Usando a imaginação e a revelação para conhecermos nossa condição
Por John Piper
Que diferença poderia fazer em todo o nosso viver, se nos sentíssemos como se houvéssemos sido resgatados do tormento e da morte! Imagine-se em um navio da Marinha, depois de haver sido resgatado do oceano, onde você passou semanas à deriva, em um bote salva-vidas. Ou imagine-se como uma pessoa resgatada de uma mina profunda que ruiu. Ou pense numa batalha de nove meses contra um câncer, depois dos quais você ouve o médico dizer: “Não posso explicar. O câncer desapareceu”. Pense no poder da paciência, da bondade e do perdão nas primeiras horas de alívio e júbilo.
Agora, acrescente isto à sua imaginação (embora isto não exija a imaginação, mas somente a revelação bíblica): o fato de que você não merece ser resgatado. Deixe isto aprofundar-se em sua alma — peça a Deus, agora mesmo, que o faça aprofundar-se — você e eu não merecemos nada, exceto problema, perseguição, enfermidade, morte e inferno. A Bíblia diz que somos, “por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2.3). “Todos... estão debaixo do pecado... para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Romanos 3.9, 19). O “salário” de nosso pecado “é a morte” eterna (Romanos 6.23). Estamos sob a maldição da lei de Deus, porque: “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo” (Deuteronômio 27.26). “O pendor” de nossa mente natural é “inimizade contra Deus” (Romanos 8.7). Somos “estranhos às alianças da promessa”, não temos esperança e estamos “sem Deus no mundo” (Efésios 2.12). Estamos destinados a ser lançados “fora, nas trevas”, onde haverá “choro e ranger de dentes” (Mateus 8.12; 25.30). Se alguém não intervir, nosso quinhão será no lago de fogo, onde “a fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum” (Apocalipse 14.11).
Portanto, você, crente (resgatado pelo sangue de Cristo, que se tornou maldição em seu lugar), acrescente ao descanso e à felicidade de seu resgate a maravilha desconcertante e o regozijo contrito de que não merece nada disso; mas essas coisas lhe são dadas profusamente com incessante misericórdia.
Então, veja as suas aflições sob esta luz. Pense em sua condição, atentando a estas palavras de Jonathan Edwards:
Quão poucas são as grandes aflições com que nos deparamos nesta vida... são menos do que merecemos... Os maiores problemas e calamidades exteriores que enfrentamos... precisam parecer insignificantes diante da miséria que merecemos... Um homem pode se deparar com perdas muito grandes... seu gado talvez morra, sua colheita mirre, seu celeiro se incendeie, todos os seus bens sejam consumidos pelo fogo; e ele, levado de uma vida confortável a um estado de pobreza, necessidade e desventura. Isto é muito difícil de ser suportado, mas, infelizmente, quão poucas razões essas pessoas terão para lamentar, se realmente considerarem que essa situação é tão insignificante, quando comparada com a eterna destruição sobre a qual somos informados” (The Works of Jonathan Edwards, New Haven: Yale University Press, 1997, p. 321).
Devemos nos admirar de que Paulo tenha dito para pessoas em tais circunstâncias: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas” (Filipenses 2.14)? Medite em como você reagiria, se vivesse, hora após hora, na consciência sincera de que você foi resgatado de uma morte horrível e do sofrimento eterno; e de que, a despeito de não merecer qualquer ajuda, você é abençoado com misericórdia abundante, a cada dia (até nas situações difíceis) e se tornará perfeita e eternamente feliz na era vindoura.
Além disso, acrescente mais uma coisa ao seu pensamento. Aquele que o resgatou teve de morrer, para conseguir isso; Ele era a única Pessoa no universo que não merecia a morte. “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pedro 3.18).
Ó crente, conheça a sua condição — a miséria e a misericórdia. Permita que o horror do qual você foi resgatado, a misericórdia em que você vive e o preço que Cristo pagou tornem-no humilde, agradecido, paciente, amável e perdoador. Deus nunca o tratou pior do que você realmente merece. E, em Cristo, você é tratado dez milhões de vezes melhor. Sinta isso. Viva isso.
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