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OS SUTIÃS
Moacyr Medeiros Alves

--- Ocê vai saí... vai na cidade pagá conta?

--- Vô.

--- Intão compra sutiã pra mim. Compra dois. Os meu já tão véio.

--- Sutiã? De que cor?

--- Cor bem bunita, né. Ocê escóie. Num vai isquecê, Shiro!

--- Nom... Nom... Eu num isquece.

   Esse diálogo foi mantido por dona Myoko com seu marido Toshiro que, às segundas-feiras, costumava deixar os serviços do sítio para ir à cidade acertar compromissos.

   Antigamente Toshiro fazia a cavalo essa curta viagem de aproximadamente 20 quilômetros. Mas já há algum tempo decidira ir de ônibus. Era mais seguro e menos cansativo. E quando conseguia um lugar pra sentar, ele organizava mentalmente sua agenda de compromissos, examinando a papelada que levava numa pasta.

   Naquela segunda-feira ao chegar à sede do município Toshiro dirigiu-se primeiramente, como de costume, às agências bancárias com que mantinha negócios, para verificar se suas contas estavam em ordem ou se haviam pendências a resolver. Aproveitou para pagar duplicatas de sua responsabilidade que estavam prestes a vencer – o japonês não atrasava nem um dia seus compromissos --; verificou saldos de aplicações (pois ja-ponês que se preza sempre tem economias aplicadas); depositou a féria da semana anterior, obtida com a venda dos produtos da horta e do pomar que ele e seus familiares cultivavam para reforço da renda doméstica e, por último, cuidou dos demais assuntos pertinentes à sua atividade de lavrador: verificou os preços mínimos; foi à Casa da Lavoura perguntar se já tinham chegado as sementes selecionadas de milho híbrido, cuja época de plantio se avizinhava; foi ao Banco do Brasil saber se o PROAGRO tinha deferido a indenização de cobertura dos prejuízos da última lavoura de feijão, que frustrara.

   Agora, desobrigado dos compromissos mais importantes, trataria das amenidades; providências de somenos importância, mas que para ele passaram a ser tidas como obrigação: fazer sua “fézinha” no jogo de bicho; jogar na loteria esportiva; na quina; na mega-sena; na super-sena; na lotomania; na lotofácil; comprar bilhetes das loterias estadual e federal etc (pois japonês que se preza, também é louco por um joguinho), e ainda sobrar-lhe-ia tempo para tomar, com tranqüilidade “seu biro” bem geladinha. O ônibus de volta ao sítio só sairia às 17,30 e ainda não eram nem 16 horas.

   Foi quando Toshiro, procurando estabelecer uma ordem cronológica para executar estas últimas tarefas (a cervejinha, como sempre, ficaria por último, para ser tomada dentro da Rodoviária, no bar de seu patrício Saburo), lembrou-se dos sutiãs que a mulher encomendou e, para evitar a bronca que levaria da cara-metade caso esquecesse, achou de bom alvitre ir logo comprá-los.

   Assim intencionando, Toshiro entrou na primeira loja de artigos femininos que encontrou e foi logo dizendo à balconista que o atendeu:

-- Eu qué comprá dois sutiã bem bunito.

-- É para o senhor...?

-- Nom... nom... – ri... ri... – eu nom usa sutiã.

-- O senhor não esperou eu completar: é para o senhor presentear a namorada?

-- Nom, nom, zaponês num tem namorada. Zaponês tem muié. Muié de zapón muito bruaba.

-- Tudo bem, tudo bem... O senhor sabe o tamanho?

-- Tamanho de quê?

-- O tamanho do sutiã.

-- Mas sutiã não é tamanho único?

-- Não... as mulheres não têm todas o busto do mesmo tamanho.

-- Mas pé tamém num é iguar, e meia é tamanho único.

-- Tá bom japonês... tá bom... Mas com sutiã a medida é diferente. Vamos ver se chegamos a um acordo. O senhor conhece bem as frutas?

-- Craro. Eu pranta pomar no sítio.

-- Muito bem... Então ss seios de sua mulher são do tamanho de um mamão?

-- Ô... nom...nom... mamão muito grande, né.

-- Do tamanho de uma manga?

-- Nom... manga munto pontuda.

-- Do tamanho de uma laranja?

-- Nom... tamém nom... Laranja muito redondinha, né!

-- Tá difícil japonês... tá difícil! Seria, por acaso, do tamanho de um limão galego?

-- Tamém non... limon galego munto piquininho.]

-- Então seria do tamanho de um ovo... um ovo de galinha?

-- Garantido... Agora acertô, né. Sinhurita boa vendedora! Iguarzinho ovo de galinha, e fazendo com a mão esquerda uma concha, gesto com que tentava reproduzir o formato dos seios da mulher, Toshiro, para melhor orientar a balconista, completou:

-- Só que frito, né!



(OBSERVAÇÃO: Versão pessoal de uma antiga piada que ouvi quando morava na cidade de São Paulo)

































Biografia:
- Moacyr Medeiros Alves, o Moa, como gosta de ser chamado, nasceu em Agudos (SP) em 08/03/1936, já órfão de pai -- seu pai faleceu 6 meses antes de seu nascimento. Sua mãe, viúva com 5 filhos, mudou-se em princípios de 1.940 para a capital do estado, indo morar em habitações coletivas, os chamados cortiços, no bairro do "Bixiga", onde ele passou a infância. Em dezembro de 1.950 o Moa, que já trabalhava desde os 9 anos de idade, ingressou como "office-boy" na organização Philips, empresa holandesa do ramo eletrônico. Trabalhando de dia e estudando de noite, conseguiu, com sacrifício, concluir o curso técnico de contabilidade. Em 1.959, aprovado em concurso público, entrou para o quadro de escriturários do Banco do Brasil onde trabalhou até 1.982, aposentando-se como gerente-adjunto da agência de Itararé (SP). Grande apreciador do cancioneiro popular brasileiro, do período que abrange a denominada "Época de Ouro" de nossa música, tem em sua discoteca, entre LPs e CDs, obras de quase todos os cantores e instrumentistas do tempo em que -- como dizia o radialista Rubens de Moraes Saremento -- "as fábricas de pandeiro davam lucro". Além de escrever "abobrinhas", como ele próprio define seus escritos, o Moa tem ainda como "hobby" a leitura e a fotografia.
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