Debruçada sobre as horas do tempo, mas sem contá-lo, fecho os olhos e me deixo navegar pelo silêncio de vozes. Me deixo flutuar para dentro de seis janelas do tempo, quatro delas de passeios pelo jardim, uma de campo de árvores.
Parei estática diante da sexta janela que encontrei. Era uma janela diferente das outras. Pedi ao guardião, o dono do jardim que janela era aquela.
Disse-me ele: - Essa é a janela "destruindo para construir". Até agora me pergunto o que queria esta janela dizer. Por não saber, não falei nada. Tive medo de dizer. Melhor dizer, sem dizer nada. E assim fiquei calada.
Mas agora fico pensando nesta janela do tempo. O que estaria sendo destruído? Fiquei até com medo que talvez o que estivesse sendo apagado seriam as minhas pegadas do passado. Fui procurá-las e onde andei, estavam lá. Mas foram tantas trilhas, que seria preciso voltar em cada uma delas. E nestas trilhas são tantas as janelas do tempo que levaria outros quatrocentos anos para trilhá-las.
E assim vai passando o meu dia. Olhando, olhando, pelas janelas do tempo. Precisarei hoje ainda, levantar um breve vôo, mas volto às janelas do tempo.
E já decidi, para tentar aplacar a saudade de minhas pegadas e das janelas do tempo, vou entrar numa delas e passear também pelas trilhas do jardim.
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