Quando éramos crianças gostávamos de caçar pássaros silvestres, fazíamos armadilhas e também me lembro muito bem da gaiola, que tinha anexo um alçapão, que servia de armadilha, os pássaros eram atraídos e caiam no alçapão, ficavam assim presos. Eram coisas de crianças, mas faz pouco tempo que me lembrei dos velhos tempos de criança e então uma luz brilhou na minha mente. Hoje na verdade muitas pessoas têm uma mente tipo alçapão, que após receber uma ideia, se fecha completamente, e não permite que outras ideias sejam aceitas. Vejamos alguns exemplos clássicos: os adeptos das seitas em geral. Uma vez que eles recebem a suposta verdade, não admitem qualquer possibilidade da verdade estar em outro lugar. A mente se fecha e aprisiona o erro, e não permite ver que a possibilidade da verdade está voando fora.
Mas não é somente isso, na verdade muitos cristãos sofrem dessa terrível síndrome da mente alçapão. Eu tenho experiências próprias. Vejamos por exemplo, um mais recente. Quando me desliguei de minha denominação e me filiei em uma outra denominação mais conservadora e que transmitia no corpo doutrinário minhas convicções, muitos ditos “crentes’ achavam que eu tinha me desviado ou saído da “igreja”; a mente alçapão desses “crentes” aprisionou a idéia de que uma denominação seria a única igreja verdadeira e que não há possibilidade de salvação em outros ministérios. Outro dia ouvi um desses obreiros que na frente do púlpito argumentavam com orgulho que nunca colocaram o pé em outra igreja, nunca entraram em um templo de outro ministério. A mente alçapão aprisiona a falsa e herética ideia de que visitar irmãos de outras denominações ou participar de um culto em outra igreja, é uma profanação sem medidas. Na verdade a mente alçapão é uma síndrome que infesta a comunidade evangélica geral, para os calvinistas extremos é inconcebível a salvação de um arminiano, para um pentecostal fanático é inconcebível a salvação de um tradicional, e vice versa!
Há os que se aprisionam nos templos, nas quatro paredes de uma denominação e se não bastasse isso, limitam a mente a conceber uma ideia única e na maior parte das vezes antibíblica.
Os que sofrem da mente alçapão, admitem coisas absurdas e insustentáveis como a “salvação só está na minha denominação” ou “jamais vou colocar meus pés num templo de outra denominação” ou “jamais vou participar de uma reunião fora da minha denominação”. Você vê isso em toda parte, essa síndrome é uma devastação na comunidade evangélica. Outro dia ouvi um insensato afirmar descabidamente que se a sua igreja não tiver boa nenhuma outra está! Mas o fato é que ele nunca conheceu outro ministério e não entende nada mais do que acontece em sua comunidade. Esse é o resultado da síndrome da mente alçapão.
No campo doutrinário ocorre isso, achamos que a ideia teológica que nos foi transmitida é a verdade absoluta e por isso não nos esforçamos para ir além e abrir a nossa mente para verificar a possibilidade de estarmos errados ou não. Não vamos além, a ideia e o ensino inculcado na nossa mente está aprisionada num campo extremamente hermético que é a nossa mente. Não abrimos a mente para a possibilidade, não raciocinamos além do circuito fechado daquilo que foi imposto a nossa mente. JESUS nos ensinou a raciocinar, e não a fechar a nossa mente, ele nos incentiva ao cálculo, ao exame, a verificação. Em Lucas 14:25 a 35 há um exemplo claro, em outra parte Jesus mandou os cristãos a examinarem as escrituras e ainda Paulo exortou: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” (2Co 13:5) e ainda “Examinai tudo. Retende o bem.” (1Ts 5:21).
Os bereanos em Atos 17:11, não tinham a síndrome da mente alçapão, eles estavam abertos a possibilidade de Paulo errar, examinavam as Escrituras para ver se realmente era assim. Há muitos conceitos, ideias e doutrinas que podem estar errados, temos de avaliar, estudar a possibilidade de estarmos errado em algum conceito ou opinião. A inflexibilidade com relação a opiniões pessoais tem sido um dos fatores mais favoráveis a divisões e pelejas na comunidade cristã.
Eu tenho observado e tenho enfrentado muito desse tipo de coisas, pessoas que estão aprisionadas em opiniões de pessoas, inflexíveis diante dos fatos bíblicos quando se apresenta como prova de seus erros, mas a mente hermética, que prende a opinião errada, não admite a entrada de evidências. Esse fenômeno tem sido comum até mesmo entre os ditos acadêmicos, fervorosos defensores da teoria da evolução, não admitem qualquer possibilidade da existência de um criador, a ideia de um DEUS não é permitida a sua entrada na mente de um ateu que aprisiona a sua mente, ou a doutrina da divindade de CRISTO é inconcebível para um Testemunha de Jeová que fechou a sua mente para a entrada dessa ideia, acontece que se uma ideia, uma teoria ou uma doutrina não entra na nossa mente, ela é impossível de ser avaliada, o que é inadmissível por preconceito programado, não terá efeito de verificação equilibrada na nossa mente.
Assim vimos como muitos ditos cristãos, estão apenas vivendo ideias aprisionadas, e fazem disso seu conjunto de verdade, os resultados desse condicionamento que eu chamo de auto-aprisionamento mental, é em muitos casos terrível do ponto de vista eterno. Aliás, todos os que sofrem da síndrome da mente alçapão tendem a ser intolerantes. Vimos esses vestígios em alguns reformadores, acabaram aprisionando ideias doutrinárias como verdades absolutas, e não admitiram a possibilidade de estarem errados. Acho que um antitrinitário, apenas para citar um exemplo, não deve ser vítima de intolerância de um trinitário, podemos discordar com respeito, aliás, respeitando a posição alheia, mesmo diante das evidências a nosso favor. Respeito sempre é o resultado de uma mente iluminada, intolerância sempre será o resultado de uma mente encarcerada. Estejamos atentos a esse fato e vamos abrir a nossa mente para todas as verdades descritas na Bíblia, ainda que em alguns casos ela pareça um pouco diferente do que aprendemos em nossa denominação.
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