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JONGO TRIO - O INÍCIO
Arnaldo Agria Huss

Resumo:
O início da trajetória de um dos mais fantásticos conjuntos musicais que o Brasil já conheceu. Formado por Cido Bianchi (piano), Sabá (baixo) e Toninho Pinheiro (bateria) o Jongo foi um marco na música popular brasileira.

A década de 60 foi pródiga em termos de música popular brasileira. Foi também a década que viu a minha transformação de adolescente para um jovem com muita música dentro de si, mesmo sem nunca ter estudado para tal. Aliás, detestava a disciplina de “Música” no antigo curso ginasial.

Quem já leu o meu texto “MAESTROS” sabe que sempre fui um apaixonado por música instrumental, tendo verdadeira admiração pelos regentes daquelas orquestras maravilhosas.
     
Mas nem só de música instrumental sobrevive minha alma musical. Na verdade, a boa música me encanta, seja ela nacional ou internacional e posso dizer que tenho uma boa coleção de discos de vinil (long-playing e compactos), CD’ s, fitas magnéticas e até alguns bolachões de 78 rpm, aqueles discos pesados que continham uma música de cada lado, com no máximo três minutos e meio de duração cada uma, caso contrário não caberiam no espaço do disco.
     
Na década de 60, ocorreram os festivais de MPB levados ao ar pela TV Record de São Paulo (do tempo de Paulinho Machado de Carvalho). Porém, o primeiro deles foi produzido pela extinta TV Excelsior de São Paulo, que teve a música “Arrastão” (Edu Lobo e Vinícius de Moraes) como a grande vencedora, na interpretação da pimentinha Elis Regina. Isso no ano de 1965. No ano seguinte, já pela Record, Chico Buarque iria consagrar-se definitivamente com “A Banda”, interpretada pela musa Nara Leão (dona dos mais belos joelhos da turma da bossa-nova). E assim seguiam-se os festivais naqueles anos muito bem definidos como “anos dourados”.
     
Nessa década fértil para a MPB surgiu um conjunto musical – entre tantos outros já existentes – que marcou época, apesar de ter gravado apenas um long-playing. Tocavam nos programas da TV Record, acompanhavam Elis Regina e outros monstros sagrados da nossa música e, além disso, eram afinadíssimos quando também cantavam. Sim, eles tocavam seus instrumentos e cantavam maravilhosamente bem. Quem já tocou algum instrumento que permita cantar ao mesmo tempo, sabe o quanto isso não é fácil. E o Jongo Trio fazia isso com uma maestria ímpar. Era composto por Aparecido – Cido – Bianchi (piano), Sebastião Oliveira da Paz – Sabá (contra-baixo) e Antonio Pinheiro Filho – Toninho (bateria). Três músicos fantásticos, onde o piano se transformava em uma diversão para Cido, o contra-baixo em um amigo para Sabá e a bateria em uma grande companheira para Toninho.
     
O único disco que gravaram chamou-se simplesmente “JONGO TRIO”, e foi lançado em 1965 pelo selo Farroupilha. Logo que surgiu a era do CD, esse foi um dos primeiros discos que saí à caça, na esperança de vê-lo digitalizado, de forma a eternizar esses momentos musicais maravilhosos. Não o encontrei em lugar algum, mas como sou aficionado por esse disco, no dia 13 de abril de 1997 pedi a um amigo que o digitalizasse, mantendo todos aqueles chiados característicos dos discos de vinil que só os amantes da boa música sabem reconhecer e valorizar. As músicas que constam deste disco são as seguintes: No Lado A: 1. O menino das laranjas (Théo); 2. Feitinha pro poeta (Baden Powell); 3. Ela vai, ela vem (Menescal & Bôscoli); 4. Eternidade (Luiz Chaves & Adilson Godoy); 5. Terra de ninguém (Marcos e Paulo Sérgio Valle); 6. Seu Chopin, desculpe (Johnny Alf); No Lado B: 1. Arrastão (Edu Lobo & Vinícius de Moraes); 2. Garota moderna (Evaldo Gouveia & Jair Amorim); 3. Vai João (Vera Brasil); 4. Reza (Edu Lobo & Ruy Guerra); 5. Balanço número 1 (Hermeto Pascoal); 6. Deus é brasileiro (Marcos & Paulo Sérgio Valle). Sem dúvida alguma, o maior sucesso do disco foi “Feitinha pro poeta” que estourou nas emissoras de rádio, tanto que foi lançada também em compacto simples, tendo no lado B “Terra de ninguém”. Mas, “Eternidade” (instrumental) é a obra-prima das obras-primas, onde Cido arrasa no piano e em “Arrastão” a bateria de Antoninho parece falar mais alto.
     
Existem coisas que não se explicam devendo-se aceitá-las como são. Passados mais de 40 anos do lançamento desse disco, ainda o considero um dos melhores da discografia brasileira e por que não dizer, da discografia internacional. Não sou crítico musical, nunca estudei música (apesar de ter tocado bateria quando jovem numa formação que era completada com piano e violão), não sei cantar e também não sou nada versátil na dança. Essa é simplesmente a minha opinião sobre o disco e sobre o mais espetacular conjunto musical (nesse estilo) que já tivemos. Se você me perguntar o motivo, vou responder-lhe do meu jeito: “Não sei!!! Apenas sinto isso. Gosto muito e toda vez que ouço (muitas) fico embevecido com a obra que eles fizeram!!!”.
     
Escrevi este texto inspirado no livro que acabo de ler “Música nas Veias”, de Zuza Homem de Mello (com autógrafo e tudo), uma verdadeira aula musical para aqueles que, como eu, amam a música na sua mais pura essência. No livro ele não cita o Jongo Trio, mas tenho certeza que ele também curtiu, e muito, esse fantástico conjunto.
     
Chega de falar do disco e dos músicos. Agora com a Internet talvez fique mais fácil encontrar o disco inteiro para baixar (ainda não o procurei e não vou fazê-lo pois a gravação digitalizada que tenho com todos os chiados originais é imbatível). Mas, se você ficou curioso, tem bom gosto musical ou se teve a memória reativada com o que leu aqui e ainda não tem o disco, não perca tempo. Procure achá-lo em algum lugar e ouça-o, se possível com fones de ouvido na primeira vez, para captar todos os acordes maravilhosos desses músicos fantásticos.

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Biografia:
Se as pessoas conhecem os meus textos, isso é o suficiente. Eles dizem tudo o que eu tenho a dizer, mesmo que as situações descritas não tenham acontecido diretamente comigo.
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