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O MASSACRE
ANTONI DI VANELLA

Resumo:
Olhávamos para trás e o grande esforço dos carros de apoio para ajudar a quem esta no caminhão em chamas, era uma tarefa impossível, mas eles não desistiram mesmo com as tropas do governo se aproximando. Outro míssil atingi alguns carros que estavam ajudando, nós que observávamos aquela cena, tínhamos a sensação de estarmos morrendo um pouco, porque ali estavam as nossas mães e aqueles que foram ao socorro delas eram os nossos pais, era como se aqueles mísseis tirassem a nossa esperança, os nossos protetores, a nossa fonte de amor e nosso carinho.

Era um espetáculo maravilhoso aquele lindo amanhecer, perto das grandes montanhas, estávamos cantando e brincando, a alegria dentro do caminhão era evidente nos nossos rostos. Não sabíamos que futuro nos aguardava, mas tínhamos muita esperança, por conseguirmos deixar para trás um passado de angustia e sofrimento. Era como se a vida nos desse mais uma chance de buscarmos a nossa felicidade em um outro lugar. Mas, de repente, um grande estrondo, era um caça da força aérea de Pravda, o silencio tomou conta de todos nós, a mudança no nosso semblante era evidente da extrema alegria para o extremo desespero e medo, esse silêncio entre nós é quebrado quando um missel do caça atingi um dos caminhões, e era o caminhão que levava as nossas mães, todos começaram a gritar, a chorar, o desespero toma conta de todos nós, enquanto víamos o caminhão em chamas, era um momento agonizante. Queríamos voltar e tentar ajudar cada uma de nossas mães, mas os motoristas dos caminhões começaram a acelerar ainda mais, os carros do comboio ficaram para ajudar, e na passagem no caça outro míssil quase atingi o nosso caminhão, o impacto com solo fez com que o motorista perdesse a direção e quase tombasse, mas felizmente ele conseguiu controlar e continuou.
Olhávamos para trás e o grande esforço dos carros de apoio para ajudar a quem esta no caminhão em chamas, era uma tarefa impossível, mas eles não desistiram mesmo com as tropas do governo se aproximando. Outro míssil atingi alguns carros que estavam ajudando, nós que observávamos aquela cena, tínhamos a sensação de estarmos morrendo um pouco, porque ali estavam as nossas mães e aqueles que foram ao socorro delas eram os nossos pais, era como se aqueles mísseis tirassem a nossa esperança, os nossos protetores, a nossa fonte de amor e nosso carinho.
Derrepente, senti um impacto muito forte, parecia que meu corpo iria ser jogado para fora do caminhão, bati no teto e voltei para cima dos outros, amontoando um em cima do outro, sentia a pressão de meu corpo em outro, algo pressionava minhas costelas como se fosse perfurar, até que parou, e ai fui me dar conta que o caminhão tinha capotado e estava com as rodas para cima, era angustiante e claustrofóbico, bate um grande desespero para sair, e com muito esforço consegui sair junto com o Boris, estava pegando fogo na parte da frente, infelizmente o motorista morreu na hora.
A visão era desoladora, alguns estavam debaixo do caminhão, presos na ferragem. Cerca de quarenta de nós conseguiram sair, mas Lucas estava preso tentando sair, gritei para o Boris:
-     Vamos me ajude a tirar ele daqui?
-     Não dá, temos de correr, correr o mais rápido que podermos, se não vamos morrer. – disse ele todo assustado, com os olhos esbugalhados olhando para frente.
Quando virei, vi as tropas no caminhão das mães e nos carros que tentavam ajudar, eram disparados muitos tiros. Neste momento, olhei para aqueles que estavam presos nas ferragens e não sabia o que fazer. Muitos já estavam mortos e outros não tinham como tira-los de lá, e Lucas um dos meus vizinhos e me pediu socorro:
-     Por favor, me ajude, me tire daqui.
-     Vamos embora, não da para ajuda-los. - Gritou Boris.
-     Não posso, vamos tentar tirar pelo menos o Lucas, rápido. – ordenei
Entrei de novo debaixo do caminhão, e Boris sem saída teve que me ajudar, as pernas Lucas estavam presas, puxando com muita força consegui desloca-las, o seu grito de dor era excruciante, suas pernas estavam completamente mutiladas, e Boris o puxou e o soltou. Quando me virei para minha esquerda vi uma garotinha completamente estática, gritei para ela:
- Venha vamos sair daqui.
Mas ela estava imóvel, achei que estava presa.Cheguei mais perto e perguntei:
-     Vamos sair daqui?
-     Não, tenho medo dos homens maus. – tremia muito de medo.
-     Mas se você ficar aqui eles vão te pegar.
-     Eles pegaram mamãe e papai, e estão la fora, vão me pegar.
-     Eu te prometo que não vou deixar eles te pegarem, eu vou te proteger.
Boris la de fora grita desesperado:
-     Vamos embora, Bogdan, eles estão chegando, sai daí.
-     Já vou Boris. Me de sua mão, confie em mim.
Ela me deu sua mão, e quando puxei, respirei aliviado, ela não estava presa e nem ferida, fui tirando ela bem devagar do caminhão, quando virei para trás as tropas do governo estavam muito perto. Boris estava com Lucas nos ombros subindo a montanha com dificuldade, mas Igor estava o ajudando, peguei a menina no colo e sai correndo, comecei a subir a montanha também, neste momento alguns tiros da tropa estava acertando as pedras abaixo de nós, o desespero era grande e subíamos o mais rápido que podíamos.
Na subida alguns foram para fresta que era à entrada de uma caverna e outros infelizmente continuaram a subir, as tropas estavam muito perto de nós. De repente, ouvimos uma grande explosão, era o caminhão que tinha sido atingido pelo canhão de um dos tanques.
Entramos por essa caverna e Boris gritava:
-     Entrem o mais longe que puderem.
-     Mas esta muito escuro não estamos conseguindo enxergar nada. – gritaram.
-     Não tenham medo do escuro, tenham medo dos soldados do governo se eles nos pegarem estamos mortos, então vão mais para o fundo da caverna. – gritei.
Até que chegamos num ponto que ficamos com medo de nos perder e paramos.
-     Fiquem todos quietos não abram a boca, tem que ter um silêncio total, para eles não nos achar. – Falou Boris.
Boris ficou com Lucas e eu fiquei com a menina que estava em estado de choque. Assim ficamos ali dentro bem quietos, mal podíamos ouvir a nossa própria respiração. Mas o que ouvíamos eram tiros e gritos do lado de fora.
Mas, de repente alguém estava entrando na caverna eram os soldados do governo.
-     Tem um caverna aqui, será que tem alguém? – disse um soldado.
-     Entra e veja. – grita outro
-     Esta muito escuro, preciso de uma lanterna.
-     A mocinha esta com medo escuro. – debocha outro.
-     Não seu imbecil como vou achar alguém neste escuro, você acha que enxergo no escuro, sua anta.
-     Tome a lanterna. – veja se há alguém.
Entrou na caverna cinco soldados com três lanternas. Não podíamos ver a luz da lanterna bem lá no começo da caverna, tínhamos ido muito longe, isso nos dava um pouco de fôlego, mas de repente nós vimos a luz, nos tínhamos feito uma curva, e a luz batia da parede da caverna.
Com uma voz de sussurro Boris diz:
-     Se escondam.
Uns foram para trás da parede nas fissuras que tinham, outros esconderam atrás das pedras e outros foram mais fundo na caverna. E eles começaram a se aproximar, todos bem aramados, e foram se aproximando, chegando mais perto. O nossos corações batiam forte, nem conseguíamos respirar de tanto medo. Tapei a boca da menina para que ela não gritasse. Foram chegando mais perto, quando iam encontrar o primeiro menino escondido na fissura da parede, o radio chamou:
-     Falcão negro, para Tigre, onde vocês estão, cambio.
-     Tigre para falcão negro, estamos dentro de uma caverna a procura dos insurgentes, cambio
-     Falcão Negro para Tigre, voltem já matamos todos, conseguimos pegá-los, os que subiram a montanha foram crianças, e já matamos todas, cambio.
-     Tigre para Falcão negro, e as outras, cambio.
-     Falcão Negro para tigre, não vamos perder tempo com elas, vão morrer de fome ou frio, cambio.
-     Tigre para Falcão Negro, voltando para base, cambio.
Observamos as luzes da lanterna se afastando, e isso nos fez respirar um pouco, até que a escuridão tomou conta de tudo novamente. Mas ficamos ali por muito tempo, não queríamos encontrar com os soldados, porque provavelmente nos matariam. Acho que ficamos ali por volta de umas três horas ou mais. Boris da uma idéia:
-     Vamos, eu e você para ver se podemos sair e se alguém mais conseguiu escapar.
-     Vamos então. – respondi.
E começamos sair da caverna bem de vagar com a maior cautela, até que conseguimos ver a luz do sol, e caminhamos para a saída, eu disse a Boris:
-     Vamos nos rastejar para que não sejamos surpreendidos.
-     Tudo bem.
E saímos rastejando bem devagar, e conseguimos olhar, e vimos os soldados indo embora, e muita fumaça, saindo do pé da montanha, e ouvimos voz que vem de lá de baixo, mas ficamos com medo e Boris diz:
-     Vamos voltar, ainda esta perigoso sairmos.
E nós voltamos, mas como esta escuro temos chamar os que ficaram:
-     Onde vocês estão? É o Bogdan. – chamei.
-     Estamos aqui. – responderam, ainda com uma voz de grande medo.
-     Não esta seguro, ainda para nós sairmos, temos que ficar aqui mais um pouco. – diz Boris.
-     Até quando vamos ficar aqui? Estou com medo, frio, fome e sede. – Diz um deles.
-     Calma, gente, temos que ter calma, melhor passar frio e sede do que morrermos. – respondi.
-     Vamos ficar aqui até o amanhecer, sei que vai ser difícil, mas não temos outra escolha. – diz Boris.
-     Vamos nos juntar, comecem a falar para acharmos uns aos outros, se ficarmos bem juntinhos um vai aquecer o outro. – Sugeri.
Todos se juntaram, para aquecer um ao outro, e quanto mais chegava a noite mais frio ficava. Lucas sentia muita dor, foi que tivemos maior cuidado e o aquecemos mais. Não conseguimos dormir, por causa da sede, fome e também por causa do medo, quando percebemos que havia amanhecido. Eu e Boris fomos de forma bem cautelosa, até que achamos a luz do dia e a saída da caverna, nos rastejamos até a saída, e não ouvimos mais ninguém. Mas infelizmente algo nos deixou mais tristes, Lucas não resistiu aos ferimentos, que eram muito grave e morreu.
Então saímos de forma bem atenta para não sermos pegos de surpresa, e realmente eles haviam ido embora, quando chegamos ao pé da montanha, a visão era desanimadora, eles havia fuzilado todos. Muitos morreram nos caminhões queimados. A sensação era de vontade de gritar, chorar, era uma sensação angustiante, ver todos os que você ama mortos e alguns de forma tão cruel. Tínhamos pela frente, pelo menos dar um enterro digno para eles.
Voltamos e chamamos todos para fora, eram doze meninos e oito meninas em torno de doze a dezesseis anos de idade, eu tinha quinze e Boris era o mais velho com dezesseis. Então, não deixamos as meninas descerem, e pegamos os meninos para as dura tarefa de enterrarmos os nossos mortos. Alguns não conseguiram fazer esta tarefa cruel, começaram a chorar e a ficarem desesperado, então decidimos que eles tinham que subir e ficar com as meninas. Sobraram eu, Boris e mais três meninos.
Achamos umas pás num dos caminhões e cavamos as covas ao pé da montanha, enterramos um a um, o mais difícil era quando havia algum familiar, o desespero era grande. Não deixamos nenhum sem um enterro descente, os que estavam no caminhão que tombou, nós desviramos com muito sacrifício e tiramos o que sobrou de cada um deles. Era uma imagem que nunca vou esquecer na minha vida, vou leva-las para sempre em minha memória, ainda tenho pesadelos com essas imagens, demoramos por volta de quase três dias para fazer todos os sepultamentos.
Contudo, o mais duro foi quando fomos ao caminhão das mulheres, ali estavam todas as mães e todas foram mortas ou pelo míssil que atingiu o caminhão ou pelos tiros dos soldados, foi um momento que não da para descrever, nos caminhões aquelas que morreram carbonizadas não dava para identificar, e isso foi mais desesperador, porque não sabíamos que eram as nossas mães, não podíamos dar uma ultima homenagem a elas. Então, destacamos um lugar especial para o sepultamento de todas as mães e demos os nome de “AMOR ETERNO”, lugar que sempre visitávamos quando sentíamos a falta delas, e para mim era mais importante, porque era a segunda mãe de forma trágica que eu perdia.
Nós também achamos os corpos de meu pai e do pai do Boris, seu Borislav, eles arrancaram as cabeças dos dois, e depois ficamos sabendo que as cabeças foram penduras na entrada da nossa vila como lembrete para todos do que acontece com quem desafia o governo.
Quando sepultamos o ultimo corpo, chamamos a todos e fizemos uma homenagem a todos que se dedicaram a dar uma vida melhor para todos nós, Boris me pede para dizer umas palavras:
-     A preocupação deles sempre foi coma a nossa segurança e nosso futuro, queriam que nós tivéssemos uma vida melhor que a deles, e sempre prezaram pela boa educação, a nos dar dignidade, queriam que fossemos os melhores homens e mulheres. Mesmo quando este país em guerra não desistiram de nos dar o melhor, por isso, proponho a todos que nos unimos para que o que eles desejaram para nós não morra com eles, vamos nos unir e fazer uma grande família, um ajudando o outro, para que não nos tornemos delinqüentes, mas si o que eles sempre sonharam homens e mulheres de bem.


Boris fez uma oração a Deus e saímos sem saber o que realmente fazer era um momento difícil que não sabíamos o que seria de cada um de nós. E ai que surgiu o grande desejo de se fazer a justiça. Eles tinham deixado nós vivermos para destruirmos o seu governo, isso se tornou a nossa obsessão, íamos fazer de tudo para nos justiça ocorresse, mesmo que isso demorasse alguns anos.
Como faríamos isso? Como conseguiríamos nos organizar? Como crianças e adolescentes enfrentariam um exercito? Na época não sabíamos, mas o desejo e a força de se fazer justiça nos ajudaria.

PRÓXIMO TEXTO:
MULHERES FRÁGEIS E FRACAS.


Biografia:
Tenho blogs: http://mulheresfortesodiario.blogspot.com.br/ http://forzadivanella.blogspot.com.br/ que também poderá ler meus textos.
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