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O SONHO
EMANNUEL ISAC

Resumo:
Silva sempre foi um sonhador, só que desta vez, ele teve um sonho diferente...

O SONHO


          … Amanheceu mais uma vez com a bendita dor de cabeça, já não sabia mais o que fazer. Todas as manhãs a mesma coisa; tontura e a cabeça a ponto de explodir. Silva olhou ao seu redor procurando no que se apoiar; segurou firme na ponta do criado-mudo e com muita dificuldade, se pôs de pé. Olhou pela janela forçando as vistas por causa da claridade do dia: “deve ser bastante tarde”, concluiu. Tomou a direção do banheiro, abriu o chuveiro e se jogou debaixo d'água fria!

          Após sorver um gole de café, decidira andar pelas ruas do bairro. Saiu como de costume pela porta dos fundos; não queria ser visto pelos vizinhos fofoqueiros! Ao sair, sentiu uma pontada de dor no peito, sabia que precisava ir ao médico pois, sua mãe, lhe recomendara várias vezes mas como sempre, deixava para um outro dia.

          Desceu a rua olhando as casas; era impressão sua ou elas estavam com cores diferentes? Ainda ontem pareciam ser verdes, e hoje, amarelas? Achou que confundira com outras casas de uma rua vizinha. Continuou seu passeio despreocupado, percebeu que a maioria das pessoas passavam por ele sem falar, como se não o notasse! Lembrou que quando trabalhava e na pressa de não chegar atrasado, agia daquela mesma forma.

          Chegou no final da esquina que dava para a casa de sua mãe, caminhou até o portão de entrada mas o encontrou fechado com uma corrente e cadeado. Tocou o interfone, ninguém respondeu; bateu no cadeado do portão tentando ver se aparecia alguém, mas nada! - Devem ter ido à igreja! Lembrou que era domingo e sua velha mãezinha, gostava de levar seus irmãos à igreja. Ela sempre lhe falava que era preciso ter Deus sempre por perto, isso evitava de “algo de mal acontecer”. Qual mal, ele não sabia, dizia que a única forma de evitar que o mal acontecesse em sua vida, era não deixar o dinheiro acabar na sua carteira! Sorriu ao lembrar mais uma vez que sua mãe o repreendia por desdenhar de Deus. Falava não por maldade, mas só para ver dona “Maria” sair do sério; Maria! Sentiu saudades de pronunciar o nome de sua mãe, sem saber por qual motivo. De repente, a dor de cabeça novamente! Sentou-se no banco em frente à casa da família, pois resolvera que iria esperar pela volta deles.

          Reconheceu quando sua prima Júlia ia se aproximando e gritou seu nome; ela nem olhou, seguiu seu caminho sem lhe dar atenção: - também pudera; com fones no ouvido! - deve estar ouvindo música nas alturas - disse ele. Logo em seguida, seu antigo vizinho, João, passou correndo com seu cachorro preso em uma guia; o cachorro parou bruscamente em frente a Silva e começou a latir! Silva se encolheu no banco gritando para que o cachorro parasse, João puxou a guia do animal fazendo o cão engasgar o latido e retornar ao seu trajeto. “Nem um pedido de desculpas”! - Que consideração! Ponderou consigo mesmo!

          Depois de algum tempo a esperar, decidiu caminhar novamente, voltaria mais tarde, quando sua mãe estivesse em casa com seus irmãos. Passou pelo jardim da casa vizinha à de sua família e recordou do tempo de menino quando corria com seus irmãos pela grama verde em meio às flores. Foi até a praça observando as crianças que brincavam no parquinho onde por diversas vezes, também brincou: “Ai! Que saudade”! Exclamou respirando fundo.

          Sentiu nostalgia; queria àquele tempo voltar, era feliz e não sabia o quanto! Deixara de fazer tantas coisas..., olhou para o relógio e surpreendeu-se com as horas; o tempo praticamente voara e ele não notou. Voltou com os passos apressados à casa de sua mãe, as luzes da sala estavam acessas, “pelo menos, já tem gente em casa”, ficou aliviado com esta observação. Já estava prestes a tocar o interfone, quando notou que a porta da frente estava se abrindo; esperou para ver quem era e..., “quem é essa mulher”? Interrogou-se ao ver que aquela estranha não era sua mãe. A mulher olhou na direção do portão onde Silva se encontrava acendendo um cigarro mas, não esboçou alguma reação. Silva acenou com a mão direita levantada, a mulher debruçou-se sobre o para peito da varanda e pôs-se a fumar! Silva impaciente, bateu com o cadeado no portão, a mulher mais uma vez, olhou em sua direção mas, virando-se, jogou a baga do cigarro fora e voltou para dentro da casa.

          - O que está havendo? - Silva estava a se perguntar, quando um senhor que passava por ele, acompanhado de uma jovem, olhou para a casa e comentou:
          
          - É..., já faz tempo que Dona Maria se mudou com os filhos...
          - Também! Depois do que houve! - respondeu a jovem.
          - Se mudou? Do que houve? - Silva encostou-se na árvore ao lado do portão, e sentiu a cabeça como se um caminhão carregado de pedras desabasse sobre ela! De repente, começou a lembrar que sofrera um acidente há sete meses atrás, quando sentiu aquela dor insuportável no peito; tivera uma parada cardiorrespiratória, que o fez cair da moto quando voltava de uma festa e bater com a cabeça, justamente..., “nesta árvore...”

          - Como é que uma mãe suportaria continuar morando em um lugar, onde presenciou a morte do próprio filho de frente? - continuou a jovem – eu teria feito o mesmo! - concluiu ela.

          Como se fosse um telespectador assistindo a um filme que passa de trás para a frente, Silva foi aos poucos revendo os episódios ocorridos durante o dia:

- A estranha na casa de sua mãe ( ela olhando para o portão mas, não enxergara ele ali);
- O cachorro de seu João (o animal percebera sua presença, mas seu dono, só enxergou o banco vazio);
- Sua prima Júlia (agora ele viu que ela não estava com fones no ouvido, simplesmente não podia escutá-lo);
- As pessoas apressadas (na verdade, elas não o enxergou); as casas nas cores diferentes (passara por elas várias vezes e a cada vez, uma cor); e finalmente,
- O esforço que fez para levantar da cama; saindo pela porta dos fundos (não queria ser visto). Silva assistiu à todas essas cenas, em questão de milésimos de segundos.

                           Quando deu por sí, olhou ao seu redor; estava bem no meio de um cemitério. Olhou para a frente e viu escrito em uma lápide: “Aqui jaz – AUGUSTO CÉSAR SILVA – filho querido e amado. Saudades eternas de sua família”. Começou a gritar quando sentiu uma mão fria e gelada lhe tocar nos ombros, e uma voz ao longe, chamar pelo seu nome:

          - Siiiil...vaaaa..., Siiiil...vaaa...!

          Abriu os olhos, e reconheceu seu tio Leonardo que tinha falecido há mais de dois anos atrás, sentado ao seu lado, lhe observando pela abertura do caixão:

          - Sonhando que está vivo outra vez, Silva???

                                       EMANNUEL ISAC

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