Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
A Mônada Quântica de Amit Goswami e o Problema do Tempo
Vitor Silva

Resumo:
O estudo do Modelo Geométrico do Espírito (MGE), definido pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade, pode ajudar o entendimento do complexo “mecanismo” do tempo, livrando-nos de paradoxos ontológicos.

O professor Amit Goswami no livro A Física da Alma, relata a experiência de um amigo seu, descrente em reencarnação, em que este conversou com dois monges budistas, um do século XI e outro do século XIII, que lhe pediram para desenvolver uma vida espiritual. Fato alegado pelo autor como sendo de vidas passadas, colocada entre aspas. Diz: “Então, eu intuí: e se deixarmos de lado algumas crenças periféricas sobre almas e coisas do gênero, e revisarmos as experiências reencarnatórias em termos de temas não locais que hoje repartimos com alguém do passado – como os fótons de Aspect, só que através do tempo? E então?” (Amit Goswami, “Física da Alma”, (2001), p. 70). Propondo a hipótese de correlação quântica baseada em troca de informações com o passado, o cientista alude ao parque temático não local (Plano Causal-Mental, na verdade, (MEEK, 1980)), sendo a origem da natureza criativa de coisas que não aconteceram, e, portanto, o “espaço” onde se deflagrou o tema da experiência significativa entre os monges budistas e o amigo do físico.

Goswami abre duas possibilidades: a de que seu amigo estivesse vivendo uma experiência de vidas passadas (sem afirmar de forma clara), e outra, uma espécie de “quadros temporais comunicantes”. Neste segundo caso, abre-se um paradoxo, mote deste escrito. Vamos acompanhar o diálogo do físico com sua esposa, no complexo capítulo três da obra, para tentarmos analisar.

“Agora suponha que esses caras [os monges] estivessem tendo uma experiência pré-cognitiva correlacionada não localmente com meu amigo. Esses caras do passado influenciariam não localmente o destino espiritual de Paul. Quando a consciência estava pondo em colapso possibilidades do evento correlacionado nesses caras do passado distante, a experiência de meu amigo no futuro também foi acertada, só que ficaria no limbo por alguns séculos.” (op. cit. p. 70).

Sua ideia é semelhante àquela apresentada pelo também físico Gerald Feinberg no Congresso Internacional de Física Quântica e Parapsicologia de 1974, em Genebra, para explicar a precognição (ZOHAR, 1997). Ambas são do tipo “memória ao contrário”. Mas enquanto Feinberg relata “ondas avançadas”, ondas eletromagnéticas que viajam para trás no tempo, baseando-se em alguns acertos simétricos no eletromagnetismo de Maxwell, Goswami aventa a possibilidade de que qualquer evento pode ser correlacionado no parque temático não local. Afora a natureza contra-intuitiva, própria das questões de Física Moderna, há outro componente insólito: a de que as duas realidades troquem informações entre si! Os monges do passado têm precognição do amigo de Goswami e o amigo de Goswami percebe por retrocognição os monges do passado, estabelecendo uma memória deles. A participação dos correlacionados se daria por um tema comum aos três: “aspiração espiritual não realizada”, fato deduzido pelo físico para estabelecer uma hierarquia entrelaçada.

“Há três autores - Z, T e E. Ora, acontece que Z existe apenas em um romance da autoria de T. Do mesmo modo, T existe apenas em um romance da autoria de E. E, estranhamente, E também existe apenas em um romance de autoria - da autoria de Z, evidentemente. Ora, este "triângulo de autoria" é realmente possível? Claro que é possível. Mas há um truque... Todos os três autores, Z, T e E, são, eles próprios, personagens de outro romance - de autoria de H! Você pode conceber o triângulo Z-T-E como uma volta estranha, ou uma hierarquia entrelaçada; mas o autor H está fora do espaço em que o entrelaçado ocorre - o autor H é um espaço inviolável. Embora Z, T, E tenha acesso - direto ou indireto - uns aos outros e possam fazer muitas diabruras entre si em seus vários romances, nenhum deles pode tocar a vida de H! Não podem sequer imaginá-lo - tanto quanto você não pode imaginar o autor de um livro do qual você é personagem. Se eu tivesse de retratar o autor H, eu o faria em algum lugar à margem da página. Naturalmente, isso colocaria um problema, uma vez que, ao retratar uma coisa, necessariamente ela está sendo trazida para a página... De qualquer maneira, H está mesmo fora do mundo de Z, T e E e deve ser representado dessa maneira.” (Douglas R. Hofstadter, “Gödel, Escher, Bach”, (2001), p. 756-757, edt: UNB).

Em Geometria a relação teria de ser representada de maneira triortogonal, sendo que as coordenadas dos dois primeiros monges estariam mais próximas. Cada uma das coordenadas representaria uma outra coordenada unitária x, y, z, t, rotacional, representando o espaço-tempo de cada um dos três observadores no instante da medição. A origem das três grandes coordenadas seria o H do exemplo de Hofstadter.

Esse conjunto abstrato CP (conjunto das probabilidades) deve incluir entre seus operadores, o princípio da incerteza de Heisenberg e a linha de mundo de Einstein. A QNL (quantidade de não localidade) se transforma em evento quando Paul (2), nove séculos no futuro (desprezamos o tempo em que o espírito estava desencarnado e o livre-arbítrio), no presente dele, faz a medição do tema, no que resulta em memória ou apenas um estado = 1. A QNL enquanto limbo na metáfora de Goswami, só pode ser medida por Paul em função do observador monge (1), ou ficará em sobreposição 0 e 1 e o princípio da incerteza continuará imperando na linha de mundo de sua personalidade, “borrando” a possibilidade de significar o tema, resultando sempre em 0.

Então para o monge, sua precognição também será uma sobreposição de 0 e 1 em função do observador Paul (2), e a única coisa que poderá fazer com o CP será correlacionar o tema “aspiração espiritual insatisfeita” à QNL (arquétipo) desse tema. Goswami pensou nisso, e colocou o CP em um nível inviolável tal que a QNL do monge e de Paul assumisse o valor de 1; os temas já estariam correlacionado como uma possibilidade dentro do CP. Mesmo que a percepção de um para o outro continue em sobreposição – o limbo, ainda existirá a onda de possibilidade passível de ser colapsada, tornando-se 1. Tal correlação entre (1) e (2) foi feita no parque temático não local, bastando a função de qualquer um deles ser posta em colapso, que ocorrerá o mesmo com a função do outro.

Segundo o pensamento de Goswami, quando há o colapso, esse assume coincidência não causal; a QNL pode ser “disparada” independentemente do espaço-tempo dos observadores. Então QNL escapa da Relatividade como CQT (“correlação de quadros temporais”), pois os dois eventos se tornam mutuamente significativos, para um é precognição, para o outro, memória. A acausalidade do colapso é embasada na hierarquia entrelaçada, o nível inviolável onde é impossível saber qual observador gerou o colapso; o H do exemplo de Hofstadter.

Segundo podemos depreender do capítulo três da obra, a interação entre os observadores se torna acausal baseado na sincronicidade significativa correlacionada numa QNL que é contida em um nível inviolável, CP. O maior problema é: o monge do século XI existe ao mesmo tempo em que Paul existe, ou não?

APRESENTAÇÃO DO CONTRA-ARGUMENTO

Este caso de A Física da Alma se vale dos “quadros temporais” interpretados da frase de Einstein quando do falecimento de seu grande amigo Michelangelo Besso, “para nós, físicos convictos a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, por mais persistente que seja” (GOSWAMI, op. cit. p. 72). A interpretação de Goswami escapa do chamado “colapso da causalidade”, visto que os dois eventos só existem depois que os temas são correlacionados pela significação. Mesmo assim, é estranho que o monge não só correlacione o tema arquetípico comum, mas perceba Paul precognitivamente e ainda lhe envie uma mensagem. Se os dois monges não forem o próprio Paul ou recordações do mesmo, mas uma informação direta do passado por outros seres, o problema se complica.

Existe outro argumento eternalista que também procura escapar do “colapso da causalidade”, e de igual forma baseia-se na existência do Espírito: é o que utiliza seres alienígenas como referencial. Segundo os defensores dessa ideia, os alienígenas somos nós, vindos do futuro. A tese é que se os alienígenas não se apresentam de acordo com as exigências da Ciência positiva, é por causa da não interferência nos destinos humanos (aí as chamadas hordas do futuro, negadas pela lógica de Hawking, parecem existir). Poderíamos argumentar que uma mínima mudança no estado inicial (Teoria do Caos) pode provocar uma grande mudança ao longo do tempo. Assim, o nosso “eu-alienígena-futuro” teria que cair no modelo de universo paralelo, ou seja, os diferentes “eus” no tempo não poderiam saber uns dos outros. Caso soubessem e trocassem alguma informação, haveria mudança no ser do passado, afetando o ser do futuro, isto é, teríamos novamente um colapso da causalidade. Caso não haja troca de informação do ser futuro com o ser presente, pelo ser futuro intencionalmente não querer colapsar sua própria causalidade, não há nada que impeça de vivermos no futuro e no passado (presente), como a frase de Einstein parece sugerir. Será?

HIPÓTESES QUE O MODELO GEOMÉTRICO DO ESPÍRITO PARECE PERMITIR

(I) O momento espaço-tempo é igual ao instante da percepção.

(II) A última secção do hipervolume do Espírito está estruturada no momento espaço-tempo em que o ser mensura sua realidade, tal é o limite de sua estrutura, sua localização.

(III) O fato da estrutura espaço-tempo possuir limite no momento da mensuração pela percepção faz com que diferentes linhas de mundo com que o Espírito tenha tomado contato, sejam subespaços do hipervolume, hiperfiguras em estado quântico de coerência e descoerência de memórias (os quadros temporais) pela ação dos perceptons (partículas da percepção-memória). Constituindo sua densidade de informação mnemônica.

(IV) Caso não tenha tomado contato com tais linhas, e a percepção meça que o século XI pertence ao passado, os seres desse ano, no momento da mensuração pela percepção do instante dado, possuem igualmente o passado como memória, embora suas ondas quânticas do século XI possam estar espalhadas, sendo passível seu colapso por um paranormal (caso em que a função de onda não é somente uma entidade matemática, mas uma realidade). Exclui-se aqui tão-somente a possibilidade de um Espírito possuir múltiplos MOB´s animando múltiplos tempos, ou seja, o instante perceptivo de Paul se estrutura baseado no último ponto de mínima ação autoconsciente que diretamente irá determinar a localização do MOB do monge como tendo a última camada já não mais no século XI. Caso não aceitemos o colapso de onda por seres desencarnados (caso da psicoplastia que os projetores observam, parece atestar), o monge poderia mesmo estar lá.

(V) Na troca de informação com o Causal-Mental, o eixo das coordenadas ainda será o tipo de percepção espaço-tempo comum do participador, seu modo de tensão no continuum. Tal fato é constatado por causa do referencial da intuição temporal que sempre se baseia onde a percepção mais se localiza. Aos que percebem esse plano, tal sensação temporal inexiste se comparada ao tempo experimentado pelo corpo físico. A troca de informações com níveis elevados de Espiritualidade, logicamente, é uma troca com seres de estrutura complexa de tempo, implicando o futuro quando avaliado dentro dos nossos referenciais. Mas não quer dizer que já estejamos estruturalmente localizados naquela condição.

Conclusão

O estudo do Modelo Geométrico do Espírito (MGE), definido pelo Dr. Hernani Guimarães Andrade, pode ajudar o entendimento do complexo “mecanismo” do tempo, livrando-nos de paradoxos ontológicos.

Sem levarmos em conta a densidade de informação da estrutura tetradimensional circuitada pelo biomagnetismo, para ficarmos por aí, difícil se torna relacionar certas propriedades da memória quântica do Idealismo Monista à solução dos problemas almejados. O Dr. Goswami reconhece a dificuldade da não localidade para solucionar alguns enigmas. A escolha de um exemplo seu foi devido a minha admiração pelo belíssimo e corajoso trabalho que ele vem desenvolvendo.

Bibliografia

ANDRADE, H. G. Espírito, Perispírito e Alma. São Paulo: Pensamento, 1984.

GOSWAMI, A. A Física da Alma. São Paulo: Aleph, 2005.

HOFSTADTER, D. R. Gödel, Escher e Bach. Brasília: UNB, 2001.

MEEK, G. W. O que nos espera depois da morte? Rio de Janeiro: Record, 1980.

WOLF, A. & TOBEN, B. Espaço-Tempo e Além. São Paulo: Cultrix, 2006.

ZOHAR, D. Através da Barreira do Tempo. São Paulo: Pensamento, 1997.


Biografia:
-
Número de vezes que este texto foi lido: 52909


Outros títulos do mesmo autor

Artigos A Mônada Quântica de Amit Goswami e o Problema do Tempo Vitor Silva
Artigos O Significado da Vida Vitor Silva


Publicações de número 1 até 2 de um total de 2.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68975 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57896 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56718 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55794 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55050 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54972 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54850 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54842 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54743 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54713 Visitas

Páginas: Próxima Última