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O sumiço da galinha preferida
Vanderlei Antônio de Araújo


Quando se fala em contador de causo, vem-me logo à lembrança a figura de João Picapau, disse meu cunhado num dia desses. O João mora numa fazenda no sul do estado. Ele nunca perde a oportunidade de contar um causo, principalmente, quando tem muita gente ao redor. As pessoas gostam de ouvi-lo, mesmo sabendo que é mentira. Quem já trabalhou com ele é testemunha disso.
Depois de fazer esses comentários, meu cunhado continuou:
- O João conta uma história difícil de acreditar e o pior, diz que aconteceu na sua fazenda, e que ele viu acontecer. Tudo começou quando ele mandou fazer uma represa no riacho que corre no fundo do quintal de sua casa. A mulher comemorou. Ela gostava de criar cabras, galinhas e porcos. A represa seria boa para o trato dos animais.
A construção terminou numa quarta feira. Então, João mandou que enchessem a represa porque queria inaugurá-la no sábado com uma festa. Não deu outra: no dia marcado encheu a casa com os amigos e comemorou o feito até tarde da noite.
No dia seguinte, a mulher ao dar comida para os animais, notou que sua galinha preferida tinha desaparecido. Ficou muito preocupada e se queixou ao marido, mas ele deu pouca importância ao fato, respondendo sem muita convicção, que a galinha ia aparecer.
O sumiço da galinha, não saiu da cabeça da mulher, que durante algumas horas por dia, procurava a danada, exaustivamente por todos os cantos da fazenda, não encontrando nem sinal dela. Pensou até que alguma raposa tinha comido a pobre ou que algum vizinho podia ter levado a penosa no dia da festa.
Uma semana se passou e a galinha não apareceu. E pior, não havia sinal dela. Os dias passados completaram três semanas e nada da galinha voltar.
Domingo, depois de ter saboreado um bom pedaço de bolo de milho com manteiga, leite e café, João Picapau estava sentado na varanda da casa matutando, quando de repente, ouviu um barulho vindo da represa.
Sentiu que havia alguma coisa errada. Levantou a cabeça e notou estranhas borbulhas nas águas. Correu para a beira da barragem. Quando lá chegou, pensando que poderia ser algum bicho brabo, agachou-se e ficou espiando.
De súbito, viu surgir no meio das águas um pintinho que foi seguido por outros e mais outros, brotando de dentro das águas até completarem doze.
As pequeninas aves nadavam para sair da água. Sete nadaram rapidamente, chegando até a beirada da barragem; outras cinco ficaram rodando no meio da represa. João Picapau gritou a mulher para que ela visse com os próprios olhos o que estava acontecendo e continuou observando.
Com espanto, viu a galinha emergir das águas, nadar em busca dos filhotes, entusiasmada com o tamanho da sua ninhada, reunir todos a seu redor.
João nunca tinha visto nada igual. Ficou apreciando aquele espetáculo inusitado. Estava explicado o desaparecimento da galinha. Ela tinha sumido, para chocar debaixo d’água, seus doze pintinhos.


Biografia:
-
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Publicações de número 21 até 22 de um total de 22.


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