais chamava a atenção no Jongo eram os vocais arrojados, cujo mérito maior pertence a Cido Bianchi, o único dos três que tinha estudado canto a sério.
Apesar do grande sucesso, inclusive no Rio de Janeiro, onde reinava absoluto o Tamba Trio, o conjunto entrou em crise no início de 1966. Foi quando Sabá e Toninho começaram a tocar com César Camargo Mariano, o que acabou originando o Som Três que, nem de longe, teve o sucesso do Jongo.
Cido havia registrado o nome “Jongo Trio”, daí a necessidade da mudança de nome do conjunto para Som Três. Sabá acabou reconhecendo que Cido agiu certo, pois, “na verdade demos uma puxada de tapete nele”. O motivo para a separação foi – ainda segundo Sabá – de cunho musical. Mas isso nunca ficou devidamente esclarecido.
Certamente existiram outros conjuntos de grande sucesso na mesma época em que surgiu o Jongo Trio. Um desses conjuntos, anterior até ao Jongo, foi “Os Cariocas” que atua até hoje, mesmo não tendo mais a formação original. Somente Severino Filho, piano, permanece. Eles sempre tiveram uma afinação exemplar enquanto cantavam, mas na parte instrumental deixavam a desejar. Por outro lado, o Tamba Trio era excelente nos instrumentos, mas a parte vocal ficava a dever. Isso era um consenso na época, principalmente entre os críticos musicais e os apreciadores da bossa nova, o que levou o irreverente Ronaldo Bôscoli a declarar: “Se Os Cariocas apenas cantassem e o Tamba Trio apenas tocasse seria a combinação perfeita”.
O Jongo conseguiu reunir as duas coisas: afinadíssimos e perfeitos, tanto cantando, quanto tocando, e, se me pedissem para defini-los em apenas uma palavra, diria apenas e sem medo de errar: irrepreensível.
Essa foi resumidamente, a história do Jongo Trio, que para mim foi o conjunto instrumental e vocal mais importante, afinado e de bom gosto da música popular brasileira de todos os tempos.
******
|