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O QUINTAL DE DONA MARIA - PARTE 3
EMANNUEL ISAC

Marquinhos se encolheu na parede! Passou por sua cabeça um turbilhão de pensamentos, no que aquela mulher maluca faria com ele, se o encontrasse ali. Para sua sorte, Dona Maria deixou os sacos no chão e entrou na casa, ele aproveitou o momento e disparou na direção da frente da casa, ganhando o pé de manga; o escalou, pulando para o pé do Ipê Roxo e em seguida, a rua! O resto da turma, já estava preocupada e assim que ele chegou no chão, todos foram em cima dele:
          - E ai? Ela chegou a ver você? Chegou a ver o que ela trazia na carroça? – Todos perguntavam ao mesmo tempo;      
          - Foi por pouco que ela não me viu! Agora, acho que ela vai matar a família toda!
          - Como assim? – Perguntou Ritinha;
          - Ela tirou da charrete, mais seis sacos e falou “agora não vai faltar mais saco pra ninguém”! – Disse Marquinhos, fazendo um certo ar de terror no ar.

          Eles se entreolharam e ficaram pensativos no que fazer. João insistiu que deveriam ir até a delegacia e falar com delegado; Marquinhos concordava mas tinha medo de responder de qual forma ele viu Dona Maria enterrando o saco, já que o delegado era categórico em deixar de castigo por um dia inteiro, quem fosse pego invadindo o quintal dos vizinhos. Resolveram investigar mais um pouco sobre aquela situação.
       ...............................     

          Naquela mesma noite, juntaram-se novamente na praça para acordarem sobre o próximo passo do plano! Decidiram que iriam vigiar a família por completo e ver se realmente faltava algum dos meninos. João falou que no final a tarde, viu quando seu bigode voltou com os outros filhos, confirmando que realmente estava faltando um, do total de membros da família.     

          Ritinha propôs, que se realmente eles quisessem descobrir alguma coisa, teriam que entrar na casa e falar com dona Maria. Inventariam uma desculpa qualquer e tentariam puxar assunto sobre os filhos dela.

          O impasse se deu, quando decidiam quem iria ter coragem para falar com a mulher; Ritinha disse que se aquela estória fosse realmente verdadeira, e a mulher tentasse algo contra ela, ela não teria forças para fugir e por esta razão, sugeriu que João, por ser o mais velho e mais forte, fosse falar com a mulher.

          Decidida a situação, o segundo passo seria como provar para o Delegado, um assassinato! Como explicariam as circunstâncias em que fora descoberto. Ritinha, como sempre, tratou de acalmar a turma quando falou que isso seria relevante, diante da gravidade da situação.

          Acertado todos os detalhes, João se dirigiu à casa de dona Maria, sendo observado pelos demais. Quando se preparava para tocar a campainha, percebeu que o portão estava entreaberto; empurrou vagarosamente, usando a ponta dos dedos e olhou ao redor; viu um feixe de luz que vinha do fundo da casa e fez sinal para que alguém do grupo fosse até ele.

          Como ninguém se apresentou, Ritinha deu um empurrão em Marquinhos, que a olhou com a expressão de: “PORQUE EU”?, e antes mesmo que ele falasse alguma coisa, Ritinha completou:

          - Você foi quem ficou dentro do quinta!

          Marquinhos juntou-se à João e os dois seguiram na ponta dos pés em direção ao fundo do quintal. Marquinhos mostrou a João um movimento que vinha da porta que antes vira trancada á cadeado e de onde exalava o cheiro de carne podre:

          - Foi ali que sentimos o cheiro podre! – Disse ele, apontando a direção;
          - E o que tinha lá dentro? – Perguntou João;
          - Não sei! O quarto estava trancado!

          Os dois se aproximaram mais ainda do lugar, esgueirando pelos cantos que encontravam. Pararam atrás da velha charrete e viram quando Dona Maria surgiu na porta do quarto, arrastando algo grande e pesado para fora. Marquinhos começou a suar frio, quando viu a mulher olhar na direção da charrete, por pouco, ela não os vê; tiveram que abaixar a cabeça com uma rapidez, que João quase bate com o queixo no ferro lateral.

          João sentiu o coração gelar, enquanto que Marquinhos, segurou firme em seu pulso quando ouviram Dona Maria falar:
          - Peste! Tu ainda está vivo, coisa ruim?

          Os dois suspenderam a cabeça lentamente ao mesmo tempo, e ainda puderam ver quando a mulher ergueu um grande facão e desferiu um golpe em alguma coisa que estava próximo a seus pés, e que a mesa comprida de madeira entre ela e a porta do quarto, impedia de deixá-los ver no que ela acertara:

          - Quero ver tu se mexer agora!

          A mulher que estava curvada devido ao movimento que fizera com o facão, ergue o corpo e os dois viram o sangue que escorria do seu rosto sujando a sua roupa:

          - Dois já se foram, agora faltam quatro! – Disseela, passando a mão pelo rosto para limpar o sangue que escorria por sua face.

          Marquinhos começou a tremer como uma vara verde, enquanto que João tentava enxergar o que Dona Maria tentava enfiar dentro do saco. A mulher puxou o zíper do saco após colocar dentro dele o que para João pareceu ser um corpo branco e desfigurado, e fechou a porta do quarto com o cadeado. Abriu uma torneira próxima e começou a jogar água no chão, fazendo com que o sangue espelhado escorresse ralo à baixo.

          Os dois rapazes deitaram embaixo da charrete, quando viram dona Maria colocar o saco sobre um carrinho de mão e ir na direção do pé de manga. A mulher repetiu o mesmo processo que fizera da primeira vez em que Marquinhos foi testemunha.

          Após enterrar o saco próximo ao outro, Dona Maria voltava com o carrinho, quando seu esposo saiu da casa e parou próximo à charrete; os dois rapazes prenderam a respiração:

          - Tá feito! – Disse ela se aproximando de seu Bigode;
          - Melhor assim! – Respondeu ele;
          - Mesmo assim, ainda restam quatro bocas para alimentar! – Completou ela, respirando fundo;
- Você ainda tem coragem de dar cabo nas quatro? – Perguntou ele;
          - Se é pra ficar melhor para nós dois, sim! – Respondeu ela sorrindo;
          - A minha única preocupação, é se alguém der por falta deles;
          - Ninguém vai notar a falta de uma coisa que só nós aqui de casa, sabemos existir! – Disse ela com a expressão séria no rosto;
          - E se eles perguntarem? – Seu Bigode olhou na direção da casa;
          - Não se preocupe! Vão sentir falta deles no início, talvez até mesmo nós dois, mas logo esqueceremos! – Respondeu ela, procurando acalmá-lo;
          - Acho que você tem razão!
          - Sempre tenho! Vamos entrar, preciso tomar um banho e tirar esta terra e este sangue de mim!
          - Nenhum de nossos vizinhos, não viram nada acontecer, não? – Perguntou ele;
          - E porque você acha que construí este muro tão alto, quando nós nos mudamos com a idéia de por fim neles?

          João e Marquinhos que escutavam tudo em silêncio debaixo da charrete, arregalaram os olhos e começaram a tremer, ao ouvirem a última frase de Dona Maria...

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