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Conselho de Amigo
Rondinei Machado Flóro

Resumo:
Conto ácido, super bem humorado, com um final à la Nelson Rodrigues

CONSELHO DE AMIGO

     Naquela sexta, Maneco resolveu que não entraria em nenhuma aula. Passou pelos portões da faculdade, atravessou a rua e foi direto pro Havana.
     Entrou já com o radar ligado, observando em todas as mesas,em meio àquela verdadeira savana de loiras de minissaia, à procura de alguma gazela desgarrada do rebanho. Mas ao invés disso, encontrou lá nos fundos do bar, o seu amigo Alcindo, escondido atrás do copo de chope, fitando o vazio, absorto em seus pensamentos.
     - E aí Alcindo, que cara de enterro é essa meu filho? – Maneco tinha esse hábito irritante de chamar todo mundo de meu filho.
     - Oi Maneco. Senta aí. Ah você sabe como é né. – Maneco sabia sim. Alcindo namorava uma loira da Educação Física. Dessas loiras altas, caneludas, com jeito de rainha da festa da uva de Caxias do Sul. Namoraram durante quase seis meses. Aí no mês passado aconteceu algo que todo mundo já imaginava que iria acontecer. A loira do Alcindo chegou uma noite, e disse que eles precisavam conversar. Saíram pra conversar, e tiveram “aquela” conversa. Depois disso ele ficou uma semana sem aparecer. Quando voltou estava com aquela cara de vira lata que foi abandonado na rodovia.
     - Não entendo Maneco! Sempre fui um bom namorado. Sempre fiz de tudo por essa menina. Até deixei de vir no bar com vocês pra ficar com ela. – Maneco que sempre fora um autêntico canalha, tinha lá suas teorias que explicavam o mistério. Sem fazer rodeios, perguntou à queima roupa:
     - E como era a relação de vocês na cama Alcindo? Você fazia de “tudo” mesmo por ela?
     Alcindo arregalou os olhos. Sabia bem o que o outro queria dizer. Uma noite estavam ali mesmo no Havana, quando surgiu não sei como, uma conversa sobre sexo oral. Acho que foi o Armando que puxou o assunto. Todos enumeraram as suas proezas e façanhas, de como faziam suas parceiras delirarem de prazer. O Bira disse que a namorada dele sempre lhe arrancava chumaços de cabelo nessas ocasiões. Isso talvez explicasse as suas já avançadas entradas no alto da testa. Alcindo ficou mudo. Ouvia num silêncio nervoso as histórias dos outros. Começou a suar.
     Quando pensou em levantar para ir ao banheiro para escapar do assunto espinhoso, o Armando tascou:
     - E você Alcindo? Não fala nada? Não sei não hein, pela tua cara você parecer ter nojinho dessas coisas. Fala a verdade aí vai!
     Todo mundo riu. Alcindo ficou vermelho de vergonha. Começou a tossir. Tomou um longo gole do chope. Pensou rápido, e saiu com essa:
     - Eu não gosto de ficar expondo minha vida sexual em mesa de botequim. Isso pra mim é coisa de pedreiro e de operário.
     Nesse dia Maneco teve certeza que o amigo não era chegado nessa modalidade. Por isso a pergunta agora.
     - E então Alcindo? Você sabe do que eu to falando, não sabe? – Claro que o outro sabia.
     - É Maneco, eu sei sim do que você ta falando..- Falou já com as orelhas em chamas. Sentia vergonha em admitir, mas realmente tinha nojo. Nojo ainda é pouco. Tinha ojeriza! Não sabia como os amigos falavam daquilo babando, com água na boca. Só de pensar no cheiro, nas bactérias e o gosto de urina que devia ter! Blé! Que nojo!
     - Olha aí! Ta vendo? Deve ser por isso que a tua loira te deixou Alcindo. Vacilo teu né meu filho! Entre quatro paredes não pode ter lugar pra essas frescuras Alcindo! Nessas horas você precisa ser um animal! Uma verdadeira besta sexual Alcindo! Precisa chafurdar igual a um porco Alcindo! – O Maneco se empolgava com o próprio discurso. Tinha o dom da oratória. Um verdadeiro Hitler das perversões sexuais.
     O caso é que passados alguns dias da infame conversa com o amigo, Alcindo encontrou a sua loira num churrasco da turma de engenharia. Tinha ido com o Bira, que também tinha levado um pé da namorada. Aquela mesma que lhe arrancava os cabelos.
     Estavam lá os dois perto da barraca de bebidas, esperando pra pegar mais uma cerveja, e sair logo de perto do aparelho de som. Churrasco de engenharia é sempre aquilo. Musica ruim, um bando de bêbados jogando baralho e pouca mulher.
     Alcindo já pensava em ir embora, quando viu a sua loira saindo do banheiro cambaleando. Segurando um copo de caipirinha na mão, e um cigarro na outra. Mesmo no avançado estágio etílico em que se encontrava, ela mantinha a elegância de uma garça, com suas longas pernas de loira. Veio andando trôpega na direção de Alcindo. Quando passou por ele, Alcindo pensou em dizer um oi. Disse: - Oi!
      Ela sem dizer palavra se pendurou no pescoço dele, afogando o pobre Alcindo num beijo de bêbada que já está sem dono. Depois abriu os olhos, fez um biquinho e miou:
     - Me leva pra tua casa? – Alcindo não acreditou. Abraçou a sua loira pela cintura e ajudou-a a chegar até o carro. Até esqueceu do Bira que tinha ido conferir uma morena, que ele achou que tava dando mole pra ele.
     Quando chegaram em casa, a loira do Alcindo já estava melhor. Entraram se beijando, tropeçando nos móveis, deixando um rastro de roupas pelo caminho. Conseguiram chegar ao quarto. Ela tirou os sapatos e deitou na cama.
     Foi aí que Alcindo lembrou dos conselhos do Maneco, e não teve duvidas: é hoje que eu supero esse tabu!
     Ficaram por algum tempo se beijando e se bolinando. Quando ela estava só de calcinha ele pensou: é agora! Vou fechar os olhos e virar um animal! Uma verdadeira besta sexual, chafurdar como um porco!
     Com toda parcimônia, tirou a calcinha, e foi se aproximando, beijando a barriga, e descendo bem devagar. Quando sua boca estava a um centímetro, sentiu aquele cheirinho azedo de queijo gorgonzola. Instintivamente quis recuar, mas pensou no que o amigo tinha dito, de isto ser o motivo dela tê-lo deixado. Respirou fundo, fechou os olhos, e se encheu de coragem, como um soldado na linha de frente, que corre em direção às balas inimigas. E foi. Quando abriu os olhos, viu que estava conseguindo! A loira se contorcia como uma minhoca epilética, e puxava com força os seus cabelos. Estava conseguindo! Não podia acreditar! Aguentou bravamente por quase dois minutos. Então subitamente, sentiu a bílis borbulhando e rapidamente subir queimando-lhe o esôfago. Não conseguiu segurar. Deu aquela solene gorfada em cima daquela barriga de mármore da loira. Ela levantou horrorizada, xingando de tudo quanto é nome, procurando as suas roupas. Vestiu-se e foi embora pra nunca mais voltar.

     Duas semanas depois, Alcindo se olhava no espelho. Uma expressão de derrota miserável! Seus lábios estavam cobertos de pequenas bolhas de pus. Além de não ter conseguido recuperar a sua loira, ainda havia contraído herpes! Maldito Maneco!



Rondinei Machado Flóro
contato: rondineimachado@gmail.com


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