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Aquele dia!
Hugo Duarte

Acordou, era mais um dia na vida dele, nada mais que isso, todos os dias acordava, todos os dias saia da cama, fazia a sua higiene pessoal, vestia-se, saia de casa, entrava no carro, parava no café para comer a sua sandes e beber o seu café, voltava ao carro, seguia até ao trabalho, estacionava ao chegar, quase sempre no mesmo lugar, cumprimentava o porteiro do edifício, apanhava o elevador com mais meia dúzia de colegas, picava o cartão de entrada, e sentava-se a trabalhar, era todas as manhas assim até chegar a hora de almoçar…

As tardes pouco variava na sua génese, também elas eram iguais, voltando do almoço, voltava a sentar-se e a trabalhar, sempre no seu computador, sempre com os telefonemas do costume, sempre igual, dia após dia, e já por alguns anos, chegava a hora de sair, ele saia, entrava no carro, a caminho de casa parava para beber um café, continuava até casa, estacionava na garagem, não falava com mais ninguém, entrava em casa e ia de imediato tomar banho, vestia o pijama e fazia o jantar, jantava num piscar de olhos e sentava-se a ver televisão na cama, normalmente até as tantas, até ter sono, quando este aparecia desligava, aninhava-se e dormia, dormia sempre bem, sem parar até o despertador voltar a tocar, e acordava para mais um dia, igual a todos os outros, aos que já a anos eram iguais!

Mas chegou o dia que ia ser diferente, que acordou com um sentimento de que algo estava errado, que algo tinha de mudar, que nada fazia sentido e que já não vivia, era só mais um num mundo podre e com uma vida solitária e miserável, não podia continuar assim, tinha de fazer algo, tinha de ser diferente do que era até então, foi como se algo ou alguém lhe tivesse batido durante a noite e o tivesse feito ver que estava a perder tempo, que estava a morrer aos poucos, que quando chegasse esse dia ia perceber que não era nada nem ninguém.

Levantou-se e desde logo quis mudar, não se lavou, vestiu a mesma roupa do dia anterior, saiu de casa, mas foi a pé, não comeu, não foi trabalhar, falou a todas as pessoas que por ele passaram na rua, sem pudor, disse tudo o que quis dizer, disse tudo o que sentia, riu-se, riu-se muito, com os que passavam, sozinho, para dentro e para fora, sentiu-se bem, almoçou, com tempo, afinal de contas tudo ia ser diferente naquele dia e tinha todo o tempo do mundo, não se preocupou, não quis saber, viveu aquela manhã e aquela tarde como se fossem as ultimas da sua vida, pensou em tudo e não pensou em nada, não quis morrer sem saber o que era a vida se fosse vivida de forma diferente, gostou, gostou muito e aproveitou ao máximo.

Era tarde, não quis ir para casa, não quis tomar banho, não quis fazer o jantar, não quis ver televisão na cama, quis ficar por ali, na rua, a ver as pessoas, a ver as luzes, os sons, o ambiente noturno que o rodeava e que lhe era estranho, bebeu, aproveitou aquela noite, mais uma vez como se da ultima se tratasse, nada o demovia de tornar aquele dia um dia diferente, tinha de ser diferente, foi com essa intuição que ele acordou, voltou para casa, já tarde, muito tarde e a caminho algo de súbito aconteceu, parou, viu, ouviu, sentiu, tudo o que tinha presenciado nesse mesmo dia e apercebeu-se que perdeu anos da sua vida, mas que aquele dia tinha valido por todos esses dias e anos perdidos, o coração bateu lentamente, cada vez mais lento, mais e mais até parar, parou e ele caiu, caiu com um sorriso nos lábios, e quem o viu e conheceu naquele dia ficou com a ideia que ele viveu, viveu feliz…


Biografia:
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Contos Aquele dia! Hugo Duarte


Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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