Posso, meu amigo, com orgulho lhe dizer
Que eu acumulei os arrependimentos certos
Por todas as coisas que deixei de fazer
E por estes sentimentos que deixei cobertos.
São fantasmas que não me permitem esquecer,
Esses alçapões de meu passado jazem abertos.
Os arrependimentos certos destes anos
De lamúrias fundas e dores latentes
São por vezes pensamentos tão profanos
Quantos tuas palavras eloqüentes,
E são por tal incursores ciganos
Das emoções que deixaste ausentes.
E de todas as coisas que nunca fiz
(Embora veja sim que devia ter feito)
Talvez aquela que acima de todas quis
Era aqui ter-te junto ao meu peito,
Minha eternamente enamorada flor-de-lis,
Que deixo serena pousada em meu leito.
Desistir de ti foi meu maior arrependimento,
Ainda que de todos eles o mais certo.
E mesmo que a mim seja ele tormento,
Para sempre quero tê-lo aqui por perto
Pois é na funda angústia desse momento
Que devoto a ti, amor meu, um coração deserto.
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